Prêmio a escritor multado por racismo provoca furor na Hungria

Mais de 50 laureados com uma das maiores honras da Hungria devolveram seus prêmios depois que o governo do primeiro-ministro Viktor Orbán condecorou um jornalista que foi censurado diversas vezes por incitar o ódio contra refugiados, judeus e ciganos.

Por Edith Balazs Do Uol

Zsolt Bayer, membro-funda dor do partido governante Fidesz e um aliado próximo de Orbán, recebeu a Cruz de Cavaleiro da Ordem do Mérito no fim de semana por sua “exemplar obra jornalística”, de acordo com a gazeta oficial Magyar Közlöny. Entre os homenageados que devolveram seus prêmios estão acadêmicos, escritores e atores, de acordo com uma lista compilada pelo site de notícias 444.hu.

András Heisler, diretor da Federação de Comunidades Judaicas na Hungria e um dos homenageados anteriores, devolveu seu prêmio e disse que não queria estar “na mesma comunidade que uma pessoa racista e antissemita, cujas exibições de ódio febril ao povo cigano estão contaminando a Hungria”. O Partido Socialista, opositor, emitiu um comunicado em que afirmou que a escolha é “uma vergonha” e dois outros partidos de oposição pediram que a medalha seja anulada.

A entrega deste prêmio, a segunda mais alta Ordem de Estado da Hungria, salienta a posição conflitante de Orbán no debate sobre etnia e cultura que cresce na Europa e ferveu no ano passado com a chegada de mais de um milhão de refugiados que fugiam da violência do Oriente Médio e também com os ataques terroristas na França e em outros países. Orbán foi um dos primeiros líderes europeus a recusar a entrada de muçulmanos em seu país. Ele construiu uma cerca de arame farpado e mandou a polícia à fronteira para impedir a entrada de imigrantes

‘Animais destrutores’

Bayer foi multado diversas vezes pelo órgão regulador húngaro dos meios de comunicação por comentários antissemitas e racistas, inclusive por ter chamado pessoas do povo cigano de “animais destrutores” e por ter escrito que todos os imigrantes com mais de 14 anos de idade são assassinos em potencial.

Ele também atacou o membro do Parlamento Europeu Daniel Cohn-Bendit e o político húngaro András Schiffer, ambos judeus, quando escreveu que “infelizmente todos eles não foram enterrados até o pescoço nos bosques de Orgovány”. O comentário era uma referência ao assassinato, em 1919, de dezenas de pessoas suspeitas de serem comunistas, muitas das quais eram judias.

Bayer rejeitou as críticas de seus detratores.

“Realmente não entendo como algumas pessoas podem estar tão fechadas em seus próprios mundos estreitos e tristes”, disse Bayer à emissora de TV comercial RTL Klub, em reação ao fato de que outros homenageados tenham devolvido seus prêmios.

Comentários antissemitas e ofensivos para o povo cigano não são incomuns nos meios de comunicação húngaros de direita e, em 2013, o governo pediu que o jornalista televisivo Szaniszló Ferenc devolvesse uma distinção do Estado por ter sido criticado internacionalmente por comentários do tipo.

Título em inglês: Award Given to Writer Fined for Racism Sparks Furor in Hungary

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