Uma consulesa além dos brioches

A jornalista francesa Alexandra Baldeh Loras não isenta a França da responsabilidade pelos atentado ocorridos em Paris. Aqui, ela defende que os valores liberdade, igualdade e fraternidade devem valer para todos

Por Cândida Del Tedesco e Fernanda Cirenza Do Brasileiros

De origem francesa e gambiana, Alexandra Baldeh Loras nasceu em um gueto na periferia parisiense. É a única negra entre seus cinco irmãos. É também a única a ter uma carreira: estudou na tradicional Sciences Po, a mesma instituição por onde passaram

nomes fortes da história de seu país, como os dos ex-pre- sidentes Jacques Chirac e François Mitterand. Casada com o cônsul-geral da França no Brasil, Damien Loras, com quem tem um filho de pouco mais de dois anos, Alexandra está em luto pelas vítimas dos episódios de violência ocorridos no mês passado em Paris, que se iniciaram na redação do jornal Charlie Hebdo e deixaram um saldo de 20 mortos. O caso motiva a consulesa a debater a sociedade francesa. Mas ela avisa que, aqui, fala como cidadã que sofre preconceito em meio à elite dominante.

Apresentação

Hoje, estou tirando meu chapéu de consulesa para levantar meu dever de reserva como esposa do cônsul-geral da França no Brasil. Como estamos defendendo a liberdade de expressão, gostaria de tomar a liberdade de me expressar como cidadã francesa, negra, de origem judaica e muçulmana, que nasceu em um gueto parisiense em Corbeil-Essonnes, o pior da França. Mas tive a sorte de estudar, de me graduar em Jornalismo no IEP (L’École Livre de Sciences Politiques), de Paris, onde se forma a elite política da França, e de ser apresentadora na televisão francesa. Não sou tanto uma exceção entre as minorias do meu país, mas essa trajetória me deu a oportunidade de conhecer os dois lados, as mídias e como as minorias são estereotipadas nas mídias. Eu amo o meu país e tenho medo de uma eventual guerra civil, olhando o desafio de nossa época. Parece que a França se com- porta como um avestruz. Quero falar sobre meu país, que me deu oportunidades para construir valores importantes, como tolerância e abertura da mente. Quero falar do meu ponto de vista, como parte da minoria francesa.

Janeiro de 2015

Antes de falar sobre liberdades, o respeito pela vida humana me levou a condenar esse ataque sem qualificação, que se iniciou na redação do jornal Charlie Hebdo, em Vincennes e em Montrouge. Estou de luto com as famílias das vítimas e com meu país. Sinto muita dor com o episódio porque os próprios franceses fizeram terrorismo contra a França. Não é só o Islã extremista. Os irmãos Kouachi ficaram meses no Iêmen, mas a identidade deles é francesa, nasceram na França.

Vejo as caricaturas de Maomé como um motivo espiritual fundamental, mas além disso há uma ferida maior em nossa sociedade. Nada pode justificar os atentados, mas temos de entender por que esses franceses se tornaram terroristas, para não deixar outros de nossos filhos caírem nessa barbaridade. Estamos colocando R$ 1,5 trilhão na segurança antiterrorista, que é necessária, mas deveríamos investir também nos guetos, que abrigam quase só imigrantes e filhos de imigrantes nascidos na França. Há guetos com quatro mil apartamentos, onde se vive em condições horríveis. Essas construções foram um erro e temos de assumir isso. É preciso ter uma visão humana sobre esses franceses.

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Liberdade, igualdade, fraternidade

O lema francês, para mim, é um ótimo marketing. Vemos a França como o país dos direitos humanos, da liberdade de expressão… Mas eu gostaria que fosse verdade. Outro dia, um brasileiro me disse algo assim: “A França abandonou toda uma geração de seus filhos e, quando filhos não têm pais, procuram outros pais”. É nessa hora que o pai terrorismo pega uma dessas almas. Acredito nisso.

