Sonia Correa: “A categoria mulher não serve mais para a luta feminista”

“Eu tenho muitos problemas com a categoria ‘mulher’.” Foi com essa ressalva crítica que a pesquisadora brasileira Sonia Correa, fundadora de algumas das organizações mais importantes na luta pelos direitos sexuais e reprodutivos do Brasil, como a SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, concordou em ser entrevistada para a SUR 24.

Fonte: Conectas

Por Laura Daudén e Maria A.C. Brant

Para ela – que hoje co-coordena o Observatório de Sexualidade e Política (SPW, na sigla em inglês), um projeto sediado na ABIA (Observatório Nacional de Políticas de AIDS) – a temática da publicação deveria superar o modelo dos dois sexos, descolando o feminismo do corpo feminino. “É sempre importante retornar a [Judith] Butler, nas primeiras páginas de seu livro Problemas de Gênero, quando elabora sobre como ‘mulher’ é uma construção cultural, ideológica e filosófica. É uma ficção representacional”, afirmou.

A partir daí, seguiu-se uma aula sobre como o movimento feminista trabalhou nos últimos 40 anos, pelo menos, para desvincular o feminismo da experiência exclusiva das mulheres. Citando Gayle Rubin, Judith Butler e Anne Sterling – referências fundamentais para entender o debate -, Correa discorre sobre a “restauração conservadora” em todo mundo e seu impacto em debates concretos, como no caso do referendo da Colômbia, em que a população rejeitou por estreita maioria o acordo de paz assinado entre governo e as FARC.

A fluidez com a qual navega pelos temas vem da longa experiência como pesquisadora, mas também da participação ativa e militante em espaços como a comissão de especialistas que desenhou os Princípios de Yogyakarta em 2006, com diretrizes para a aplicação da normativa internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e à identidade de gênero, ou a Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento de 1995.

Sua atuação – em grande medida, pioneira – em fóruns internacionais também transborda nas análises críticas sobre o papel dos países emergentes no debate global sobre direitos sexuais e reprodutivos.

 

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