“Por que são tão poucas?: um estado da arte dos estudos em “Engenharia e genero”

POR QUE TÃO POUCAS MULHERES? ESSA É UMA QUESTÃO RECORRENTE QUANDO SE trata da engenharia como campo de trabalho ou de estudos. A pergunta tem sido feita em diferentes fóruns, desde os órgãos de imprensa da categoria profissional, pesquisadores(as), até os(as) próprios(as) engenheiros(as).

por Maria Rosa Lombardi no FCC

Igualmente, várias ra-zões têm sido invocadas para explicar a pequena presença das mulheres na engenha-ria. Algumas se reportam a limitações impostas pela profissão, como, por exemplo, sua origem militar, as condições de trabalho adversas encontradas pelos profissio-nais em algumas especialidades, o comando de equipes masculinas; outras localizam o problema numa incompatibilidade entre a engenharia e uma dada concepção de feminino, avessa às matemáticas, à racionalidade e à objetividade, não predisposta à competição, imagens de gênero atribuídas à engenharia e ao masculino.

Fato é que, em nível mundial e nacional, estudos continuam sendo feitos para expli-car por que tão poucas mulheres se dedicam à engenharia. No Brasil, em 2013, entre as 544 mil pessoas que se autoclassificaram como engenheiros na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16,7% ou cerca de 90 mil eram mulheres. No mercado formal de trabalho, a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) computava, em 2014, 251 mil postos de trabalho para engenheiros, sendo cer-ca de 45 mil, ou 18%, para engenheiras. Mesmo que essa proporção tenha aumentado quando comparada às de 2009 (15,8%) e 2004 (14%), em outras profissões, o ingresso das mulheres é um processo consolidado há mais tempo: em 2009, as mulheres deti-nham 42% dos empregos para médicos e 50% para advogados.

Nos cursos de graduação em engenharia, também vêm crescendo as matrículas fe-mininas: correspondiam a 20% do total em 2005; giravam em torno de ¼ em 2010; e chegaram a 38% em 2013 (USP, 2012, 2013).

Isto é, a “feminilização” (YANNOULAS, 2011), entendida como o aumento do número de mulheres em cursos de graduação em engenharia, é um processo contínuo e regular, mas mais lento do que o que vem ocorrendo em outras profissões que, outrora, foram de tradição masculina.

Essa situação postergou a ascensão feminina na academia e na pesquisa científica. Em 1990, na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tabak (2002) verificou que as docentes não ultrapassavam 10%. Dez anos depois, no início da década de 2000, apenas 10% do corpo docente da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo era composto de mulheres e existiam apenas duas profes-soras titulares (SAMARA; FACCIOTTI, 2004).

Na pesquisa científica em engenharia, em 2008, 25% dos pesquisadores eram mulheres, enquanto a feminilização no con-junto da pesquisa nacional era uma realidade: praticamente a metade dos pesquisa-dores (49%) era formada por mulheres.

Qual é a participação feminina na engenharia no Brasil atualmente? E qual é a expres-são da produção acadêmica nacional sobre “gênero e engenharia? Quais matrizes in-terpretativas têm sido utilizadas nas pesquisas? Essas questões conduziram o desenvolvimento deste trabalho.

Outra motivação foi a intenção de disponibilizar para o público interessado informações que identificamos e/ou utilizamos nas pesquisas que temos desenvolvido na última década, com o in-tuito de que possam inspirar e iluminar novas indagações, novos debates e renovadas investigações. Este trabalho não tem a pretensão de ser exaustivo; ao contrário, pautou-se por uma seleção de fontes de busca bibliográfica, como convém a qualquer “estado da arte”.

Uma outra busca possibilitou ampliar e melhor qualificar a anterior: o seguimento das atividades dos poucos grupos de pesquisa e dos(as) pesquisadores(as) que traba-lham ou trabalharam a temática “engenharia e gênero”, levantando sua produção e a de seus orientandos.

São pessoas e grupos com quem temos compartilhado debates acadêmicos, interesses intelectuais, convívio em congressos e simpósios, com res-peito humano e afeto na última década. Finalmente, as ideias e análises extraídas dos resumos dos trabalhos que consolida-mos no corpo deste estudo são, necessariamente, sumarizadas, parciais e decorrem da nossa interpretação.

A consulta direta aos textos de interesse do(a) leitor(a) é for-temente sugerida, portanto. As referências bibliográficas completas de todos os materiais analisados estão anota-das no Anexo deste estudo.

Por que elas são poucas – completo em PDF

+ sobre o tema

O feminismo chegou ao mundo da moda?

"Todos devíamos ser feministas”. Se há uns dias me...

Dez passos para combater o nosso machismo ridículo.Por Leonardo Sakamoto

Passei tanto tempo tentando explicar a um grupo de...

Pai de Malala critica patriarcado e exalta o feminismo em pronunciamento inspirador

Ziauddin Yousafzai ainda falou da importância de criar os...

para lembrar

Os privilégios de ser uma mulher branca

Nestes dois anos de muita pesquisa, nunca tivemos tanta...

Discurso da Ministra Eleonora Menicucci no plenario da CRPD

Confiram o discurso da Ministra Eleonora Meniccuci da...

A potência de Adelir – Por: ELIANE BRUM

Que dogmas tão profundos a gestante de Torres feriu...

Ator revela homossexualidade e recusa participação em festival de cinema na Rússia

Wentworth Miller, protagonista da série Prison Break, declarou que...
spot_imgspot_img

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...

Escolhas desiguais e o papel dos modelos sociais

Modelos femininos em áreas dominadas por homens afetam as escolhas das mulheres? Um estudo realizado em uma universidade americana procurou fornecer suporte empírico para...
-+=