Precisamos entender o que levou essas pessoas para o lado da escuridão. Ainda vivemos umapartheid territorial e social na França, como falou Manuel Valls, primeiro- -ministro, e fico agradecida por ele ter tido coragem de falar sobre esse assunto. Existe uma distorção entre a França mostrada na TV e a realidade no país. Minha tese de mestrado foi sobre a invisibilidade das minorias na TV. Minha conclusão é que os diretores de programação têm na agenda os mesmos filósofos, intelectuais, especialistas científicos. Eles são na maioria brancos, têm entre 50 e 60 anos, são urbanos, da elite. Eles deveriam renovar o painel de intelectuais, incluindo minorias para elevar o debate. Esses intelectuais existem, mas preferem convidar, na maior parte do tempo, um rapper ou um jogador de futebol, o que estigmatiza as minorias. Um dos únicos intelectuais que vemos na mídia francesa é Tariq Ramadan (professor da Universidade de Oxford), de origem egípcia e autor de Radical Reform, Islamic Ethics and Liberation, que nem francês é. É suíço. Outros intelectuais muçulmanos têm pouco espaço para falar da parte moderada do Islã. Essa é a minha dor porque, ao ver o estereótipo das minorias sempre ao redor do esporte, na

música e no crime, é muito difícil se desenvolver em uma república que fala de igualdade. Tem ainda os livros de história que dizem que seus ancestrais eram escravos e foram colonizados pelo povo francês, que o povo francês foi civilizar a África, os povos atrasados. Não tem espaço para falar das grandes civilizações como aquela dos Dogons (leia reportagem em brasileiros.com.br/2009/01/ Em busca dos Dogons).

O Charlie Hebdo

Fazer caricaturas sobre uma comunidade que não tem liberdade de expressão na imprensa… Coloco aqui um desafio de alguém me mostrar quais são os muçulmanos com poder de expressão na França. Charlie era um jornal de esquerda, a maioria de seus colaboradores era ateísta, mas essa liberdade de expressão deles, para mim, incitava o ódio racial. Posso mostrar caricaturas que, para mim, podem ser interpretadas como preconceituosas, racistas, xenófobas e antissemitas. Conheço bem o Charlie Hebdo… Muitas vezes, fiquei chocada ao ver a incitação ao ódio racial. Claro, nada pode justificar esses atentados horríveis e inexplicáveis. Sou pela liberdade de expressão total, mas porque Dieudonné (M’bala M’bala, comediante francês) e Alain Soral (diretor da Egalité e Reconciliation, instituição que publica livros e promove debates de interesse social), por exemplo, são censurados nas mídias? Se o Charlie, o Éric Zemmour, o Finkielkraut têm liberdade para insultar comunidades, por que não podemos fazer piadas com todos? A proibição de queimar a bandeira da França “Bleu Blanc Rouge” também poderia aparecer como censura à liberdade de expressão?

O papel da mídia

Ela precisa educar a sociedade porque é um espelho da sociedade. Mas hoje precisamos produzir conteúdo rápido e fazer buzz (estratégia de marketing que encoraja as pessoas a repassar uma mensagem) para financiar pro- gramas. Os jornalistas que se formam hoje não conhecem os guetos. São de uma mesma elite, com famílias de trajetórias semelhantes, bem-sucedidas, arrumadinhas, com dinheiro e poder econômico. É difícil para eles saberem o que é ser discriminado, não ter acesso a uma boate, por exemplo. Você sabe, muitos negros e árabes são barra- dos em portas de boates francesas só por serem negros ou árabes. Pense também nesse menino, não vou falar o nome dele porque já sofreu o suficiente, que foi mostra- do ao mundo como terrorista, como integrante do grupo que praticou os atentados em Paris (ela se refere a Mourad Hamyd). Ele tem 18 anos e foi apontado pelo mundo como terrorista. É inocente, estava na escola no momento do ataque à redação do jornal, mas criaram páginas na internet, no Facebook, com ameaças. Agora, pergunto como esse garoto vai se reconstruir? As mídias não se dão conta de que estamos machucando os muçulmanos como fizemos nós, franceses, com os judeus anos atrás. Vichy ainda é um tabu. Não queremos enfatizar que mandamos judeus para os campos de concentração. A ideia coletiva é que fomos resistentes, só que ainda existem estátuas, monumentos e ruas com nomes de pessoas que mandaram judeus para os campos de extermínio, como também de grandes escravagistas. O que estamos fazendo com esse tipo de liberdade de expressão é um carimbo semelhante ao que fizemos com os judeus, tentando colocar todos nossos males da sociedade em crise, todos os problemas em cima de uma comunidade discriminada.

