59% dos brasileiros querem mais representatividade LGBTQIA+ na política

Pesquisa Luminate/Ipsos aponta que, embora o Brasil seja o que mais mata LGBTQIA+ no mundo, o país lidera o apoio a representatividade na política entre países latino-americanos

FONTEPor Aline Gouveia, do Correio Braziliense
(Foto: Marcello Camargo/Agência Brasil)

No mês do Orgulho LGBTQIA+, uma pesquisa do Instituto Ipsos, divulgada nesta terça-feira (27/6), mostra que 59% dos eleitores brasileiros querem mais representatividade desse público na política. Apesar do país ainda liderar o ranking dos que mais matam gays, bissexuais, travestis e transgêneros no mundo, o levantamento apontou que, entre os países da América Latina, o Brasil é o que mais apoia a presença de pessoas LGBTQIA+ em espaços de poder e cargos políticos.

A pesquisa, encomendada pela fundação global Luminate, também identificou que as mulheres brasileiras são as que mais endossam o aumento de representatividade política. Entre o eleitorado feminino, o apoio é de 65%, enquanto que entre os homens é de 53%. O Brasil é seguido pela pela Argentina (55%). Logo após aparecem Colômbia e México, com o mesmo percentual de 51%.

Para 66% dos eleitores, a diversidade de vozes na política é essencial para a manutenção da democracia. “As pessoas querem e merecem uma democracia verdadeiramente representativa, na qual todos e todas, inclusive as pessoas LGBT+, possam participar ativamente da construção de uma sociedade mais justa. A versão da democracia que elas esperam ver no futuro inclui todas as cores do arco-íris”, afirma Felipe Estefan, vice-presidente da Luminate para a América Latina. 

Ainda segundo o levantamento, 54% se mostram totalmente confortáveis tendo mulheres lésbicas assumindo um cargo de liderança política. No caso de homens gays, a proporção é de 53%, e para pessoas trans, 49%. O estudo também revela que o apoio à presença LGBTQIA+ na política está mais relacionada a uma perspectiva de promoção de igualdade entre os indivíduos do que a possibilidade dessas pessoas apresentarem tomadas de decisões diferenciadas. 

Em contrapartida, 22% concordam completamente ou em partes com a afirmação de que pessoas LGBT+ não deveriam ocupar cargos públicos por não representarem a maioria da população. A  adoção de cotas para essas pessoas por partidos políticos, a fim de contribuir para mais representatividade, tem apoio de 31% — o menor índice entre os países latino-americanos pesquisados.

“As pessoas LGBT+ enfrentam desigualdades, violências e discriminação na América Latina. Garantir sua participação na vida política é fundamental para evitar retrocessos e avançar na garantia de seus direitos. Além disso, elas agregam perspectivas plurais a temas que interessam a toda a sociedade. Precisamos trabalhar coletivamente para que elas encontrem espaço nos partidos políticos, tenham condições de concorrer e ser eleitas e estejam seguras para exercer uma liderança que promova direitos e igualdade para todas as pessoas”, pontua Felipe Estefan.

“Brasil está virando a página”

Para o vice-presidente da Luminate na América Latina, o aumento de apoio da presença de pessoas LGBTQIA+ na política se deve a atuação contínua dos movimentos sociais. “Quando pessoas e comunidades são atacadas, elas precisam encontrar maneiras de sobreviver e serem ouvidas. O alto apoio a uma maior representação LGBT+ na política é uma resposta aos ataques e à violência que a população LGBT+ enfrenta no Brasil”, diz Felipe.

“Vimos um aumento brutal de violências contra pessoas LGBT+ nos últimos anos, violência essa que passou a ser mais amplamente denunciada por novas vozes ativistas e vozes que inclusive estão na política nacional, colocando também o tema na agenda — nesta legislatura temos duas mulheres trans, uma mulher lésbica e outra mulher bissexual eleitas para a Câmara Federal, por exemplo”, continua o especialista.

Felipe ainda lembra que a Parada LGBTQIA+ de São Paulo é a maior do mundo — e isso foi sendo construído com o tempo e bastante luta. “Historicamente, o movimento tem organização desde a década de 1980. São quatro décadas de construção de base e conexões regionais e internacionais que fazem do Brasil um país-referência para a luta LGBT+”, afirma. Segundo ele, a pesquisa mostrou que a ideia de que essa população esteja dentro da política institucional se consolidou e que o “Brasil está virando uma página”.

“Apesar deste apoio, existe uma percepção mais frágil (embora no Brasil esta percepção seja a maior entre os quatro países) do diferencial que pessoas LGBT+ adicionam à política institucional, seja por sua atuação pró-direitos desta população, seja por suas contribuições em temas de extrema importância para a agenda nacional. A visão universalista da inclusão política tende a ignorar ou reduzir os desafios e barreiras únicas que enfrenta a população LGBT+. Consequentemente, existe menos apoio a medidas afirmativas, como cotas partidárias, e pouca valorização do voto afirmativo. O desafio apontado, no entanto, não é novo: a população brasileira ainda não apoia majoritariamente medidas afirmativas também em outros temas”, emenda Felipe.

No entanto, o especialista chama a atenção para o fato de que o cenário atual não aponta para o pessimismo, mas sim para um otimismo realista. “Quem não vê o problema com nitidez enxerga menos a solução. Devemos entender as barreiras e atuar para superá-las, tal como fizeram tantas pessoas LGBT+ eleitas e candidatas das últimas eleições, que foram históricas”, conclui.

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