Walé Oyéjidé estilista nigeriano fala sobre moda masculina e mais

Enviado por / FonteDo LilianPacce

Diretamente dos EUA, onde mora atualmente, o estilista nigeriano Walé Oyéjidé da marca masculina Ikiré Jones passou pelo Brasil pra ministrar o workshop “Os Cortes da Estética Afro Futurista“, que fez parte da programação do Festival Afreaka em SP nesse último dia 18/06. A gente aproveitou pra conversar com ele sobre moda masculina e moda africana – confira!

Quem são as pessoas atraídas pelo mix de alfaiataria mais estamparia e cores africanas que você promove na Ikiré Jones?

Aprendi muito rapidamente que arte não tem dono. Nenhum artista pode controlar ou prever quem vai apreciar seu trabalho. É como lançar uma reivindicação pra alguém amar uma cor ou uma canção. Arte é pra todos, não importa quem a faz. Portanto, sim, é verdade que sou um estilista africano e que desenho baseado nessa minha herança. Mas as roupas que faço são pra todos apreciarem. O mundo está ficando menor a cada dia. Acredito que se todos abraçarmos culturas diferentes, isso vai nos fazer pessoas melhores, porque nos entenderemos melhor.

O que significa afro futurismo [tema do workshop]?

Imagino que signifique diferentes coisas pra diferentes pessoas. Pra mim, o conceito de afro futurismo é só um jeito de se distanciar dos velhos estereótipos do continente africano. Não necessariamente tem a ver com o reino da ficção científica. Qualquer um que apresente ideias corajosas e inovadoras sobre o potencial africano é um afro futurista.

Quando falamos sobre moda masculina, pessoas ainda acreditam que essa não é uma área de inovação porque homens tendem a ser mais práticos que fashionistas, homens não gostam de mudanças etc. Mas suas criações não vão por aí. Qual é a sua opinião sobre moda masculina, ela está mudando?

Acredito que estamos retornando a uma era em que homens entram na ideia de se vestir de maneira arrojada. Se você vê fotos da geração dos nossos pais, não era incomum homens usarem roupas arrojadas. Algo se perdeu, e homens nos anos 90 e 2000 ficaram preocupados, achando que roupas coloridas não eram masculinas. As coisas estão mudando devagar, e mais homens estão aprendendo a apreciar o espectro total – existe vida além do blazer azul ou cinza!

Em SP, com o festival Afreaka e outros eventos como a exposição “Africa Africans” no Museu Afro Brasil e até em marcas de moda que estudam a estética africana, parece que a África está “in”. Você tem alguma pista do por que isso está acontecendo, e por que só agora?

Bom, pra africanos a África sempre esteve “in”. Acho que estamos chegando em um lugar interessante onde as vozes que previamente eram silenciadas agora são ouvidas. Não é que eu ou outros estilistas antes de mim estamos fazendo algo novo, necessariamente, mas o mundo está começando a prestar atenção. Mas essa atenção pode fugir e pode declinar. Quando a coisa está envolvida com um estilo de vida, ela estará sempre presente. Pra muita gente, questões e estilos da África não são uma mania que será rapidamente esquecida – são a vida deles. Revistas podem parar de falar sobre moda africana ou assuntos africanos no mês que vem, mas sempre estaremos aqui fazendo o nosso.

Parece que nos países africanos as modas que surgem são muito mais ligadas, conectadas com suas origens e com o folclore do que no Brasil, onde as pessoas podem ter medo de parecer fora de moda ou cafonas se elas assumirem a felicidade e a explosão de cor das festividades tradicionais no seu dia-a-dia, por exemplo. Por outro lado, ao que tudo indica as marcas africanas acabam mais atraentes, especialmente entre estrangeiros, por causa dessa exaltação da própria cultura. Você concorda com isso? E qual seria o seu conselho pras marcas brasileiras?

Creio muito no “contar histórias autênticas”. Todos temos algo a aprender uns com os outros. Talvez algumas marcas africanas são respeitadas porque estão contando histórias que refletem sua própria história. Pessoalmente, acredito que todo mundo deveria fazer um esforço pra contar suas histórias pessoais em seus trabalhos. Se todos fizéssemos isso, saberíamos muito mais sobre o próximo. Mas na verdade, o que geralmente acontece é que pessoas tentam mimetizar o que já foi feito por outro. É difícil ser bem sucedido desse jeito. Mas se você conta sua própria verdade, ela sempre será nova e sempre será única. Existe só um Brasil. Nenhum outro país no mundo é como o Brasil. Se eu fosse sortudo o bastante em ser daqui, com uma história tão diferente, tentaria celebrar essa “identidade da diversidade”. Brasileiros tem muito pra se orgulhar, e muito pra ensinar ao mundo. Acredite ou não, isso pode ser feito pelas roupas e pela moda que se inspiram na cultura brasileira. E também acho que não podemos ter medo de confrontar as áreas mais escuras de nossa sociedade e história. Só chamando a atenção pra essas questões e discutindo-as respeitosamente que podemos crescer e nos curar.

Qual seria o seu conselho pra homens que não estão acostumados a usar cores fortes nos seus looks mas querem experimentar?

Experimenta! E aí pergunta a opinião de quem você ama. Prometo que ela ou ele vai gostar. Usar cores fortes não quer dizer que você precisa parecer um palhaço ou um desenho de criança. Existem jeitos deliciosos de vestir roupas “agressivas e gritantes”. Por exemplo: um jeans escuro com um paletó bem colorido e uma camisa branca lisa podem ficar muito elegantes. É como ser um pintor. Você precisa desenvolver um radar de quando está usando cor demais, e quando você ainda não está usando cor o bastante. Nós só aprendemos por experiência e cometendo erros. Você precisa ser corajoso o bastante pra tentar coisas novas. Algumas ideias não vão funcionar, outras vão. É assim que a gente cresce.


Você pode nos dar alguns nomes de homens que você considera estilosos hoje em dia?

Angel Ramos e Sabir Peele.

Você também é um músico de afrobeat, então não conseguimos resistir: precisamos te perguntar alguns nomes novos da música africana!

Alguns músicos que eu gosto e que fazem música inspirada na África são Seun KutiAntibalas, Tony Allen e Ebo Taylor.

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