Racismo

A maior parte da minha vida escutei, várias vezes por dia, as pessoas me perguntarem de onde venho. Nasci na França, filha de mãe francesa e pai gambiano (África do Oeste). Poderia responder da Gâmbia, do Quênia, da Namíbia, não lhes importava realmente a resposta. Por eu ser mestiça, parecia que as pessoas só queriam me mostrar que não sou francesa. Isso é bastante complexo, porque sou francesa. E quando alguém é machucado sistematicamente, por anos recebe uma beliscada na pele, sempre no mesmo lugar, em algum momento se torna irritado. Claro, não tem de se tornar terrorista para explicar esse incômodo. Isso é inaceitável e imperdoável, mas nosso país precisa elevar o debate, incluir mais as minorias, dar visibilidade a essa França multicultural para essa geração se sentir orgulhosa de ser parte do povo francês. Como no Brasil descendentes de japonees, libaneses e afrodescentes, todos nascidos aqui, se sentem brasileiros. No Brasil, as socialites me falam que não existe racismo: “Este país é tão diverso e não tem racismo…”. Eu retruco: “Olha esse coquetel, onde estão os negros?”. Em geral, sou a única negra e nem sou brasileira. Hoje, eu estava no Hotel Unique, em evento de um banco, olhei para todos os lados e não vi um negro em uma sala de mais ou menos 500 pessoas, grandes empresários e apenas umas 30 mulheres. No aeroporto, nem meu passaporte diplomático funciona. Sempre sou levada como se fosse uma mula na frente dos outros passageiros para o escritório. Ninguém para o meu marido, na França, filha de mãe francesa e pai gambiano (África do Oeste). Poderia responder da Gâmbia, do Quênia, da Namíbia, não lhes importava realmente a resposta. Por eu ser mestiça, parecia que as pessoas só queriam me mostrar que não sou francesa. Isso é bastante complexo, porque sou francesa. E quando alguém é machucado sistematicamente, por anos recebe uma beliscada na pele, sempre no mesmo lugar, em algum momento se torna irritado. Claro, não tem de se tornar terrorista para explicar esse incômodo. Isso é inaceitável e imperdoável, mas nosso país precisa elevar o debate, incluir mais as minorias, dar visibilidade a essa França multicultural para essa geração se sentir orgulhosa de ser parte do povo francês. Como no Brasil descendentes de japoneses, libaneses e afrodescendentes, todos nascidos aqui, se sentem brasileiros. No Brasil, as socialites me falam que não existe racismo: “Este país é tão diverso e não tem racismo…”.

Eu retruco: “Olha esse coquetel, onde estão os negros?”. Em geral, sou a única negra e nem sou brasileira. Hoje, eu estava no Hotel Unique, em evento de um banco, olhei para todos os lados e não vi um negro em uma sala de mais ou menos 500 pessoas, grandes empresários e apenas umas 30 mulheres. No aeroporto, nem meu passaporte diplomático funciona. Sempre sou levada como se fosse uma mula na frente dos outros passageiros para o escritório. Ninguém para o meu marido, que é branco. Ele só se deu conta disso quando se casou comigo. Entendo, porque seria como entregar a causa feminista aos homens! Como vão saber o que fazer pelas mulheres se não são prejudicados, não sofrem como as mulheres? É exatamente o que acontece com as mino- rias. A Assembleia, o Senado, os que decidem as leis de discriminação nunca conheceram o que é discriminação. Fomos, de geração em geração, condicionados a pensar que o racismo e o sexismo são naturais. Durante séculos, uma hierarquia construída declarou que os homens são superiores às mulheres – o direito de voto feminino na França só aconteceu em 1944 – e os brancos aos árabes, pretos e ciganos. É importante lembrar que, quando as mulheres são discriminadas em relação ao homem, é o homem que desfruta dos benefícios. E quando os não brancos são discriminados, são os brancos que se beneficiam. Quer se goste ou não, aproveitam-se dessa hierarquia subliminar, por exemplo, na procura de emprego, no aluguel de uma casa, no registro da universidade. Aqueles que são vítimas dessas desigualdades podem se sentir vulneráveis e ver sua humanidade em dúvida.

