Projeto investiga extermínio da população negra com mapa e arte

O programa “Alcolu é aqui!” discute um tema que assola a vida brasileira, mas que parece não ser interessante o suficiente para fomentar uma grande mobilização social: o extermínio da população negra no Brasil.

Por Kauê Vieira, do Afreaka
alcolu

(Foto: Divulgação)

Contemplado pelo Programa VAI – Valorização de Novas Iniciativas da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, o programa “Alcolu é aqui!” discute um tema que assola a vida brasileira, mas que parece não ser interessante o suficiente para fomentar uma grande mobilização social: o extermínio da população negra no Brasil. Para se ter ideia do problema, dos 30 mil homicídios cometido por ano, cerca de 23 mil dos mortos são negros. A maioria dos homicídios são praticados por armas de fogo e menos de 8% dos crimes são julgados de acordo com o a Anistia Internacional.

Em São Paulo, maior cidade brasileira, a taxa de negros assassinados por policias é três vezes maior que a de brancos. Ou seja, se você for preto e estiver lendo este texto, sabe que tem muito mais chances de morrer nas mãos de um policial do que seu amigo branco. Mesmo com números assombrosos, a sociedade não se abala e parece fugir como o diabo da cruz de discussões sobre o excesso de violência policial e a força do racismo na morte de jovens negros. Em busca de mudança, Bruna Menezes, Gabriel Cândido, Leonardo de Sá e Mariana Arantes criaram este projeto, “Alcolu é aqui!”, inspirado em uma cidade homônima dos Estados Unidos, que em 1944, tempo em que a segregação comia solta, decretou pena de morte George Stinney Junior, de 14 anos, o mais jovem condenado à morte do país. Pouco depois a justiça reconsiderou o caso, anulando sua condenação, contudo a tentativa de assassinato ficou pra sempre marcada na história da cidade.

Voltando ao “Alcolu é aqui!”, a proposta do grupo é promover o compartilhamento dos casos de perda de vidas negras, acompanhados do apontamento dos locais em que tais situações aconteceram para que se forme uma espécie de georreferenciamento online. Ou seja, que se tenha um mapeamento que interligue todas as situações descritas por meio de uma plataforma virtual. É importante ressaltar que o compartilhamento dos relatos ocorrerá também pelo que foi chamado pelo grupo de investigações poéticas do território urbano, tendo como ponto de partida o bairro da Vila Formosa, zona leste de São Paulo.

Desde agosto as primeiras iniciativas deste projeto já estão sendo realizadas, como uma oficina de dramaturgia ministrada por Bruna Menezes e Leonardo de Sá, além de duas outras atividades, as oficinas de atuação e provocação musical, com Gabriel Cândido e Mariana Arantes e Jéssica Melo e Manuella Alves, respectivamente. Intervenções urbanas no decorrer das investigações, performances e leituras dramáticas também contemplam o projeto, que é inteiramente gratuito.

 

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