Projeto lista 100 livros com protagonistas negras

Leitora voraz desde a infância, a livreira Luciana Bento acredita que não ter tido contato com livros que trouxessem personagens negras como protagonistas deixou uma lacuna na formação de sua identidade. “Não lembro de nenhum livro infantil que eu tenha lido na minha infância com protagonistas parecidas comigo fisicamente, ou seja, com meninas negras”.

Por  Bruna Ramos, do EBC

No início de 2016, determinada a evitar que o mesmo acontecesse com suas filhas, e inspirada pelo trabalho de sua livraria itinerante – a InaLivros, especializada em literatura negra, com um olhar especial para a literatura infantil –, Luciana criou o projeto “100 livros infantis com meninas negras”.  Em sua busca pessoal, Bento catalogou 80 livros e decidiu pedir ajuda para descobrir outros 20. “Muitas pessoas adoram a ideia, aparecem com várias dicas e hoje a lista já chega a 130 livros. Estou publicando aos poucos, porque estou lendo todos os livros e selecionando aqueles que realmente possuem histórias que colaborem para valorização da negritude e elevação da autoestima”, relata. Os livros são postados em seu tumblr e Facebook, sempre com a foto da capa, nome do autor, ilustrador, editora e um breve resumo.

Luciana acredita que o acesso a esse material pode mudar a infância de todas as crianças, negras ou não.

Para a livreira, não é honesto que escolas não incluam em seu material didático e paradidático a realidade da diversidade de origens étnicas que compõem a sociedade. “As crianças não deveriam ler livros só com personagens brancas e depois sairem nas ruas e verem uma população multicolorida como a nossa”, pontua.

Uma questão recorrente em livros com protagonistas negras é a valorização do cabelo crespo. Ver personagens com cabelos parecidos com os seus, sendo associados a beleza, é um fortalecimento da autoimagem positiva das meninas, acredita Luciana. Porém, diversos outros títulos da lista contam histórias que sequer falam de preconceito racial, apenas optaram por ter protagonistas negras. “É uma forma de naturalmente refletir a diversidade da nossa população e não deixa de ser uma iniciativa de combate ao preconceito”, diz Bento.

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Creative Commons – CC BY 3.0Montagem livros. Reprodução: 100 meninas negras

E os meninos?

A lista catalogada por Luciana é repleta de princesas, guerreiras, meninas curiosas e profissionais bem-sucedidas. Tem Dandara, Betina, Sara, Luanda, Lelê e Lulu. Fala da Ritinha, que cada dia da semana está com um penteado diferente. Da Aninha, uma garotinha gorda que sonhava em ser bailarina. É um compilado de personagens que retrata de forma ampla as peculiaridades femininas. Mas e o universo infantil masculino? Por que não está incluído nesta lista?

Luciana diz que sua intenção com o projeto é contribuir para a diminuição do preconceito racial e de gênero. Restringir a busca a personagens femininas, segundo ela, foi o viés inicial da motivação. Porém, uma segunda lista sobre meninos já está sendo pensada. Por enquanto, Luciana afirma perceber uma maior dificuldade em encontrar publicações com protagonismo masculino negro e adianta ter encontrado uma carga dramática muito maior nessas histórias com meninos em posição de vulnerabilidade. “Acredito que esse seja um assunto que eu preciso investigar com mais profundidade antes de propor uma lista de 100 livros”.

Livros

Associar elementos da negritude a aspectos positivos pode fazer muita diferença na infância de crianças negras. Além de passarem a se enxergar de maneira positiva, se veem representadas e valorizadas, o que não é muito comum na mídia em geral.

Confira algumas histórias que podem ajudar na construção da identidade de meninas negras, e a opinião de Luciana sobre cada uma delas:

Bia na África (Ricardo Dreguer): “Uma menina negra que lê este livro pode, por exemplo, sonhar em ser diplomata como a mãe da Bia, porque ela lê isso no livro e vê que é possível. Pode sonhar em conhecer a África e vários outros locais do mundo”.

Meu Corpo (Lisa Bullard e Brandon Reibeling): “A criança pode se interessar em ser médica como a tia da Mariana, porque ela vê uma mulher negra como médica no livro”.

Os Mil Cabelos de Ritinha” (Paloma Monteiro e Daniel Gnatalli): “O livro fala de uma menina que está cada dia da semana com um penteado diferente, feito pela mãe, pelo pai, pela avó… Além de ser uma representação de família negra unida, o livro trabalha a autoestima das meninas negras por meio da valorização do cabelo crespo, que ainda é alvo de muito preconceito na nossa sociedade”.

Dandara, seus cachos e caracóis (Maíra Suertegaray e Carla Pilla): “O livro retoma a história negra no Brasil e as origens africanas para valorizar o cabelo cacheado ou crespo como uma herança dessa ancestralidade”.

Princesa Violeta (autora: Veralindá Ménezes): “Nesta história existe a  desconstrução de estereótipos. Meninas negras podem ser princesas, sim!”

A coleção Sara e sua turma (autora: Gisele Gama Andrade): “Os livros falam de adoção interracial com naturalidade, mostrando como uma família se estabelece por vínculos amorosos, sem qualquer preconceito”.

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