Isso pode gerar baixa autoestima, incompreensão, impulso extremo de violência, talvez como no caso dos irmãos Kouachi e Coulibaly, como disse a assistente social que cuidou deles na infância.

A proposta

Temos de abrir o debate, deixar que as minorias entrem na discussão. Precisamos ter a responsabilidade de conviver com a nossa história e assumir o passado. Recontar a história do nosso país, falar para os estudantes que tivemos escravidão, anos de colonização e reconhecer profundamente que foram crimes contra a humanidade. Por causa da colonização, após o período da escravidão, a história da França foi conectada a pessoas de todos os continentes. Essas pessoas passaram por todas as tragédias dos séculos 19 e 20, compartilhando a lama das trincheiras e a luta contra a barbaridade nazista. Essa história colonial e a história da escravidão estão envolvidas na história nacional. Uma pluralidade de legados forjaram nossa identidade e é essencial desconstruir preconceitos que poluem nossa sociedade. O tráfico de escravos, oapartheid, o colonialismo e o nazismo são formas de racismo extremamente violentos. Livros escolares ainda ensinam que o homem branco é superior aos outros. Hoje, a riqueza da França é essa cara multirracial, não adianta a mídia querer distorcer isso. Mas ela insiste.

Fizeram um documentário sobre as parisienses, Sous les Jupes des Filles (em tradução livre, sob as saias das meninas). Escolheram 11 parisienses brancas. Por favor, Paris é supermultirracial e cultural! Basta pegar a Linha 4 do Metrô para ver. Isso, para mim, é um problema de aceitação, não de integração. Temos de usar as técnicas de comunicação não violentas de Marshall Rosenberg, que foram usadas na África do Sul para acabar com apartheid. Imagina, Nelson Mandela ficou 28 anos preso e conseguiu perdoar os que o colocaram na prisão. Precisamos, nessa perspectiva, retomar a visão positiva da imigração pragmática, e não sacrificar os interesses do nosso país por razões eleitorais enraizadas em nossos medos.

Somos todos iguais?

Na França, é proibido contabilizar as minorias porque o primeiro artigo de nossa Constituição, de 4 de outubro de 1958, diz que a França é indivisível, laica, democrática e social. Ela garante a igualdade perante a lei para todos os cidadãos e assim não sabemos quantos são negros, árabes, asiáticos, judeus, ciganos… Cada sistema tem sua falha, a intenção foi boa, tomada para evitar o que aconteceu com os judeus na Segunda Guerra Mundial. Mas agora não temos como enxergar nossas minorias e medir os progressos a respeito da discriminação. Também por isso não temos um sistema de cotas para estudantes como no Brasil. Sarkozy quis implementá-lo e elevar o debate a esse respeito, mas a esquerda falou: “Não, somos todos cidadãos iguais”. Claro, somos iguais, mas quero ver a igualdade entre nós na prática. A qualidade do sistema educativo público não é o mesmo na Porte de Clignancourt como em Saint Germain. Deveríamos nos inspirar em países que tiveram bons resultados, como os Estados Unidos. Morei lá três anos, nunca sofri atos de racismo. Nunca. Morei em Washington D.C., em El Paso, Texas, e em Los Angeles, Califórnia. É claro que tem desigualdade por lá, a população carcerária de maioria negra e latina, as manifestações em Ferguson, mas acho que eles olharam para trás, enxergaram que seus ancestrais cometeram erros e não querem repetir esses mesmos erros. Tem uma evolução enorme, 60 anos atrás os negros não podiam sentar nos lugares reservados aos brancos, mas hoje o homem mais poderoso do mundo é Barack Obama. A mulher mais rica do entretenimento americano é Oprah Winfrey. Os Estados Unidos têm diversidade em áreas dominantes, na mídia, na política. Em empresas poderosas, foi implementado o sistema de cotas. Privando-nos de contabilizar as minorias pelo princípio republicano, perdemos a única ferramenta para avaliar a eficácia das políticas públicas e privadas a respeito da diversidade, como as estatísticas que medem a aceitação de grupos discriminados.

