Racismo aterroriza estudantes portugueses na Polónia

O medo e a tensão estão a crescer entre os estudantes portugueses na Polónia. Os incidentes com grupos de movimentos nacionalistas não param. Há relatos de alunos obrigados permanecer nos quartos durante um fim de semana para evitar confrontos com polacos com ideais racistas e xenófobos.

Por Inês Schreck Do Jn

O episódio ocorrido em Rzeszow, com um estudante português a ser arrastado pelos cabelos e insultado por um militar polaco, não é único.

Em Bialystock, onde estudam cerca de 50 portugueses na Universidade e no Politécnico, o clima de tensão entre polacos e estrangeiros é permanente, contou ao JN um aluno.

A mesma fonte, que pediu para não ser identificada, revela que há conflitos permanentes na discoteca do campus universitário entre polacos e alunos estrangeiros, que culminam invariavelmente com a intervenção da polícia.

O ambiente académico entre estudantes Erasmus é “agradável”, sublinha o aluno, mas constantemente perturbado por polacos.

“Os polacos, dotados de fisionomia mais forte e capaz, tendem, todas as noites quase sem exceção, a impor-se de modo provocatório, de forma a pôr medo aos estrangeiros”, relata o estudante ao JN.

Há dois fins de semana, os estudantes do programa Erasmus+ do Politécnico de Bialystock foram avisados por email de que não deveriam ausentar-se dos dormitórios, entre as 11 horas de sábado e as três da madrugada de domingo, por questões de segurança pois ia decorrer uma manifestação nacionalista.

Foram ainda advertidos de que não deveriam deslocar-se ao centro da cidade ou sequer circular no campus universitário para evitar “desagradáveis incidentes”.

Durante esse sábado, dia 16 de abril, instalou-se “o medo e a revolta” entre os estudantes estrangeiros que, desde que chegaram, sentem que há um “olhar de lado” e um “julgamento” permanente contra aqueles que não falam polaco.

Como se não bastasse, na noite da manifestação um grupo de manifestantes realizou um concerto precisamente na discoteca do campus universitário.

O incidente provocou a demissão do diretor da fundação para o desenvolvimento daquela universidade, responsável pelo aluguer do espaço, conforme noticiou a Imprensa Polaca.

E obrigou o reitor da Universidade de Bialystock vir a público garantir que a comunidade académica não se identifica com os ideais daquele grupo nacionalista e que tal incidente não voltaria a ocorrer.

“Apesar de todo e qualquer reforço policial, o receio, a pressão, a ânsia…são reais. Os esforços do Politécnico são evidentes, mas sem qualquer efeito”, contou o aluno.

Após o incidente de Rzeszow, a Agência Nacional Erasmus+ Educação e Formação veio assegurar que tem estado em contacto com instituições de ensino portuguesas que tem manifestado preocupação relativamente à segurança de portugueses que se encontram em instituições polacas no âmbito do Programa Erasmus, em locais em que tem havido manifestações nacionalistas.

Estão atualmente 956 portugueses a estudar na Polónia ao abrigo daquele programa de intercâmbio de alunos. É o segundo destino dos estudantes Erasmus+.

Questionada pelo JN, sobre os incidentes em Bialystock, a Agência Nacional referiu que apenas teve conhecimento das agressões reportadas pela Imprensa em Rzeszow.

Mas mantém as recomendações aos bolseiros para que “cumpram as indicações de segurança emitidas pelas instituições de acolhimento, incluindo recolher obrigatório”.

“Até que esta situação seja ultrapassada, é aconselhável que os bolseiros portugueses estejam atentos e não desrespeitem as normas de segurança em questão”, frisa a Agência Nacional Erasmus+.

Em Portugal, também no âmbito do Programa Erasmus+, estão 1371 estudantes do Ensino Superior polacos.

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