Thaíde completa 30 anos dedicados ao hip hop

Thaíde está completando 30 anos de carreira. Desde 1985, quando frequentava os encontros que reuniam MCs e B-boys na estação de metrô São Bento, na região central de São Paulo, ou quando conheceu o DJ Hum nos bailes blacks paulistanos, Altair Gonçalves – seu nome verdadeiro – dedica-se ao hip hop, seja cantando, seja à frente dos programas de TV Yo! (MTV) e Manos e Minas (TV Cultura).

No primeiro registro do rap nacional – a coletânea Hip-Hop Cultura De Rua, de 1988 –, lá estava Thaíde & DJ Hum, com as faixas “Corpo Fechado” e “Homens Da Lei”. No ano seguinte, a dupla lançou o primeiro álbum Pergunte A Quem Conhece. Depois disso, foram mais seis discos – cinco em parceria.

O segundo trabalho solo de Thaíde promete vir em 2016, ano que está reservado também para o lançamento de um livro com a compilação de 30 letras de músicas de sua carreira. Ele também já tem planos para mais uma obra literária, mas prefere ainda não revelar muita coisa sobre a empreitada.

Ainda sem título e quase pronto, o novo trabalho de estúdio contará com algumas participações, como a da histórica figura de Kurtis Blow, um dos pioneiros do hip hop nos Estados Unidos.

O seu jeito de compor mudou com o passar do tempo?

Eu não mudei o jeito de escrever, o que mudou foram os temas, a maneira como se fala, como a gente se expressa. Hoje a coisa é bem mais dinâmica. Antes eu compunha sempre com uma caneta e um papel. Hoje é tudo pelo celular. Mas não tem como achar que a violência, a desigualdade, todos esses problemas que falávamos nos anos 1980 ficou lá. A gente tem que continuar falando porque, infelizmente, são doenças crônicas.

Você acha que dá pra fazer mais pelo rap?

Quando a gente fala de rap a gente direciona muito pro lance mercadológico. Musicalmente falando, eu acho que posso fazer mais alguma coisa. Agora, o hip hop é uma coisa muito mais abrangente, que está em todos os lugares, então eu fico pensando muito em como eu posso colaborar com o hip hop.

E como você acha que pode colaborar com o hip hop?

São coisas que eu só resolvo na prática. Eu não fico imaginando como eu posso resolver tal coisa… Se alguém me chama pra algo, se rola um convite, eu estou lá.

Hoje você se imagina mais como um comunicador ou a música ainda fala mais alto?

A música, sempre. Eu adoro apresentar A Liga, adoro fazer palestras, trabalhar com corporações, mas nada supera a questão de eu ser um MC e um representante do hip hop brasileiro.

Pouca gente sabe, mas foi o Nasi, do Ira!, que lançou você e o DJ Hum…

A gente tinha os nossos encontros na estação São Bento do metrô. Alguns músicos ficaram sabendo, como a galera da banda Fábrica Fagus, e levaram o Nasi pra lá. Ele acabou nos apresentando muita gente do meio artístico. O Nasi e o André [Jung] foram os responsáveis pelos dois primeiros álbuns do Thaíde & DJ Hum, isso é uma coisa que eu tenho bastante orgulho, porque ele é um grande representante do rock nacional, do rock que diz alguma coisa. Foi uma identificação natural e imediata. Sem dúvida nenhuma eu devo muito ao Nasi. Me lembro até hoje do dia em que ele me disse: “Bem-vindo ao meu mundo, cara”.

Thaíde (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)

Trinta anos depois, o rap mudou muito?

Eu acho que mudou bastante, mas essa mudança é necessária. Hoje eu vejo muitas críticas e comentários sobre o trabalho de um, o trabalho de outro… Eu não sei por que existe essa discussão, eu acho que o rap tem que evoluir. Se a gente ficasse fazendo o mesmo rap que fazíamos na década de 1980/90 talvez a gente não conquistasse o público que vem conquistando nesses últimos anos. Infelizmente, eu não vou estar aqui nos anos 3000 pra poder ver como vai estar, mas eu gostaria que o rap e o hip hop brasileiro continuassem evoluindo para que, até lá, continuassem falando do nosso trabalho aqui nos primórdios.

E você curte a cena do rap atual?

Existem as condições do mercado, né? Antigamente, as gravadoras dominavam. Hoje o que domina é a criatividade e a tecnologia, o que possibilita muitas pessoas fazerem música sem depender do grande mercado fonográfico que está capengando no Brasil ainda. Muitas pessoas criticam porque o rap fala do que as pessoas querem ouvir, e eu sou de uma época em que o rap falava do que as pessoas tinham que ouvir, então eu tenho que respeitar. São épocas diferentes. Eu só espero que eles continuem falando a verdade.

Você tem trocado ideia com esse pessoal novo?

Eu tenho conversado com alguns quando a gente se encontra por aí. Quinze minutos antes de você chegar, eu estava conversando com o Rael, por causa de um som que a gente vai desenrolar no meu próximo trabalho.

Você vai lançar coisa nova no ano que vem, os Racionais lançaram um trabalho novo depois de muito tempo, o RZO vai lançar também… Você acha que o cenário atual está precisando da galera consagrada ou o pessoal novo que dá novo fôlego para quem é das antigas?

Eu acho que a galera nova está fazendo uma parada para o público deles. A vida de quem começou há um tempo é um pouco mais difícil porque já tem uma família constituída, então temos que correr atrás e não deixar desandar. Agora eu não posso negar que toda essa fermentação que essa rapaziada da atualidade vem fazendo também contribui porque atrai um novo público e isso a gente não pode negar.

Você vai lançar um livro com um compilado de letras suas (30 composições com comentários e contexto histórico, escrito por Gilberto Yoshinaga). Trinta anos depois você acha que elas continuam atuais?

Tem coisas que eu ouço hoje e parece que é o mesmo governo, os mesmos ideais, parece que nada mudou. Eu pensei que poderíamos ter evoluído mais, mas, infelizmente, só evoluímos em tecnologia.

E por qual delas você tem um carinho especial?

Eu gosto muito de “Corpo Fechado”, porque, além de ser o primeiro sucesso, fala de como a gente se sentia na época e a identificação foi muito legal pela galera. Tem “A Noite” também, que não tocou em rádio, mas quem conhece a considera uma obra-prima do rap brasileiro – e não sou eu quem diz isso.

Você trabalhou por muito tempo com o DJ Hum ao longo de sua carreira. Tem muita diferença trabalhando hoje com esse pessoal novo?

Acho que a maior diferença é a liberdade, o espaço. Hoje eu posso trabalhar com vários estilos e pessoas diferentes, eu não fico apenas amarrado a um estilo ou a uma maneira de se desenvolver – isso acaba te prejudicando até. Por mais que você tenha dupla com alguém, não é tão saudável você seguir sempre só um mesmo esquema. Você pode se experimentar e tentar outras ideias pra ampliar o seu conhecimento.

Como o Thaíde se apresentaria pra galera nova que não te conhece?

Eu me apresento desde que eu me apresento nos anos 1980. ‘Me atire uma pedra que eu te atiro uma granada, se tocar em minha face sua vida está selada. Portanto meu amigo, pense bem no que fará, porque eu não sei se outra chance você terá… Meu corpo é fechado e não aceita revide’ [canta o verso de “Corpo Fechado”].

 

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