Nós que nos situamos na luta feminista e no feminismo negro, não podemos concordar com um evento excludente e racista como os concursos de beleza, que por critérios eurocêntricos e padronizados pela cultura capitalista (e consequentemente mercantil) dita as formas pelos quais os corpos e os rostos das mulheres devem se adequar para atender a critérios aleatórios.
Somos contra por tantos motivos, que listá-los não os coloca necessariamente em posições de importância, então comecemos:
Os concursos acirram as disputas entre mulheres que já são bastante incentivadas em diversos meios e de diversas formas, essa disputa pela “mais bela” extrapola os limites do concurso e se reproduz no dia a dia das mulheres. E por isso independe se o concurso é de mulheres negras, ou não.
Por mais que os concursos de beleza negra apareçam sob capa de valorização da beleza negra, não reconhecemos que precisamos de um concurso especial para nós, para que sejamos reconhecidas como bonitas. Nosso reconhecimento não pode acontecer apenas num evento de “concessão de espaço”, precisa passar pela dignidade de usarmos nosso cabelo crespo e não sermos insultadas na rua por causa disso, ou não termos que alisá-los por conta de um emprego no mercado de trabalho; passa por não sermos constrangidas a cortar nosso rosto pra afinarmos nosso nariz em cirurgias plásticas etc. Por isso não, os concursos de beleza negra não cumprem o seu papel. E isso não é o mesmo de falar da importância que reconhecemos dxs negrxs em espaços como a mídia, por exemplo, representatividade é importante sim! Mas o conteúdo dos concursos de beleza é diferente e problemático!
Já fomos historicamente exposta aos senhores que nos escolhia pelo tamanho da bunda e dos seios, continuamos a ser expostas assim nos concursos da GLOBELEZA, e por isso rejeitamos todos. Mas não só nós, afinal o fenômeno da objetificação da mulher compartilhamos com todas as outras mulheres também.
E no mais, para quê escolher uma mais bonita? Para modificarmos nosso corpo objetivando aquele modelo para agradar a luxúria masculina? Não, obrigado pela oferta.
E como é mesmo que se escolhe a mais bela entre tantas características distintas?
Não estamos à venda, aceitamos nosso corpo, não queremos modificá-lo. Entendemos muito bem que qualquer concurso de beleza tem, além de tudo, a intenção de fortalecer a indústria farmacêutica e de cosméticos. E todo o comércio que gira em torno dessa questão estética.
Por fim, vale ressaltar que, por mais que tenhamos a feminilidade como algo natural, e que não criticamos as mulheres que se identificam com ela, e gostam de ser femininas, não podemos levantar a bandeira dela de forma a realizar inclusive um evento que traz a sua competição. Afinal lembremos quantas mulheres não conseguem, ou mesmo não querem essa identidade com a feminilidade, elas também não são belas?