Parentes dizem que mortos na Cidade de Deus, Rio, tinham tiros na nuca

Vimos todos de bruços com tiro na nuca, diz pastor Leonardo, pai de vítima. Corpos foram identificados no IML nesta 2ª e famílias falam em ‘chacina’.

Por Fernanda Rouvenat Do G1

Os familiares dos mortos na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, chegaram por volta das 9h desta segunda-feira (21) ao Instituto Médico Legal (IML) para identificar os corpos dos sete mortos na comunidade no fim de semana e disseram que seus parentes teriam sido vítimas de execução.

De mãos dadas na porta do IML, eles pediam por Justiça. Os corpos foram encontrados ao fim de uma operação no domingo (20), um dia após a queda de um helicóptero da Polícia Militar. Eles dizem ainda que tentaram chegar ao local onde estavam as vítimas e que foram recebidos a tiros pela polícia.

De acordo com a Divisão de Homicídios, os sete corpos tinham muitas marcas de tiros em várias partes do corpo, como pescoço, costas, peito e braços. Ainda de acordo com a polícia, os corpos estavam em locais diversos dentro da mata e, quando a perícia da Divisão de Homicídios chegou ao local, os parentes já tinham removido os corpos.

A polícia afirma ainda que as mortes podem não estar ligadas com os confrontos com a polícia. Segundo o delegado Fabio Cardoso, titular da Divisão de Homicídios da Capital, há um possível conflito entre as comunidades Cidade de Deus e Gardênia Azul, mas isso também está sendo investigado. O delegado também afirmou que já ouviu alguns parentes para entender melhor a dinâmica do fato.

“Dos sete, alguns deles tem passagem por tráfico de drogas. Os demais, nós estamos investigando a possível relação com o tráfico de drogas e outros tipos de crime”, disse o delegado Fábio Cardoso.

Os corpos foram encontrados em uma região conhecida como Brejo. “Quando chegamos lá dentro, vimos quatro corpos, todos de bruços. Todos eles com tiro na nuca”, diz pastor Leonardo Martins da Silva, pai de uma das vítimas.

De acordo com Simone Carvalho, viúva de Rogério Alberto de Carvalho, os corpos tinham também marcas de facada e até membros arrancados. “Pra a gente eles foram executados. Eles estavam na rua. A gente só ouvia tiro, muito tiro. Foram 12 horas de tiros. A cidade de deus parou. A gente só quer justiça”.

Os parentes também contaram ao G1 que alguns dos jovens tiveram seus pertences levados e roupas trocadas. “Ele saiu com uma roupa e encontramos ele com outra roupa. Botaram outra roupa nele. Ele tava sem nada. Ele tinha telefone, ele tinha outra roupa”, disse Gisele, tia de Enzo.

Segundo Viviane, esposa de Rogerio, além dos tiros na nuca, ele também teve a perna arrancada e o corpo tinha marcas de facadas. “Meu esposo foi executado com dois tiros na nuca, à queima roupa. Arrancaram a perna do meu esposo. Acabaram com meu esposo e saquearam ele. Levaram cordão, levaram aliança, levaram tudo”, disse Viviane.

Para Rogerio, pai de Renan, os rapazes não mereciam ter morrido de tal maneira, “independente da vida que eles levavam”.

“Infelizmente, todo mundo diz ‘vagabundo’. Não é só vagabundo que mora na comunidade. Independente da vida que eles levavam, eles não mereciam morrer do jeito que eles morreram. O meu filho morreu com um tiro nas costas, então meu filho foi assassinado, independente de qualquer coisa”, disse Rogério, pai de Renan.

A prima de um dos mortos, Jennifer, disse ao G1 que há muitas postagens na internet  relatando que “7 mortos foi pouco”. “Tem mãe sofrendo. Pensa na dor da família. Isso não se faz, independente deles estarem fazendo coisa errada ou não. Ninguém cria um filho pra ser bandido. A minha tia estava lendo isso. Ela é mãe. Isso é desumano”, disse Jennifer.

Ainda no domingo, à tarde, a Delegacia de Homicídios da Polícia Civil foi acionada e foi para a comunidade após moradores encontrarem sete corpos numa zona de mata da região.

As vítimas foram identificadas como Leonardo Camilo da Silva, 30 anos, Rogério Alberto de Carvalho Júnior, 34 anos, Marlon César Jesus de Araújo, 22 anos, Robert Souza dos Anjos, 24 anos, Renan da Silva Monteiro, 20 anos, Leonardo Martins da Silva Júnior, 22 anos e de um adolescente de 17 anos.

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