A travessia do Atlântico

Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos –Parte VII

por David Eltis (Emory University) no Slave Voyages

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Fosse qual fosse o caminho percorrido, as condições a bordo refletiam o status de excluídas que marcava as pessoas aprisionadas no porão. Nenhum europeu — fosse condenado, servo temporário ou imigrante livre miserável — jamais foi submetido ao ambiente que recebia o escravo africano típico no momento de embarque.

Eram separados por sexo, mantidos nus, amontoados, sendo os homens acorrentados por longos períodos. Nada menos do que 26 por cento das pessoas a bordo eram classificadas como crianças, um índice do qual nenhuma outra migração anterior ao século XX sequer se aproximou.

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Fora o período de ilegalidade do tráfico, quando as condições por vezes tornavam-se ainda piores, os traficantes de escravos normalmente transportavam dois escravos por tonelada. Embora algumas naus que partiam da Alta Guiné chegassem às Américas em três semanas, a duração média das viagens iniciadas em todas as regiões da África era de pouco mais de dois meses.

A maior parte do espaço em um navio negreiro era ocupada por barris de água. As embarcações lotadas que navegavam para o Caribe a partir da África Ocidental tinham primeiro que seguir para o sul antes de virar para noroeste e passar pela zona das calmarias.

No século XIX, as melhorias na tecnologia de navegação reduziram a duração da viagem à metade, mas a taxa de mortalidade manteve-se elevada neste período devido à natureza ilegal do tráfico.

Durante toda a era do tráfico negreiro, a imundície gerava doenças gastrointestinais endêmicas e a proliferação de agentes patogênicos epidêmicos que, juntamente com as erupções periódicas de resistência violenta, faziam com que entre 12 e 13 por cento das pessoas embarcadas não sobrevivessem à viagem. A taxa modal de mortalidade era bem menor que a taxa média, porque algumas catástrofes ocorridas num número relativamente pequeno de viagens elevavam a média de mortes a bordo.

A mortalidade da tripulação, em termos de porcentagem dos tripulantes que embarcavam, acompanhava a mortalidade de escravos ao longo da viagem, mas como os cativos passavam menos tempo no navio do que a tripulação, as taxas de mortalidade dos escravos eram mais elevadas.

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O mundo do século XVIII era violento, e a expectativa de vida era curta em todos os lugares, uma vez que a revolução da taxa de mortalidade global ainda não havia ocorrido, mas o quociente de sofrimento humano gerado pelo deslocamento forçado de milhões de pessoas em navios negreiros não pode ser comparado ao de nenhuma outra atividade humana.

leia também: 

Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos PARTE I
A escravização de africanos PARTE II
Agência e resistência africanas PARTE III
Primeiras viagens negreiras PARTE IV
Império e Escravidão PARTE V
O lado africano do tráfico PARTE VI

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