Suspeita de falso auto de resistência leva à exoneração de comandante do 9º BPM

Nove PMs também foram afastados por morte de jovem de 15 anos na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel

POR VERA ARAÚJO, O Globo 

 

Um dia após a divulgação de um vídeo no qual um adolescente filma a própria morte numa operação da Polícia Militar na Favela da Palmerinha, em Honório Gurgel, o tenente-coronel Luiz Garcia Baptista foi exonerado do cargo de comandante do 9º BPM (Rocha Miranda). A unidade é responsável pelo policiamento na região onde ocorreu o crime. Antes de ser exonerado, o oficial afastou nove homens do patrulhamento das ruas, entre eles um tenente, que teriam participado da operação, na sexta-feira passada, que resultou na morte de Alan de Souza Lima, de 15 anos.

Apesar de o adolescente não estar armado, como mostra o vídeo, os policiais registraram o caso na 29ª DP (Madureira) como auto de resistência, ou seja, morte ocorrida em confronto. E apresentaram na delegacia uma pistola e um revólver. Na ocasião, o vendedor de mate Chauan Jambre Cesário, de 19 anos, também baleado, foi preso. Nesta quinta-feira, Chauan Jambre prestou depoimento, por duas horas, na 30ª DP (Marechal Hermes).

 

Ele confirmou que, após vender mate com Alan numa praia do Rio, os dois foram para a Palmerinha, onde mora o cadeirante Josenildo de Souza, patrão da dupla. Os adolescentes, que moram na Baixada Fluminense, e o filho do cadeirante, de 14 anos, conversavam na frente da casa de Josenildo quando um grupo de policiais começou fazer disparos. Alan estava com um telefone e filmava os amigos.

— A gente estava no portão contando piadas e brincando porque tinha faltado luz. O Alan falou “camuflagem” e eu comecei a correr atrás dele, numa brincadeira. Nesse momento, só escutei os tiros. Aí, eu caí, vi o sangue e comecei a rezar — lembrou Chauan.

Na confusão, o telefone de Alan caiu no chão, mas continuou gravando a ação. Um dos PMs tenta se justificar, dizendo que os adolescentes estavam no meio de uma troca de tiros. O vídeo, ao qual O GLOBO teve acesso na íntegra, mostra ainda quando os PMs Allan de Lima Monteiro e Ricardo Wagner Gomes mandam os vizinhos da Rua Lourenço Marques, um dos acessos à favela da Palmeirinha, saírem da via. Os moradores não obedeceram e uma testemunha, depois de muito insistir, acompanhou os PMs quando eles, sob o pretexto de socorrerem as vítimas, as retiraram do local.

A testemunha afirma que ouviu um dos policiais dizer: “Cara, acho que nós baleamos um inocente”. A declaração consta no depoimento feito por ela na 29ª DP (Campinho).

A Justiça chegou a decretar a prisão preventiva de Chaum, mas o advogado Fernando Luz, contratado pela Igreja Batista Nova Filadélfia, em Nova Iguaçu, que o rapaz frequenta, entrou com um pedido de relaxamento da prisão, acolhido por um juiz de plantão. Chauan, que ia fazer um teste de futebol no Bangu Atlético Clube, na terça-feira passada, foi colocado em liberdade na segunda-feira. Ele está com uma bala alojada no peito, mas não corre risco de morrer.

PMs RESPONDERÃO POR FRAUDE

A delegada Adriana Belém, da 30ª DP (Marechal Hermes), disse que o vídeo feito por Alan é conclusivo e prova que Chauan e seus amigos não estavam armados. Os PMs Monteiro e Gomes, que registraram o caso como auto de resistência, responderão por fraude processual, já que apresentaram na delegacia armas que não estavam com os adolescentes. Além disso, vão ser acusados de homicídio e tentativa de homicídio.

 

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