PMs presos após pai de vítima investigar execução são julgados

Pai investigou morte de filho e amigo e descobriu que PMs haviam simulado tiroteio para encobrir execuções. Quatro dos cinco PMs réus no processo pelos crimes começarão a ser julgados nesta segunda-feira (26/01)

por  no Ponte

Acusados de montar uma farsa para tentar encobrir as execuções do tecelão Cesar Dias de Oliveira e do repositor Ricardo Tavares da Silva, ambos de 20 anos, em julho de 2012, quatro dos cincos policiais militares acusados pelos crimes serão julgados nesta segunda-feira (26/01) e terça-feira (27/01).

A partir das 10h desta segunda, Cringer Ferreira Prota, Denis da Costa Martins, Marcelo Oliveira de Jesus e Raphael de Arruda Bom sentarão no banco dos réus do 5° Tribunal do Júri, no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

As execuções de Oliveira e de Silva, dois jovens sem nenhum envolvimento anterior com a polícia, só não foram arquivadas como mais um caso de “resistência à prisão seguida de morte” ou “morte sob intervenção policial” graças ao esforço do funcionário público Daniel Eustáquio de Oliveira, pai de Cesar.

Foi Daniel Eustáquio quem, por conta própria, investigou a suposta “resistência à prisão” do filho e do amigo e localizou cinco testemunhas que desmontaram a versão dos PMs responsáveis pelas execuções dos jovens.

De acordo com as testemunhas localizadas por Daniel Eustáquio, os dois jovens foram baleados uma vez cada um pelos PMs quando estavam trafegando na moto de Oliveira. Ambos voltavam de uma sessão de tatuagem e, naquela madrugada de 1º de julho, estavam no bairro do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo.

Quando chegaram ao hospital, levados pelos mesmos PMs que haviam atirado contra eles, Oliveira tinha cinco tiros no corpo, Silva, três. Os PMs envolvidos no crime eram da Força Tática (suposto grupo especial) do 14º Batalhão da PM, na cidade de Osasco, na Grande São Paulo, e estavam fora da sua área de atuação quando executaram os jovens.

Apesar de estarem praticamente ao lado do HU (Hospital Universitário), na USP (Universidade de São Paulo), os PMs levaram Oliveira e Silva para um hospital em Osasco, distante 12 km do local onde ambos foram baleados.

Ainda segundo as testemunhas localizadas por Daniel Estáquio, quando chegou ao Rio Pequeno, o tenente Rafael Salviano Silveira mandou que seus subordinados “limpassem” a cena do crime, atirou para o alto e, pelo rádio do carro da PM, disse para a central da PM que estava no meio de um tiroteio.

Uma das cinco testemunhas relatou à Polícia Civil que Silveira também esbravejou com seus subordinados: “Vocês fizeram uma merda e agora terão de corrigir”

Os quatro réus que começarão a ser julgados estão presos no Presídio Militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé, zona norte de São Paulo. O tenente Silveira, que posou como herói em um evento da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, em maio de 2008, está em liberdade.

Tenente foi apontado como exemplar pela Segurança Pública

O tenente Silveira, aprovado em primeiro lugar no vestibular da Fuvest de 2007 que selecionou 150 alunos para a Academia do Barro Branco, que forma os oficiais da PM paulista, será julgado em outra data porque ele recorreu da pronúncia e o processo foi desmembrado.

À época do evento oficial da Segurança Pública, Silveira tirou foto ao lado do então secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, recebeu como honraria um espadim que, na filosofia da PM, representa a Justiça e o patriotismo e também foi personagem de uma reportagem da assessoria de imprensa da pasta. Tudo por sua colocação no vestibular da Fuvest.

Outro lado

Os advogados Daniel Leon Bialski e Patricia M. Uzum, defensores do tenente Silveira, não foram localizados pela reportagem.

O mesmo aconteceu com Celso Machado Vendramini, advogado dos PMs Cringer Ferreira Prota, Denis da Costa Martins, Marcelo Oliveira de Jesus e Raphael de Arruda Bom.

Assista ao documentário “Quando Eu Me Chamar Saudade”. Filme aborda a luta de Daniel Eustáquio por Justiça:

Documentário vencedor do EXPOCOM Sudeste 2014 na categoria “Produção Laboratorial de Videojornalismo e Telejornalismo”.

Este documentário foi produzido originalmente como trabalho de conclusão do curso de jornalismo, pela Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM).

Lançamento: Dezembro de 2013.

Autores:
Renan Xavier
Lailson Nascimento
Daniel Santos

Duração: 24 min. 34 seg.

+ sobre o tema

Polícia que mata muito demonstra incompetência de governos de SP, RJ e BA

Ninguém em sã consciência espera que um policial lance...

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

Eu, mulher negra…

EU, MULHER NEGRA…Eu, mulher negra…Tenho orgulho de quem sou...

para lembrar

Não votar em Bolsonaro: para os negros uma questão de amor próprio

A fala do capitão Jair Bolsonaro, candidato do PSL,...

Publicidade, falsos ideais e os muros que precisamos derrubar

No palco iluminado da publicidade, as marcas não podem...

Decisão do STF abate o racismo religioso

Quem vocifera contra cultos de matriz africana busca ditar...

O grande anjo negro: Sterling é capa de revista masculina e discute o racismo no futebol

Atacante do Manchester City também fala sobre importância de...
spot_imgspot_img

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Militares viram no movimento negro afronta à ideologia racial da ditadura

Documento confidencial, 20 de setembro de 1978. O assunto no cabeçalho: "Núcleo Negro Socialista - Atividades de Carlos Alberto de Medeiros." A tal organização,...

Negros são maioria entre presos por tráfico de drogas em rondas policiais, diz Ipea

Nota do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que negros são mais alvos de prisões por tráfico de drogas em caso flagrantes feitos...
-+=