The Black Bucks (O Mandingo) – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte VII

Esse todo mundo conhece, só não foi apresentado ao nome americano ainda.

por Suzane Jardim no Medium Corporation

Basicamente, os donos de escravos brancos promoviam a noção de que os homens africanos escravizados eram animais por natureza. Diziam, por exemplo, que “Nos negros, todas as paixões, emoções e ambições são quase que totalmente dominadas pelo instinto sexual” colaborando assim para noções de bestialidade e primitivismo.

mandigo
Essa era a definição de um Mandingo — aquele negro escravo perigoso e indomável e que deve ser contido pois tem instintos sexuais que provavelmente iriam perverter as filhas e esposas do senhor branco.

Depois da Reconstrução Americana* o termo Black Buck foi usado pra fortalecer esse esteriótipo.
Os Black Bucks são homens geralmente musculosos, que desafiam a vontade dos brancos e são um puta perigo pra sociedade americana. Eles são nervosos, agitados, temperamentais, impulsivos, extremamente violentos e, claro, sexualmente atraídos por mulheres brancas — só elas.

No que isso resultava? Sim, linchamentos aos montes.
Homens negros eram mortos, enforcados e espancados por serem um risco às virginais mocinhas brancas.

Com o tempo a figura do negro sexualizado que existe pra enlouquecer a pura mocinha branca, se fixou na mídia — virou tema de filme, de quadrinho, de pornografia e tá ai firme e forte até hoje

Em 2008, por exemplo, rolou essa capa da Vogue, colocando o jogador de basquete Lebron James ao lado de Gisele Bündchen em uma pose que remetia à posters famosos do filme King Kong. Sabe? King Kong? Onde o animal feroz e descontrolado destrói tudo porque deseja o amor da frágil mocinha branca e precisa ser colocado no seu lugar?

Então…….

  • Reconstrução Americana foi o período de literal reconstrução do país (tanto em estrutura, quanto jurídica) após a Guerra Civil Americana que deixou o lugar todo lascado em vários quesitos. Rolou entre 1865 e 1877, se não me engano, e foi o período onde reconstruíram cidades e começaram a discutir e legislar sobre o que fazer com o negro agora que a escravidão havia sido abolida. Exatamente por esse clima de decisão sobre como a sociedade americana iria se estruturar, esse é o período onde surgiram as sociedades secretas/organizações de supremacia branca (como a Ku Klux Klan) e onde os discursos de segregação e violência contra negros autorizada pelo Estado começaram a se fortalecer.

gisele3 lebron the brute lebron_as_brute2

leia também: 

Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte I

O Jim Crow – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte II

Sambo (Coon) – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte III 

Golliwog, pickaninny e golly doll – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte IV

 Tia Jemina (a Mammy) – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte V 

 Uncle Tom – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte VI 

+ sobre o tema

Pedagogia de afirmação indígena: percorrendo o território Mura

O território Mura que percorro com a pedagogia da...

Aluna ganha prêmio ao investigar racismo na história dos dicionários

Os dicionários nem sempre são ferramentas imparciais e isentas,...

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde...

Apenas 22% do público-alvo se vacinou contra a gripe

Dados do Ministério da Saúde mostram que apenas 22%...

para lembrar

Após apontar racismo em prova, ex-aluna da UFF é denunciada à Justiça

Quatro anos após denunciar por racismo uma professora do...

OAB reage a ataque ao Nordeste no Twitter

Alessandra Duarte Universitária de SP que iniciou ofensas deverá...

Salvador terá postos fixo e móvel para denúncias de racismo no carnaval

Posto fixo irá operar na sede no Procon, no...

Twitter: Giácomo Mancini destilou críticas ao trabalho de Glória Maria

Por: Miguel Arcanjo Prado Giácomo Mancini, repórter do Jornal Nacional,...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=