Racismo é engraçado? Histórias, Piadas e Humoristas

Racismo é engraçado?

por: Rogério Santos

Estava navegando pela internet despropositadamente quando vi no site do Instituto Geledés uma nota sobre uma acusação de racismo contra o SBT. O texto repudiava uma apresentação, feita no Programa Silvio Santos, de um humorista que atende pela alcunha de “Mulher Feijoada“, negro e presumidamente homossexual, que levou o auditório ao delírio ao contar piadas racistas do começo ao fim do seu “espetáculo”. Aquela velha postura de escravo da casa-grande que faz de tudo para agradar o senhor de engenho, incluindo aí servir de bobo-da-corte para os convidados deste.

 

 

 

 

 

Mulher-Feijoada

Veja: SBT está sendo acusado de racismo

Desnecessário dizer que eu ODIEI esse showzinho tétrico. Falo isso porque um dos instrumentos mais poderosos a serviço do racismo é justamente o humor. As piadinhas racistas têm um poder extraordinário de naturalizar o racismo na cabeça das pessoas. Afinal, tendemos a gostar e a aceitar aquilo que nos faz rir. Até já escrevi sobre isso.

É também por causa disso que o combate ao racismo se torna mais difícil, até porque toda pessoa que vai de encontro ao que é “engraçado” invariavelmente é tachada de chata, mala e mal-humorada. Porra, será possível que você não desliga nem na hora de se divertir? Logo, tudo é aceito como uma simples “brincadeira”. Quem é louco de expressar seu ódio racial com afirmações veementes ao outro? Os nossos racistas dificilmente têm coragem de dizer na cara o que pensam sobre as pessoas que mais odeiam na vida. Que o diga a baiana eleita a mais bela descendente de italianos neste ano.

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Toda vez que eu condeno publicamente a postura das pessoas que se utilizam do humor para veicular e reforçar estereótipos racistas, machistas e homofóbicos na mente dos outros, a reação é sempre a mesma: você está vendo coisa onde não existe, isso é coisa da sua cabeça, “é só uma piada”, você não tem senso de humor, “toda piada tem uma vítima” (curioso é que as vítimas são sempre negros, gays, mulheres, gordos… Por que ninguém faz piada com homens brancos, ricos, europeus e heterossexuais?), é assim mesmo, fazer piada é o trabalho do cara… Ele vive disso, pô

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Se algum humorista fizesse, por exemplo, piada de judeu (se o humorista não fosse judeu, é claro), não faltaria gente para repudiá-lo pelo antissemitismo. Mas quando alguém rechaça piadas contra negros, essas mesmas pessoas dizem que nós estamos enchendo o saco, que nós não temos o que fazer, que nós somos paranóicos que vemos racismo em tudo, que nós somos complexados, que ninguém pode falar mais nada… Tudo é racismo, tudo é preconceito, QUE #+%¨%$

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viradouroHá três anos, a Federação Israelita do Rio de Janeiro entrou na justiça para impedir que um carro alegórico da Viradouro que trazia uma suástica e uma imagem de Hitler desfilasse na Sapucaí. Não me lembro de ter visto, lido ou ouvido nenhuma declaração ofensiva contra os judeus ou tentando minimizar a tragédia e o sofrimento impostos pelo nazismo. Afinal de contas, eles estão certos; o holocausto nazista foi um dos maiores crimes da história, seis milhões de judeus foram exterminados nos campos de concentração, um absurdo!

(Como disse o poeta martinicano Aimé Césaire, os europeus, antes da ascensão do Terceiro Reich, protagonizaram inúmeras carnificinas fora da Europa tranquilamente. Quem já leu alguma coisa sobre o tráfico de escravizados sabe do que eu estou falando. Populações inteiras e culturas milenares foram aniquiladas na Ásia, na América e na África durante séculos e os europeus que ficaram lá na Europa acharam que isso era o certo, pois tratava-se de povos “atrasados” e “inferiores” que os europeus tinham a obrigação moral de “domesticar”.

Aimé Césaire

Quando o poeta irlandês Roger Casement denunciou as atrocidades cometidas pelo regime do rei belga Leopoldo II no Congo, que matou cerca de trinta milhões de pessoas de 1885 a 1908, ninguém levou o cara a sério. O grande arquiteto intelectual do nazismo, o médico alemão Eugen Fischer, testou a validade das suas teorias, aprendeu a construir campos de concentração e a matar pessoas na ilha de Shark, na Namíbia (tomem conhecimento disso aqui). Entretanto, ele não foi execrado por ninguém devido a isso.

Mas quando Hitler e os seus cupinchas usaram toda essa experiência acumulada em construir máquinas da morte para fazer a mesma coisa dentro da Europa, foi um absurdo. Veio a criação da ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos [promulgada numa época em que os mesmos europeus ainda estavam escravizando, explorando, estuprando e exterminando gente nas colônias africanas], a Convenção de Genebra e o caralho a quatro. Tudo porque os europeus tinham de se proteger deles mesmos.

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Pimenta no rabo dos outros é refresco.

Se fosse uma entidade do movimento negro que entrasse na justiça para impedir que um carro alegórico de uma escola de samba qualquer desfilasse exibindo uma imagem de um negro sendo chibateado no tronco, essas mesmas pessoas torceriam o nariz, diriam que isso é uma bobagem, a história foi assim mesmo (o fato serviria apenas para uma retratação dos fatos históricos que constituem a formação do país), os negros já gostam de se fazer de vítima, a escravidão já passou e que os negros não melhoram de vida porque só ficam pensando no passado ao invés de esquecê-lo, olhar para a frente, trabalhar duro e cuidar da vida. Ahhh, que saco!!

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E ainda gritariam no final: “CENSURA! CENSURA! OS NEGROS QUEREM ACABAR COM A LIBERDADE ARTÍSTICA NO PAÍS!!”

Fonte: Efemérides Bahianas

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