Projeto abraço promove integração étnico-racial nas escolas

O preconceito racial foi apontado, numa pesquisa divulgada em junho pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), como a segunda maior atitude de discriminação no ambiente escolar. Dos 18,5 mil entrevistados, entre alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários de 501 escolas públicas de todo o país, 94,2% assumem ter preconceito étnico-racial.

Fonte: Tôsabendo.com

Na rede municipal de ensino de Cuiabá, diversas experiências bem sucedidas de combate ao preconceito e a discriminação racial vem sendo implementadas com o objetivo de valorizar a diversidade étnico-racial e combater o racismo sobre os negros no espaço escolar.

 

Uma delas é o projeto “Abraço”, integrante da política educacional do município, denominada Educação na Diversidade, que prevê a implantação de ações de valorização da diversidade humana. Com isso a Secretaria Municipal de Educação – SME pretende contribuir para aumentar as oportunidades de participação educacional e social de crianças, jovens, adultos e idosos do município.

 

O Projeto nasceu a partir da Lei nº 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas públicas e particulares, de nível Fundamental e Médio.

 

Da escola municipal Quintino Pereira Freitas, no bairro Canjica, vem algumas dessas iniciativas. Depois de verificar a diferença com que os afro-descendentes eram recebidos na unidade, a equipe gestora passou a desenvolver atividades que incentivam a participação da comunidade. “Assim como a diretora, eu e alguns professores da escola somos negros. Diante da constatação, passamos a dar ênfase a essas relações raciais e incluímos no currículo a diversidade cultural”, revela a coordenadora da escola, Antônia Corsina Lima dos Anjos.

 

A partir daí, a escola passou a desenvolver diversas ações que promoviam a discussão e integração das etnias que formam a população brasileira, como a Feijoada de Zumbi e o Festival de Beleza Negra.

 

Do ponto de vista pedagógico, a escola implementou ações como o censo escolar da naturalidade da criança, abordando as suas características gerais, local de nascimento, com quem mora, hábitos de saúde, o por que escolheu a escola, entre outras. “A partir desse levantamento, vimos as condições de vida dessa criança e podemos, muitas vezes, ajudá-la”, explica a coordenadora.

 

Para a diretora da unidade, Sidrolina Barbosa Lima da Silva, as pessoas da comunidade escolar sentem-se valorizadas e estimuladas a participar de todas as atividades.

 

Atividades no bairro Parque Atalaia

 

Manifestações artísticas e culturais, como música, dança, teatro, valorização da beleza e capoeira, voltadas para a história e cultura afro-brasileira, são algumas das atividades que a escola municipal Floriano Bocheneki, do bairro Parque Atalaia, desenvolve para destacar o protagonismo negro na construção da nação brasileira. “Com esse trabalho, já conseguimos perceber certas mudanças de posturas em relação à cultura africana e ao combate ao preconceito”, analisa a diretora da escola, Margaret Anderson de Oliveira.

 

O projeto pedagógico da escola nasceu a partir da participação da coordenadora pedagógica, Jani Regina da Silva, nas capacitações ministradas pela Secretaria de Educação, por meio do Projeto Abraço.

 

O resultado do trabalho já pode ser observado por meio de declarações como da aluna Melyssa Evelyn Souza Gomide (14) da 7ª série, ao afirmar que “as pessoas têm que gostar da cor da pele que possui e respeitar a dos outros.

 

A diretora de políticas educacionais da SME, Julieta Ribeiro Domingues, afirma que a lei é importante no combate ao preconceito racial, tendo em vista que nessa discussão nos currículos escolares a história da África é recontada e isso se faz presente no processo formativo dos professores.

 

Prêmio Mama África

 

A implementação da Lei nº 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, em 2007, no currículo escolar das unidades de ensino da capital, conferiu à administração da cidade, o IV Prêmio África Brasil, em São Paulo.

 

A premiação é atribuída a personalidades, empresas e governos que contribuíram, por meio de projetos e ações sociais, para maior inclusão sócio-cultural e ambiental sustentável dos afros descendentes.

 

 

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