13 de Maio – Grandes defensores da abolição

(Ilustração: Angelo Agostini)

Uma luta social, política e econômica

Campanha pelo fim da escravidão no país envolveu monarquistas e republicanos

A abolição da escravatura foi um processo secular resultante de mobilizações sociais – inclusive dos próprios negros -, morais, políticas e econômicas.

Da assinatura da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico negreiro, já se passaram 38 anos de intensa campanha abolicionista que se finda agora com a Lei Áurea.

Com exemplos europeus de abolição da mão-de-obra escrava, por um bom tempo, o processo da crítica abolicionista no Brasil concentrou-se em espaços como clubes, lojas maçônicas, associações, cafés e jornais e, aos poucos, estendeu-se à população. Essa foi, segundo o abolicionista Joaquim Nabuco, a primeira fase do movimento pelo fim da escravidão, entre 1879 a 1884, quando “os abolicionistas combateram sós, entregues aos seus próprios recursos”.

Mais tarde, discursos nas tribunas, artigos e poemas em jornais brasileiros e estrangeiros e a forte pressão sobre o Império fizeram
ruir de vez a escravidão.

No geral, todos os republicanos mostravam-se abolicionistas, mas nem todos os que lutaram pela libertação dos escravos preferem
a República. Monarquistas como André Rebouças e Joaquim Nabuco têm sido incansáveis nessa luta pelo fim da escravidão. Muitos
outros são defensores ferrenhos da mesma causa, entre eles Ruy Barbosa, José do Patrocínio e Tobias Barreto. Já falecidos, Luís
Gama e Castro Alves também não podem ser esquecidos nessa batalha.

Mesmo os republicanos tiveram maneiras diferentes de pensar a abolição. O Congresso exprimiu por um bom tempo o pensar dos
paulistas que não adotavam a solução geral e totalmente libertadora. A proposta era que o problema fosse resolvido gradualmente,
conforme o interesse de cada província, aceitando o princípio da indenização, reconhecendo o que alguns chamam de “o direito do
homem sobre o homem”.

Os defensores da abolição

Joaquim Nabuco

Mas a forte pressão social e moral e a redução do interesse econômico pelo negro, que com o tempo passou a apresentar custo
maior que a mão-de-obra livre competitiva, culminaram com a aceitação dos parlamentares pela abolição total dos ainda escravos.

Um pouco antes da proibição do tráfico negreiro, o preço do escravo já subia no mercado com a previsão de que não seriam mais
trazidos negros para o Brasil.

Essa alta manteve-se até 1880, em especial pela forte demanda da lavoura cafeeira. Agora, quando se assina a Lei Áurea, boa parte
da mão-de-obra escrava já foi substituída.

Joaquim Nabuco

Diplomata, historiador, jurista, jornalista e político, Joaquim Nabuco foi o maior porta-voz do abolicionismo parlamentar.
Sua campanha antiescravocrata na Câmara dos Deputados começou em 1878. Fundou a Sociedade Antiescravidão Brasileira, o que mostra sua luta veemente pelo fim do trabalho servil. Ele apresentou projeto de lei em 1880 propondo o fim da escravidão a partir
de 1890, com indenização dos proprietários, o que provocou choque com os mais radicais, que sempre exigiam a abolição imediata e sem
que houvesse qualquer paga aos senhores de escravos. Três anos mais tarde, em Londres, o maçom Joaquim Nabuco escreveu O Abolicionismo, em que defende a abolição legalista, imediata e não mais com indenizações.

Ruy Barbosa

Ruy Barbosa

Escolhido para redigir o Projeto Dantas, precursor da Lei dos Sexagenários em 1885, tornando livre todos os escravos com idade igual ou superior a 65 anos, Ruy Barbosa também destacase entre os defensores do abolicionismo.Seu texto não foi aprovado pela Câmara porque propunha a liberdade dos escravos a partir dos 60 anos, sem que houvesse indenização aos proprietários, o que causou grande revolta dos senhores. Foi aprovada então a Lei Saraiva- Cotegipe, muito menos abrangente.

Iniciou sua carreira política como deputado na Bahia em 1878. Desde os tempos de estudante participou ativamente nas campanhas de combate à escravidão e o faz por meio das associações abolicionistas, da imprensa e da tribuna.

Castro Alves

Castro Alves

O “Poeta dos Escravos e da Liberdade” fez de seus versos palavras fortes na luta pela abolição da escravatura. Nascido em Muritiba (BA), em 1847, Antônio Frederico de Castro Alves morreu aos 24 anos, muito antes da assinatura da Lei Áurea.

Em 1868, em um gesto de coragem, fez a apresentação pública, em uma comemoração cívica onde estavam diversos senhores de escravos, do poema Tragédia no mar, que depois passou a ser chamado de O navio negreiro. A obra é uma crítica ferrenha do  republicano Castro Alves aos maus-tratos a que eram submetidos os negros, desde sua captura até a sua utilização desumana nos latifúndios. Um clássico, o poema foi escrito quando ele tinha apenas 21 anos.

Abolicionistas negros

André Rebouças

André Rebouças

Filho de um advogado mulato autodidata e da filha de um comerciante, o engenheiro baiano André Rebouças engajou-se no movimento abolicionista ao lado de defensores da causa como Joaquim Nabuco.

Monarquista, muito ligado ao Imperador Dom Pedro 2º, a partir de 1872 dedicou-se integralmente à abolição da escravatura, ajudando a criar a Sociedade Brasileira contra a Escravidão e a Confederação Abolicionista. Publicou diversos artigos em jornais contra o trabalho servil, propondo sempre a conciliação entre as classes.

José do Patrocínio

Entre os abolicionistas negros, José do Patrocínio foi incansável até os segundos que antecederam a assinatura da Lei Áurea. Para o jornalista, filho de mãe escrava e de um vigário, “a propriedade escrava é um roubo duplo”.

José do Patrocínio

Natural do Rio de Janeiro, tornou-se muito cedo um articulista famoso. Depois de conhecer a Princesa Isabel, fundou o jornal A Gazeta da Tarde e passou a ser chamado de O Tigre da Abolição. Ao lado de André Rebouças, criou em 1883 a Confederação Abolicionista.

Luís Gama

Luiz Gama

O advogado e jornalista Luís Gonzaga Pinto da Gama era filho de um fidalgo português e da africana Luísa Maheu, de Nagô, que diversas vezes foi presa por estar envolvida com insurreições de escravos. Nascido em 1830, Luís Gama teria sido vendido como escravo, de forma ilegal, pelo seu pai, aos 10 anos. Foi um símbolo do movimento pela abolição em São Paulo, tendo sido responsável pela libertação de mais de mil escravos cativos. Morreu em 1882, seis anos antes da assinatura da Lei Áurea.

Tobias Barreto

Tobias Barreto

Um dos principais nomes do condoreirismo, escola literária da poesia brasileira marcada pela temática social e defesa de idéias igualitárias, Tobias Barreto, assim como Castro Alves, fez de alguns de seus poemas armas para o combate à escravidão.

Além de poeta, Tobias Barreto é filósofo, crítico e jurista. Sergipano, ele se declara o “mestiço de Sergipe”. Em 1868, publicou o poema A Escravidão. De  1871 a 1881, viveu em Escada, em Pernambuco, cidade que teve de deixar após ter alforriado todos os escravos que pertenciam a seu sogro.

Fonte: Transcrição do documento em PDF chamado “Encarte Abolição” publicado pelo Senado.

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