Ser negro, ser cristão e combater o racismo.

“Dalém dos rios da Etiópia, meus zelosos adoradores, que constituem a filha dos meus dipersos, me trarão sacrifício”. Sofonias 3:10

Enviado por Mailson Moraes Santiago via Guest Post para o Portal Geledés

Cresci dentro de um lar cristão, minha mãe de família evangélica e pai católico, hoje ambos adventistas, sempre foi me ensinado que eu era único, não existia outro igual a mim, que eu era especial para Deus, mas também que isso não me fazia melhor do que ninguém, pois, o que igualava os seres humanos eram suas diferenças, pois todos faziam parte do corpo de Cristo, no qual cada um de nós tinha uma função para que o corpo continuasse em movimento e cumprindo sua missão na terra. “Ide e pregai o evangelho a todo o mundo…”

Porém com o tempo eu comecei a perceber de como o ser humano, tinha criado as suas separações e meios de perpetuar instituições e ideologias. Como se fosse hoje me lembro dos apelidos que recebia em sala de aula: “ e ai branca de neve, só da pra ver teus dentes no escuro.” “fala fumacinha “ “ e ai negãozinho, consegue um pouco de cabelo pra gente fazer bombril” entre tantos outros. Isso me fez questionar se realmente as pessoas queriam fazer parte de um corpo de Cristo, plural e diverso, ou se estavam querendo ser só uma cabeça sem vida. Na minha adolescência tive o privilégio de estudar no Colégio Adventista de Porto Alegre, na qual pude me aprofundar no campo estudantil, ter aprofundamento maior no meu conhecimento bíblico, finalmente poder ver personagens negros na bíblia que atuaram de forma pontual em alguns momentos descritos na Palavra. Durante esse tempo na escola tive acesso a documentários e literaturas que falavam sobre homens e mulheres negros que atuaram dentro do campo cristão, Martin Luther King, Al Jackson, Mahalia Jackson entre tantos outros e outras e isso me fez me sentir mais confiante, eu pude finalmente me sentir representado, mesmo na época não sabendo o quão profunda é a palavra representatividade.

Agora durante a faculdade de história, onde muitos acham que cristãos perdem sua fé, eu ganhei mais força na minha fé, pois através do meus estudos eu pude aprender que posso sim, combater o racismo sendo uma pessoa cristã, aprendi que não fui amaldiçoado com a cor da minha pele, mas sim que a cor da minha pele é uma benção em minha vida e de que eu tenho que ter orgulho dela, pois é desse modo, negro, cristão e de cabelo afro que poderei falar para outras pessoas que o cristianismo não é um clubinho fechado, mas sim um lugar que promove uma coletividade maior do que podemos imaginar, uma coletividade que não vai medir o tamanho dos seus atos ou seu grande discurso politizado, ela só se importa em você fazer parte dela e ajudar ela a crescer sem precisar pisar em cabeças de pessoas, ou arrancar rios de dinheiro para poder construir templos megalomaníacos, que só servem para encher o ego do ser humano e não o coração das pessoas com o amor de Deus.

Você pode estar se perguntando: “mas onde raios o texto lá no topo se encaixa com o resto?” este texto está apenas mostrando que a crença em um Deus monoteista, o deus dos hebreus, existe na africa a muito tempo antes de o homem europeu, supostamente, ter levado o “cristo verdadeiro” para os povos africanos.

É hora de nós, negros cristãos refletirmos, será que não é o momento de eu não me omitir e evidenciar o racismo dentro do meio cristão?

 

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