Por que os negros não comemoram o 13 de maio, dia da abolição da escravatura?

Enviado por / FonteDo iG

A Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil, foi assinada em 13 de maio de 1888. A data, no entanto, não é comemorada pelo movimento negro. A razão é o tratamento dispensado aos que se tornaram ex-escravos no País. “Naquele momento, faltou criar as condições para que a população negra pudesse ter um tipo de inserção mais digna na sociedade”, disse Luiza Bairros, ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Após o fim da escravidão, de acordo com o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), em sua obra “A integração do negro na sociedade de classes”, de 1964, as classes dominantes não contribuíram para a inserção dos ex-escravos no novo formato de trabalho.

“Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho”, diz o texto.

De acordo com a Bairros, houve, então, um debate sobre a necessidade de prover algum recurso à população recém-saída da condição de escrava. Esse recurso, que seria o acesso à terra, importante para que as famílias iniciassem uma nova vida, não foi concedido aos negros. Mesmo o já precário espaço no mercado de trabalho que era ocupado por essa população passou a ser destinado a trabalhadores brancos ou estrangeiros, conforme Luiza Bairros.

Integrante da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Alexandre Braga explica que “O 13 de maio entrou para o calendário da história do país, então não tem como negar o fato. Agora, para o movimento negro, essa data é algo a ser reelaborado, porque houve uma abolição formal, mas os negros continuaram excluídos do processo social”.

Leia Também: 

“Essa data é, desde o início dos anos 80, considerada pelo movimento negro como um dia nacional de luta contra o racismo. Exatamente para chamar atenção da sociedade para mostrar que a abolição legal da escravidão não garantiu condições reais de participação na sociedade para a população negra no Brasil”, completou a ex-ministra.

Ela defende, porém, que as mudanças nesse cenário de exclusão e discriminação estão acontecendo. “Nos últimos anos, o governo adotou um conjuntos de políticas sociais que, aliadas à política de valorização do salário mínimo, criou condições de aumento da renda na população negra”.

Inclusão do negro ainda é meta

 Apesar dessas políticas, tanto a ex-ministra quanto Braga entendem que ainda há muito por fazer.

O representante da Unegro cita algumas das expressões do racismo e da desigualdade, no país: “No Congresso, menos de 9% dos parlamentares são negros, enquanto que a população que se declara negra, no Brasil, chega a 51%. Estamos vendo também manifestações de racismo nos esportes, principalmente no futebol. Ainda temos muito a caminhar”.

“Ainda estamos tentando recuperar a forma traumática como essa abolição aconteceu, deixando a população negra à sua própria sorte. Como os negros partiram de um patamar muito baixo, teremos que acelerar esse processo com ações afirmativas, para que possamos sentir uma diminuição mais significativa das desigualdades”, explicou Bairros.

Leia também 

13 de Maio, uma data que nos jogou ao léu

 

+ sobre o tema

John Gabriel Stedman e um escravo, após a captura da aldeia de Gado Saby

John Gabriel Stedman e um escravo, após a captura...

Heroísmo e discriminação: No passado, as duas faces do militarismo

Embora a história ao longo dos tempos nos tenha...

Escravidão, liberdade e racialização no Amazonas Imperial

por Padre Daniel Pedro Marques de Oliveira A história de africanos...

Brasil, um país africano – professor Luiz Felipe de Alencastro

O Instituto Lula publica hoje uma série de seis...

para lembrar

Treze de maio de 2013 – por Urariano Mota

No café da manhã, minha mulher lembrou que ontem...

13 de maio de 1888 – 132 anos de Abolição: Homenagem a um grande abolicionista

Para mim, André Pinto Rebouças, negro baiano nascido em...

13 de Maio – Os Contra a abolição

O domingo da vitória no Senado Proposta foi aprovada ontem,...

Migrações negras no pós-abolição do sudeste cafeeiro (1888-1940)

O presente artigo tem por objetivo analisar o processo...
spot_imgspot_img

João Cândido e o silêncio da escola

João Cândido, o Almirante Negro, é um herói brasileiro. Nasceu no dia 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul....

Liberdade e trabalho digno: nunca foi só sobre alforria

E se a escravidão ainda fosse legalmente autorizada? E se o cotidiano de trabalhadores/as permanecesse orientado pela possibilidade de prisão caso essas pessoas não...

Consciência Negra: conheça nomes que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil

Neste domingo (20/11) é comemorado o Dia da Consciência Negra. A data, que surgiu como uma forma de refletir sobre o valor e contribuição da...
-+=