Violência não é (n)amor(o)

Segundo um estudo realizado no âmbito de uma campanha contra a violência no namoro, aproximadamente 20% dos jovens inquiridos (1 em cada 5) confessaram já ter sido vítimas da mesma e cerca 25% (1 em cada 4) admitiram ter sido o agressor na relação.

por Luís Casinhas no Esquerda

A violência no namoro é definida pela APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, como “um ato de violência, pontual ou contínua, cometida por um dos parceiros (ou por ambos)”, na relação, “com o objetivo de controlar, dominar e ter mais poder do que a outra pessoa”. Este tipo de violência não escolhe género e não se dá apenas a nível físico mas também a nível psicológico, sendo que o segundo se torna, por vezes, muito mais agressivo.

Há que esclarecer que a violência não é amor, ao contrário do que uma parte da nossa juventude é levada a pensar, consciente ou inconscientemente. Forçar o outro a ter relações sexuais não é amor. O controlo, por mínimo que seja, dos hábitos, das conversas, das companhias e dos planos da(o) companheira(o) nunca será amor. O ciúme, a agressão verbal, a ameaça, a humilhação pública e a crítica negativa também não podem ser consideradas amor. Não obstante, é o amor que deve estar na base de uma relação.

Olhemos para os números com os quais nos devemos preocupar. Segundo um estudo realizado no âmbito de uma campanha contra a violência no namoro, aproximadamente 20% dos jovens inquiridos (1 em cada 5) confessaram já ter sido vítimas da mesma e cerca 25% (1 em cada 4) admitiram ter sido o agressor na relação.

Imaginemos agora as marcas com as quais quem passou ou passa por situações de violência violência no namoro fica. O medo, a insegurança, a falta de vontade, a redução da autoestima, o estado de espírito depressivo são algumas delas que, para além do facto de não serem ultrapassadas facilmente, influenciam as suas vidas, em aspetos como as relações que tenham com amigos e família, ou possam vir a ter com outra(o) namorada(o) ou o rendimento ao longo do percurso escolar/académico.

Devemos estar atentos aos sinais, procedendo à sua análise, quer façamos parte ou não da relação. Não os podemos negar, legitimar ou sequer considerá-los episódicos, de forma a romantizá-los, visto que ao fazê-lo banalizamos algo que acaba por ter um peso forte na sociedade em que vivemos. O velho ditado “Entre marido e mulher não se mete a colher” tem de deixar de ser levado a sério e se a situação em causa for vista por nós como estranha é necessário denunciá-la.

Para que os jovens de hoje e dos tempos vindouros tenham consciência daquilo que é ou não saudável num namoro e deixem de achar normal o que para eles é a normalidade, para que a juventude não continue a prática de atos agressivos e não se submeta aos mesmos no futuro, a luta é necessária, independentemente dos meios e recursos que existam.

 

Estudante de Gestão na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa

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