Por Davi Nunes Enviado para o Portal Geledés
Ha 47 anos, 6 de Dezembro de 1969, morria João Candido, o herói negro da Revolta da Chibata. João, mais conhecido Almirante negro, nasceu em 1880 no Estado do Rio Grande do Sul.
O mar para ele era a imagem que compunha aos seus olhos o que se poderia chamar de liberdade. Falo do mar, não da marinha. Essa era grilhão e açoite.
Quando o Almirante negro entrou para Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre, aos 15 anos, depois viajou para o Rio de Janeiro e viu pela primeira vez o mar – horizonte líquido estendido a um esplendor tão grande que se cruzava em seu ponto mais universal e cósmico com a ponta do céu – ele logo se deitou aos seus pés e pediu axé e saber a Iemanjá.
Assim, aos 21 anos, fora promovido a marinheiro de primeira classe e dois anos depois, em 1903, foi promovido a cabo-de-esquadra, sendo depois rebaixado por ter levado, introduzido no ambiente de opressão, que se assemelhava ainda aos tumbeiros da escravização, um jogo de baralho.
Trabalhou na marinha brasileira com protagonismo durante 15 anos, viajou por vários países, agregou em si saberes e culturas que não mais permitiu se submeter às opressões e racismo estruturante da Marinha brasileira.
A punição que acontecia, principalmente aos marinheiros negros, era: por alguma falta leve (poderia ser qualquer distração) prisão a ferro na solitária – cincos dias a pão e água, e faltas (nos critérios deles graves) 25 chibatadas no mínimo.
Por isso em 1910, não só por isso, pois João sabia que era necessário – mesmo já “abolida a escravidão” – a qual os seus pais, João Felisberto e Inácia Cândida Felisberto foram vítimas, lutar para a libertação do seu povo. Era preciso liderar 2400 marinheiros contra as imprecauções racistas da marinha. E fez. Enfrentou os autos escalões brancos da marinha. Ameaçou, para ter os seus direitos conquistados, bombardear a cidade do Rio de Janeiro, lutou heroicamente com todos os seus companheiros, organizaram motins, batalharam e resistiram até o fim.
João Cândido e seus companheiros conseguiram acabar, por fim aos castigos corporais, quebrou as chibatas que cortavam a carne dos marinheiros negros pelas mãos dos oficiais brancos, no entanto fora expulso, renegado da marinha, vindo a trabalhar como timoneiro e carregador em algumas embarcações particulares, tendo depois a sua morte social decretada, pois fora demitido de todos os serviços da marinha por intervenção de oficiais do dito alto-escalão.
Viveu firme, altivo até o fim de sua vida. Conviveu com a perseguição da marinha, com o banzo da morte de sua primeira esposa, Marieta Cândido; o suicídio da segunda, Maria Dolores Vidal, e depois de dez anos dessa tragédia, ocorreu à terceira, o suicídio de sua filha. Levou uma vida de heroísmo e tragédias, fora carcomido pelo racismo e pobreza, faleceu na Cidade do Rio de Janeiro, em 06 de dezembro de 1969.