Na última sexta-feira (16) a Netflix lançou oficialmente o seu primeiro filme original, Beasts of No Nation, que mostra a jornada de uma criança envolvida no meio de uma guerra civil em um país do oeste da África. Baseado no livro homônimo escrito pelo nigeriano Uzodinma Iweala e filmado em Gana, a produção já é um sucesso de crítica, com ótimas notas nos sites especializados IMDB (8) e Rotten Tomatoes (4.4/5).
Um dos filmes mais esperados do ano já está sendo cotado para o Oscar 2016 – em uma possível estreia da Netflix na premiação mais famosa do cinema.
Se ainda assim você está indeciso sobre a qualidade do filme, fique tranquilo: te damos cinco motivos para separar duas horas do seu dia e assistir a Beasts of No Nation assim que puder.
1. É a visão de uma criança sobre a guerra – e a estreia de um talento promissor
Acompanhamos todo o filme pelos olhos de Agu (Abraham Attah), filho caçula de uma família tradicional da África que passa a sofrer os horrores e mazelas de uma guerra civil. Só isso já traria curiosidade para assistir ao filme, mas a atuação de Attah visceral e, graças a isso, tudo parece ganhar uma dimensão ainda maior. O garoto foi descoberto enquanto jogava futebol em Gana, seu país natal, e apesar de já ter declarado que “não irá abandonar os estudos mas pretende continuar com a carreira de ator”, está ganhando muita moral no universo das artes: em setembro deste ano, venceu o prêmio de Melhor Jovem Ator por Beasts.
2. A pessoa por trás das câmeras é Cary Fukunaga
Você pode não saber de quem estamos falando – e talvez não o reconheça pela foto -, mas Cary Fukunaga foi responsável por um dos melhores programas de TV dos últimos anos: a primeira temporada de True Detective (HBO, 2014). Ainda que o roteiro de Nic Pizzolatto fosse bom e as atuações de Matthew McConaughey eWoody Harrelson tenham chamado atenção da crítica, foi o olhar intenso e sagaz de Fukunaga que fez a série brilhar.
Em Beasts of No Nation, o diretor americano assina não apenas a direção como também a adaptação do livro para as telas, e mostra que a Netflix acertou em cheio na hora de convidá-lo para assumir essa bronca.
3. É (mais uma vez) a consagração de Idris Elba
Falar de Idris Elba é chover no molhado: o ator inglês que ganhou destaque na série americana The Wire e provou sua versatilidade indo de papéis em fantasias comoThor e Prometheus até personagens complexos e icônicos (Luther, série da BBC, eMandela: Long Walk to Freedom, filme baseado na autobiografia de Nelson Mandela) mostra, mais uma vez, que é um dos atores mais subestimados de sua geração.
Em Beasts, Idris interpreta o ‘Comandante’, figura sem nome que serve como líder do grupo rebelde que incorpora e treina Agu. A figura do personagem se mostra quase divina perante seus comandados, e muito disso se dá pela imponência de Elba – mais com olhares, expressões e tom de voz do que em demonstrações de poderio físico. O próprio protagonista do longa, Abraham Attah, assumiu que ficou com mais medo de Idris do que das cenas de violência que filmou – e não foram poucas.
Sua atuação nesse filme prova, mais uma vez, que seu talento é subestimado por uma indústria racista – basta reparar na declaração de Anthony Horowitz, autor do último livro de James Bond que, quando perguntado sobre as especulações de Idris para viver o espião nos cinemas, disse que ele era “muito ‘das ruas’ para o papel”. Quem perde, nesse caso, é o próprio 007.
4. É um marco na história da Netflix
Até o lançamento de Beasts of No Nation, a Netflix só havia criado conteúdos originais com documentários e séries. Agora, a (já) gigante do entretenimento entra no mercado de filmes próprios – e faz sua estreia esbanjando moral. Sem nenhum medo de exibir cenas de sexo e violência que seriam censuradas em qualquer canal tradicional, a produtora mostra que está disposta a desafiar a HBO no quesito ‘selo de qualidade’ – e na total liberdade para suas mentes criativas. O longa é apenas o primeiro de uma extensa lista – que passa por uma comédia de Judd Appatow até um possível blockbuster estrelado por Brad Pitt. Uma coisa é certa: a briga da Netflix com os estúdios de Hollywood está esquentando cada vez mais.
5. Você não irá assistir a apenas “um filme de guerra”
Na superfície, Beasts of No Nation é, sim, um drama de guerra, mas basta meia-hora sentado à frente da TV (ou do monitor) para perceber que o que virá pela frente é muito mais do que isso. Todos os personagens se mostram mais que suas cascas e estereótipos (especialmente o Comandante e Agu) e, mesmo em sequências violentas, é possível entender que a vida de alguém em meio a uma situação de guerra vai além das fronteiras do conflito.
De amizades perdidas a laços familiares (de sangue e ficcionais), passando pela perda da inocência de pessoas mergulhadas até o último fio de cabelo numa realidade cruel e devastadora, Beasts of No Nation consegue trazer à tona uma série de temas e nuances surpreendentes – e o faz de maneira sutil, em se desviar do foco da história ou abusar dos clichês, que estão ali mas não incomodam.