Teodoro Sampaio

Teodoro Fernandes Sampaio (Santo Amaro da Purificação, 7 de janeiro de 1855 – Rio de Janeiro, 11 de outubro de 1937) foi um engenheiro geógrafo e historiador brasileiro.

Biografia

Nasceu no Engenho Canabrava, pertencente ao visconde de Aramaré, hoje pertencente ao município baiano de Teodoro Sampaio.

Era filho da escrava Domingas da Paixão do Carmo e do padre Manuel Fernandes Sampaio. Ainda em Santo Amaro estuda as primeiras letras no colégio do professor José Joaquim Passos. É levado pelo pai, em 1864 para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde estuda no Colégio São Salvador e, em seguida, ingressa no curso de Engenharia do Colégio Central. Ao tempo em que estuda leciona nos Colégios São Salvador e Abílio, do também baiano Abílio César Borges (Barão de Macaúbas), sendo ainda contratado como desenhista do Museu Nacional.

Formou-se em 1877, quando finalmente volta a Santo Amaro, na Bahia, onde nasceu. Ali, revê a mãe e os irmãos, e comprando, no ano seguinte, a carta de alforria de seu irmão Martinho, gesto que repete com os irmãos Ezequiel (1882) e Matias (em 1884). Por ser filho de branco, Sampaio nunca fora um escravo.

Em 1879 integra a “Comissão Hidráulica”, nomeada pelo imperador Dom Pedro II, sendo o único engenheiro brasileiro entre estadunidenses.

Obras na engenharia

A convite de Orville Derby, que conhecera na expedição aos sertões sanfranciscanos, participa de nova comissão que realiza o levantamento geológico do Estado de São Paulo (1886).

Antes havia realizado o trabalho de prolongamento da linha férrea de Salvador ao São Francisco (1882). No ano seguinte é nomeado engenheiro chefe da Comissão de Desobstrução do Rio São Francisco, que deixa quando do convite de Derby para ir a São Paulo. Ali, dentre outra realizações, participa em 1890 da Companhia Cantareira (engenheiro-chefe), é nomeado Diretor e Engenheiro Chefe do Saneamento do Estado de São Paulo (de 1898 a 1903). Participou da fundação da Escola Politécnica, junto a Sales Oliveira e ao Coronel Jardim.

Institutos

Foi, em 1894, um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1898), que presidiu em 1922; sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1902).

Em 1912 presidiu o V Congresso Brasileiro de Geografia.

Importância de Teodoro Sampaio

Teodoro Sampaio, que nasceu negro e filho de escrava, foi um dos maiores pensadores brasileiros de seu tempo. Engenheiro por profissão, legou-nos uma bibliografia de vasta erudição geográfica e histórica sobre a contribuição das bandeiras paulistas à formação do território nacional, entre outros temas. É formidável sua sofisticação na percepção da importância dos saberes indígenas (caminhos, mas não só) na odisséia bandeirante. Igualmente digna de consideração foi sua contribuição ao estudo de vários rios brasileiros, de pinturas rupestres em sítios arqueológicos nacionais, do tupi na geografia brasileira e da geologia no País. Neste campo, a geologia brasileira, participou de momentos marcantes, como a expedição de Orville Derby ao vale do rio São Francisco e de comissões específicas. Além disso, foi grande amigo de Euclides da Cunha, e auxiliou o escritor com conhecimentos sobre o sertão baiano na elaboração de Os Sertões.

Seu nome figura na memória intelectual do País ao lado de Capistrano de Abreu, Joaquim Nabuco, Nina Rodrigues e outros do mesmo patamar. Em sua memória, foram batizados dois municípios brasileiros (na Bahia e em São Paulo) e também uma importante rua da cidade de São Paulo.

Principais obras

• O rio São Francisco e a chapada Diamantina (1906)
• O tupi na geografia nacional (1901),
• Atlas dos Estados Unidos do Brasil (1908)
• Dicionário histórico, geográfico e etnográfico do Brasil (1922)
• História da Fundação da Cidade do Salvador (póstumo).

