Museu remove busto do ex-presidente do COI por causa de “legado racista”

O Museu de Arte Asiática de São Francisco (Estados Unidos) retirou o busto do ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) Avery Brundage de seu saguão por causa de preocupações com seu “legado racista”.

O busto foi inaugurado pela Comissão de Arte Asiática em 1972 e está no hall de entrada desde então, em homenagem ao patrono fundador da instituição, conforme noticiado pelo The New York Times.

Brundage, que havia representado os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Estocolmo 1912 no atletismo, atuou como Presidente do COI de 1952 a 1972, tendo ingressado como membro em 1936.

Ele morreu em 1975 e se opôs ao boicote aos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim durante seu tempo como Presidente do Comitê Olímpico Americano, como era então chamado.

Houve pedidos, liderados por políticos nos EUA, de boicotar os Jogos por causa de preocupações com a moral de apoiar uma Olimpíada em um país liderado por um regime nazista.

Havia preocupação nos Estados Unidos com o tratamento do líder do Partido Nazista Adolf Hitler ao povo judeu, sua crença na raça superior e como seriam tratados os atletas judeus e negros representando os EUA em Berlim em 1936.

Brundage argumentou que a política não tinha lugar no esporte, alegando: “Os Jogos Olímpicos pertencem aos atletas e não aos políticos”.

Em dezembro de 1935, a União Atlética Amadora dos Estados Unidos votou no envio de um time para Berlim em 1936, com Brundage desempenhando um papel fundamental no resultado final, com maioria dos voto favoráveis a participação.

O benfeitor do Museu também expulsou os atletas afro-americanos Tommie Smith e John Carlos dos Jogos Olímpicos Cidade do México 1968, após o protesto de luvas enegrecidas no pódio após as medalhas de ouro e bronze nos 200 metros. Brundage considerou as ações da dupla uma declaração política doméstica imprópria para os Jogos.

O diretor do Museu de Arte Asiática Jay Xu alegou que não estavam totalmente cientes do passado controverso de Brundage até 2016, quando os funcionários estavam se preparando para as comemorações do 55º aniversário do Museu.

Em uma carta aberta no início deste mês, publicada em resposta ao assassinato de George Floyd em Minneapolis, que levou marchas ao Black Lives Matter em todo o mundo, Xu abordou a questão espinhosa da história do Museu.

“Se nos orgulhamos de ser os guardiões de uma coleção de arte histórica, devemos lidar com a própria história de como o nosso Museu surgiu”, escreveu Xu. “Avery Brundage, cuja coleção forma o núcleo desta instituição, adotou visões racistas e anti-semitas.

Removemos o nome dele das iniciativas do Museu, mas ainda precisamos abordar essa história de maneira totalmente aberta e transparente. Somente condenando publicamente o racismo de Brundage e examinando os fundamentos de nosso museu podemos nos tornar uma fonte ainda maior de cura e conexão.

“Abordar esta história é apenas um começo modesto.” acrescentou. “Devemos garantir que medidas anti-racistas sejam fundamentais para todo o trabalho e processos do Museu, e para a experiência de todos os visitantes”.

“Nosso museu ainda está aprendendo como podemos alimentar o tipo de interseccionalidade que nos alia a movimentos maiores e promover mudanças dentro de nossa própria instituição”.

“Devemos envolver nossas comunidades em busca de orientação, discernimento e parceria e agradecer todos os comentários, sugestões e críticas. Dessa forma, podemos evoluir para um museu que seja verdadeiramente para todos” concluiu.

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