132 anos da Abolição da Escravatura: Estamos livres?

FONTEGustavo da Rocha Silveira, enviado para o Portal Geledés
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No dia 13 de maio de 2020 a Abolição da Escravatura completa 132 anos, uma data histórica para o Brasil e principalmente para a população negra (que teve seus povos ancestrais escravizados, desumanizados e exterminados) e agora, pergunto à vocês prezados leitoras e leitoras: nós negros e negras estamos livres?.

Sou um militante ativista racial em Santa Maria e faço parte do Movimento Negro Unificado (MNU) movimento que nasceu nas escadarias em frente ao Teatro Municipal em São Paulo em 1978, denunciando por exemplo, as altas taxas de pessoas negras desempregadas, as opressões policiais truculentas e cotidiana, exigindo assistência para povo preto que encontrava-se abandonados nas ruas da capital paulistana e principalmente as constantes mortes de pessoas “de cor” ou seja, um verdadeiro extermínio da população negra.

Novamente pergunto para vocês prezados leitores e leitoras: avançamos enquanto população negra e sociedade no geral? Vocês devem estar se questionando: “ele veio esclarecer ou fazer perguntas?”…eu lhes respondo: não vim esclarecer nada, eu vim escurecer os fatos, a história e nossas realidades, pois as coisas já estiverem clareadas durante muito tempo e a população negra segue sofrendo com as ausências do Estado brasileiro. Eu não vim para “clarear”, eu vim para escurecer e se “a coisa está preta” parafraseando letra do rapper Rincón Sapiência, então a coisa está boa, empretecida e e cheia de poder!

Nesses 520 anos de Brasil, 388 foram de corpos negros escravizados, traficados explorados, violentados, torturados, desumanizados e mortos. Misturando a ciência matemática com a ciência história (sim, história é ciência e não é fake news!) temos apenas 132 anos de (re) construção de nossa história, nossas narrativas, nossas crenças, nossa religiosidade, nossa afroestima ( autoestima preta) enfim, nossa Cultura Negra tão rica, maravilhosa, nutritiva e que o Brasil segue com muita hipocrisia segue sendo amamentado, porém uma Nação ingrata.

O fato é que a história desse país é repleta de capítulos de violências contra o povo negro, com tentativas de embranquecimento social, negação da cultura afro-brasileira e genocídio da população negra. Como ser livre em um país, que extermina uma pessoa negra a cada 23 minutos (segundo dados do Atlas da Violência)? Como ser livre em uma cidade, que teve um exército de jovens marchando contra as cotas raciais na Avenida Rio Branco e negando, todo histórico de escravização de pessoas negras e as conseqüências dessas violências? Como ser livre em um país, que as “balas perdidas” encontram por “coincidência” corpos pretos? Como ser livre em um país, onde policiais negros morrem mais do que policiais não negros, mesmo sendo 34% da corporação? (segundo Anuário de Segurança pública). Como ser livre em um país, onde mais de 60% das mulheres vítimas de feminicídio são negras? Como ser livre em país, onde o racismo religioso segue atacando e destruindo Templos de matriz Africana? Onde o encarceramento em massa é de pessoas negras? Como ser livre em país, que desde 1988 tem o racismo considerado como crime, mas 75% das pessoas mortas são negras (segundo o Atlas da violência)? Como ser livre em um país de “Ágatha’s, Marielles’s, Evaldo’s, Gustavo’s* e tantos outros milhões de pessoas negras exterminadas anualmente no Brasil? Estamos completando 132 anos da Abolição da Escravatura nesse 2020 e pergunto novamente para vocês: A sociedade brasileira deve comemorar? Estamos realmente livres? Axé!

*Gustavo Amaral (28 anos) santamariense assassinado em abril desse ano, próximo à Passo Fundo. Nossas Carnes Negras Importam!!!

Gustavo Rocha (AfroGuga)
Ativista do Movimento Negro Unificado (MNU).


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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