Na sexta (19/5), ao lançar o vídeo do novo single, Mallu Magalhães recebeu diversas críticas
por Thais Rodrigues no Metropoles
Mallu Magalhães quis “ousar” no clipe do single “Você Não Presta”, primeiro do novo álbum (ainda sem nome) a ser lançado este ano. A música é um misto de samba, com influências de ritmos de matriz africana como o afro-house e o kuduro. No vídeo, a cantora aparece acompanhada por um grupo de dançarinos negros em diversos cenários do Mercado Distribuidor de Lisboa.
O clipe gerou polêmica nas redes sociais onde Mallu foi acusada de racismo. A intenção de dançar o sambalanço em um prédio abandonado, ao som do refrão “convido todo mundo, só não você, por que você não presta”, criou desconforto nas pessoas negras que assistem ao vídeo.
A jovem, que outrora foi julgada por manter um relacionamento com um homem 14 anos mais velho e respondeu às críticas com “pode falar que eu não ligo” (trecho da música “Velha e Louca”), agora cai na contradição de tentar utilizar as pautas de identidades raciais e propagar um estereótipo negro hipersexualizado, pobre e marginalizado.
Foto: Reprodução/ Youtube
A hipersexualização
No clipe, pessoas negras sempre aparecem com pouca roupa, ao contrário de Mallu, sempre coberta. As mulheres vestem calças jeans e shorts apertados com tops. Os homens, sem camisa.
A sexualização do corpo negro é conhecida desde a época colonial, quando existiam os escravos sexuais. Malu não apresenta suor no corpo e, apesar de dançar em conjunto com o grupo, fica evidente que não faz parte da comunidade.
O release
Uma fala da artista em seu material de divulgação enviado à imprensa diz que o single quebra o vidro de sua imagem e coloca para fora “uma onda tão urbana quanto selvagem”. A frase, um tanto quanto infeliz, permite uma interpretação que essa “selvageria” seria a utilização de pessoas negras seminuas como dançarinos em um ambiente abandonado.
Foto: Reprodução/ Youtube
As grades
A construção do clima “selvagem” está presente em uma cena onde apenas os dançarinos estão dentro de um prédio gradeado. Mallu não compõe o grupo neste momento. Com o cenário, o trecho cantado é o refrão “Eu convido todo mundo para minha festa, só não convido você porque você não presta”.
Um choque para a comunidade negra que se vê enjaulada mais uma vez, como em diversos pontos da história e da atualidade — vide a cor da maioria dos presidiários e presidiárias do país.
Foto: Reprodução/ Youtube
Marginalização
Assim como na cena da jaula, outras cenas de “Você Não Presta” mostram que Mallu não faz parte do grupo que a acompanha. O distanciamento cria um clima de destaque da cantora enquanto os dançarinos estão ao fundo. Em uma cena, a artista veste uma camisa do Oscar de 2002. Evento que premiou Denzel Washington como melhor ator e Halle Berry, atriz. Dois artistas negros.
