14 de Maio: o dia depois da abolição da escravatura

FONTEPor Lucas Viana*, enviado ao Portal Geledés
Foto: Getty Images/Via BBC

Ontem foi o aniversário de 133 anos da abolição da escravatura no Brasil. Segundo recente reportagem do Estadão, a população negra (preta e parda) residente no país é de 119 milhões de pessoas, ou 56% da população nacional.

Antes de qualquer outra coisa, quero deixar nítido que a história negra não se resume ao escravismo colonial. De Timbuktu, no Mali, até as pirâmides do Egito e Sudão, nossos ancestrais desenvolveram refinada cultura. Os africanos estão na história universal!

Negros construíam pirâmides a partir de elevado conhecimento matemático, mas também desenvolveram e desenvolvem pensar filosófico. Inclusive há diversos autores que mostram a relação do pensamento grego com a filosofia egípcia.

Assim, a Grécia antiga não é um indício de genialidade europeia. Foi uma expressão cultural do fluxo de informações e diálogo filosófico entre os helênicos e povos afroasiáticos. A Hélade passa a estar culturalmente na Europa a partir da conquista romana. É um país mais próximo da Ásia. Cientistas negros inventaram o ar-condicionado e a geladeira, dentre muitas outras coisas importantes para a humanidade.

Zera Yacob, na Etiópia, se antecipou à muitas conclusões mais tarde “desenvolvidas” por Locke e Kant. Mas dizer tudo isso é muito óbvio: a inferiorização das pessoas negras foi e é um projeto da Europa, pois isso permitiu que diversos países colonizadores: França, Espanha, Inglaterra e Países Baixos, repartissem a África e as Américas e pudessem lucrar com o comércio e a exploração do trabalho de pessoas escravizadas.

Em 14 de maio de 1888 iniciou-se no Brasil a negação do passado, de um país que viu revoltas quilombolas e populares, feitas em sua maioria por pardos e pretos, escravizados e livres. Revolta dos Malês, Confederação do Equador, Revolta da Balaiada no Maranhão e muita luta contra-colonial. Enquanto isso o Brasil estava de braços abertos à imigração europeia e levantina. Vieram os Malufs, Wajngartens, Sadi, De Bolle e diversos outros, que chegaram e aqui permaneceram com alguns subsídios, dinheiro ofertado pelo Estado, de acordo com o historiador estadunidense George Reid Andrews.

O 14 de maio é também um tapa no racismo, pois sem terra, sem escola, sem direitos, nós não somos 3% da população como previu o eugenista João Batista de Lacerda em 1912, fazendo projeções para 2012.

Somos uma maioria, uns mais claros, outros mais escuros e, como dizia Abdias do Nascimento, há muitos termos para esconder a negritude dos negros brasileiros, mas no fundo todos sabemos que pardo, preto, “pessoa de cor”, moreno, etc, são nomes para um negro. Termino citando Conceição Evaristo: eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer!


Referencias

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,pretos-e-pardos-ocupam-apenas-22-dos-cargos-de-chefia-aponta-estudo,70003714211

Cientista e Inventores Negros – Geledés (geledes.org.br)

Os africanos que propuseram ideias iluministas antes de Locke e Kant – 24/12/2017 – Ilustríssima – Folha de S.Paulo (uol.com.br)

Lucas Viana*, Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Piauí e aluno especial do Programa de Pós-Graduação em Sociologia-UFPI


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 
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