Fonte: Wikipédia 

Os diários de Teodoro Sampaio

Os diários de Teodoro Sampaio (1855- 1937) estão arquivados no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Vale dizer que a conquista de um acervo tão precioso é mérito da atual presidente do instituto Consuelo Pondé de Sena.

Mas até hoje, o IGHB não conseguiu publicá-los por falta de apoio. Escritos a lápis eles correm o risco de perder a batalha para a ação do tempo e aí estarão fora de alcance partes preciosas da história de um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros.

Há, inclusive, em meio a estes diários, uma carta de sua autoria, emocionante, direcionada a um senhor de escravos. Theodoro diz que como está prestes a se casar e, portanto, “montando casa”, não tem todo o dinheiro estipulado para a compra. O escravo em questão é seu irmão. Ele queria cumprir uma promessa feita à mãe.

Não se sabe se o proprietário de escravos fez “a caridade pela liberdade”, como pede Theodoro. Mas em um outro trecho está anexada a carta de alforria de um outro irmão seu.

“As condições em que se encontram os documentos não permitem sequer a consulta. Só um técnico pode manipular os diários. Tem cópia dos documentos em CD Rom, pois isso conseguimos fazer, mas é necessária a restauração. Infelizmente, o IGHB não tem verba para pagar”.

O IGHB é uma instituição privada, mas de utilidade pública e que tem um valioso acervo de livros, documentos e periódicos. Atualmente, recebe uma ajuda de custo do governo estadual de cerca de R$ 10 mil que, com os descontos, fica em R$ 8 mil.

Engenheiro, Theodoro Sampaio foi também historiador e geógrafo. Hoje dá nome a uma avenida em São Paulo, com reverências por lá maiores do que as que recebe em seu Estado de origem, a Bahia, de forma tal que há quem pense que ele é paulista.

Mas Theodoro nasceu em Santo Amaro. É certo que hoje existe um município baiano que leva o seu nome, mas acho pouco diante da sua vida e obra.

Era filho de Domingas da Paixão do Carmo, uma escrava de origem jeje. O padre Manoel Fernandes Sampaio assumiu a paternidade e lhe deu o sobrenome, mas segundo a historiadora Consuelo Pondé, ele poderia também ser filho de Francisco Antonio da Costa Pinto.

Teodoro Sampaio escreveu trabalhos como O Rio São Francisco e Chapada Diamantina e Viajantes Estrangeiros no Brasil. Não é segredo que Euclides da Cunha utilizou várias das informações geográficas coletadas por ele em Os Sertões, mas não lhe deu o crédito merecido. Fez apenas uma pequena observação sobre a contribuição em uma das edições do seu livro que virou clássico. Conta-se que Teodoro, que dirigiu o IGHB de 1922 a 1937, ficou magoado com o amigo, mas engoliu a omissão de forma discreta.

Não tão discreto ele foi em relação a um episódio de racismo explícito. Convocado para integrar a Comissão Hidráulica do governo brasileiro, que faria um estudo dos portos e das condições de navegalibidade do interior do país, foi o único do grupo a não ter seu nome divulgado no edital de convocação.

Ao ser apurado o episódio, a justificativa do funcionário de gabinete foi a seguinte: “Poderia causar constrangimento aos outros estar ao lado de um homem de cor”. A comissão era coordenada por um engenheiro americano: William Milnor Roberts. A omissão foi reparada, mas a agressão a Teodoro já estava feita.

Quem sabe órgãos como Seppir, Fundação Cultural Palmares ou Sepromi comecem a pensar em resgatar a história de Teodoro de uma forma mais marcante? Poderiam começar pelo auxílio ao IGHB para publicar seus diários.

Fonte: Mundo Negro

Foto em destaque: Reprodução/ Wikipédia 

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