Oprimido-opressor

A dominação vem de longa data. No século 16, exploradores voltavam de suas viagens com insetos e plantas estranhas para serem exibidos. Traziam também autóctones, que eram enjaulados, e as pessoas pagavam para assistir ao humano na jaula. Era algo lúdico, milhões de europeus visitaram esses zoológicos humanos, que mos- travam o lado selvagem da África, em uma mise en scène construída. Isso ficou registrado no inconsciente coletivo. Até quase a metade do século 20, esses zoos permaneceram abertos. Ainda no século 16, o papa criou uma pirâmide das raças. Como era branco, colocou-se em cima e, para escravizar os negros, falou que eles não tinham alma. Foi uma construção econômica. Então, a religião católica também é responsável por crimes contra a humanidade e não falamos que é extremismo. O norueguês Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas, era católico. Ninguém falou em extremismo. Não pedi- mos aos católicos que se solidarizassem com as vítimas dos atentados, como certas pessoas fizeram, na França, com os muçulmanos. Quero dizer aos muçulmanos da França que eles não têm nada a ver com os assassinos e devem se orgulhar de suas identidades, muçulmana e francesa. Fiquei triste em ver que algumas escolas não respeitaram o minuto de silêncio, deve-se respeitar os mortos. Também teria gostado de ver mais diversidade na marcha de união, onde os guetos foram pouco representados. É estranho ouvir o que vou dizer, mas o que está acontecendo é quase uma oportunidade para que todos possam construir algo novo, não apenas para trazer esperança para as minorias marginalizadas. Acredito

que seremos coletivamente mais fortes se formos capazes de corrigir os links quebrados entre as gerações, grupos étnicos, classes e identidade de gênero. E a França poderá crescer graças à pluralidade de seus talentos.

A formação

Na primeira escola pública, o professor me olhou e falou: “Você vai para a classe 6H”. Fui colocada na classe dos bagunceiros por ser negra. Depois, fui para uma escola particular. Mais tarde, estudei em Sciences Po (Instituto de Ciências Políticas). Convivi com meninas que falavam que nunca iriam trabalhar por menos de R$ 30 mil por mês. Eu nem sabia que era possível ter um salário desses! Achava que o máximo era tal- vez R$ 10 mil. Convivi com pessoas que eram de fora do meu ambiente familiar, o que me deu uma abertura para ver o que era possível. Mas tive de trabalhar minha autoestima, meu desenvolvimento pessoal. Precisei desconstruir o que eu acreditava serem limitações na minha vida. Achava que não podia estudar na Science Po, mas encarei meu demônio, minha autossabotagem. E eles me aceitaram. Lá, convivi com pessoas que são de uma mesma elite, me formei, fiz o mestrado. Nasci em um gueto, passei por tudo isso, sou um exemplo de superação entre as minorias. Só que, ainda hoje quando falo que estudei na Science Po, a maioria dos franceses pensa que sou parte de um programa do governo que acolhe estudantes de guetos com as melhores notas no baccalauréat (a escola secundária). Eu apoio o sistema, mas as pessoas não percebem que me insultam com esse comentário. É como se eu, negra, só pudesse estar lá por esse programa.

O casamento

Eu era apresentadora de TV, e o dono do canal havia me demitido, alegando falta de dinheiro. Em um jantar, conheci Damien, que era amigo dele. Nosso relaciona- mento foi rápido, em um ano nos casamos e agora temos nosso filho, Rafael, de 2 anos e meio. Damien gostou do meu lado alternativo. Tive sorte porque a família dele é aberta. É aristocrática, católica, tradicional. Parece rígida, mas me acolheu e estamos felizes.

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