Ser fácil ou ser difícil. Eis a questão?!

O que é valor? O que é valor moral? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade? O que significa ter valor? O que significa ser uma moça dentro da moralidade familiar? Crescemos ouvindo receitas de como nos comportar para adquirir certas virtudes. Pensava nisso enquanto assistia uma comédia romântica, onde me deparei com a seguinte frase dita por uma jovem a sua amiga apaixonada: “Você tem que esperar ele te ligar, não pode demonstrar interesse. Tem que ser difícil. Homem não gosta de mulher fácil”.

Texto de Tamires Marinho.

Sorri e pensei em como a indústria cultural faz questão de poluir a mente humana. Se formos observar, nossas vidas são feitas de crenças silenciosas, que raramente questionamos. Essa é uma delas: como devo me relacionar com o outro? Como manter minha figura de mulher direita? Então fica a dúvida: Ser fácil ou ser difícil? Eis a questão?

Passamos a vida aprendendo e tentando saber como nos comportar, muita tensão né? Ouvi inúmeras vezes que moça direita não é fácil, tem que ser difícil para conseguir um macho alfa. Mas, afinal de contas, o que significa ser difícil? Tenho que demonstrar que não quero, quando na verdade quero? Tenho que fingir que não gosto, quando na verdade gosto? E quando devo parar de fingir? O que significa ser fácil? Sou fácil quando beijo quem tenho vontade de beijar? Quando faço amor, com quem tenho vontade de fazer? A outra pessoa não vai me valorizar? E se a outra pessoa se fizer de difícil também? A gente não vai acabar se perdendo?

Em um mundo tão subjetivo, por que tentar arrumar receitas prontas para tudo? Por que tudo tem que ter rótulo? Tudo tem que ser definido? Essas são questões que me atormentaram muito. Especialmente e momentos que deveriam ser simples. Sabe aquela vontade de mandar um SMS ou um email dizendo tudo que sentimos? Quem nunca, né? Escreve, apaga, escreve, apaga. Manda, se arrepende. As vezes não recebe resposta e o coração se enche de angústia. As vezes quando um “oi” é enviado de volta, a felicidade toma conta das entranhas. Capaz de reler o “oi” um milhão de vezes. De repente lá se foi o arrependimento, o SMS valeu a pena. Ou não.

A questão é que se não tentarmos nunca vamos saber o resultado. E, mais que isso, não é preciso pensar em vencedores ou perdedores. Viver também é quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar certo e ver que não deu. O risco tanto pode resultar em dor quanto em felicidade. O risco pode ou não valer a pena. A dor não deve ser um motivo de preocupação, faz parte, ninguém foge dela para sempre. Não podemos é permitir que filmes, novelas, séries e a sociedade como um todo continuem afirmando o que é certo ou não nos relacionamentos. Não podemos permitir que nos digam como nos vestir, o que comprar, como nos comportar e como nos relacionar.

Precisamos deixar de lado os complexos que essa sociedade patriarcal nos forçou a acreditar. Mas, ainda temos um dilema: como devo me comportar quando estou interessada em alguém? Devo tomar iniciativa? Devo fingir que não ligo? Não existe receita. Nem fácil, nem difícil. O primeiro passo é se livrar daquele medo: “o que vão pensar de mim”. A critica dos outros não importa. Por que não podemos abrir mão de um pouco do nosso orgulho? Por que não podemos nos mostrar descomplicadas, disponíveis?

Não temos que ser vistas como aquelas que optam sempre pela dor, pelo conflito, pelo drama que mais nos endurece que amadurece. Quem define o quanto pode ou não estar disponível, é você e sua vontade. Mas e o medo? Estará lá, mas o único jeito é tentar. Você pode utilizar o sexto sentido, mas mesmo assim, é apenas uma tentativa. Gostar de alguém envolve riscos e não falo só de relacionamentos amorosos. Em qualquer relação há sempre o risco da pessoa dizer que não quer, que não foi bom, que você confundiu as coisas. Siga suas próprias leis. No fim ninguém é maduro quando se trata de relacionamentos. Abraça o que te faz feliz.

Autora

Tamires Marinho é apaixonada pelo comportamento humano e pelos conhecimentos empíricos da vida. Clarice Lispector é meu lado escritora, Darcy Ribeiro me faz socióloga, Beauvoir é minha militância. Escritora amadora, psicóloga mal formada e historiadora em desenvolvimento. Me orgulho, defendo tudo que sou e acima de tudo: Sou mulher! Facebook.

Foto de Yulya Balaeva no Flickr em CC, alguns direitos reservados.

Fonte: Blogueiras Feministas 

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