A barreira à ascensão dos dirigentes negros no alto escalão do futebol

Mauro Silva, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol.ALEXANDRE BATTIBUGLI

Dominado por presidentes e executivos brancos, cúpula da bola reproduz racismo que dificulta trajetória. Entre os 20 clubes que disputam a Série A, apenas Goiás e Grêmio mantêm diretorias de futebol chefiadas por negros

Por Breiller Pires, do El País

Mauro Silva, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol. (Foto: ALEXANDRE BATTIBUGLI)

Mauro Silva perdeu o pai aos 12 anos. A mãe, Luzia, não deixou de incentivá-lo a perseguir o sonho de se tornar jogador, desde que cumprisse uma outra obrigação: “Só vai jogar bola se estudar”. Em Campinas, enquanto treinava nas categorias de base do Guarani, o volante cursou processamento de dados no colégio técnico e concluiu a faculdade de informática antes de conquistar o tetracampeonato mundial com a seleção brasileira. Ele observa que a formação, complementada por especializações em finanças e gestão no futebol após encerrar a carreira nos gramados, foi fundamental para que se tornasse o único dirigente negro na linha sucessória de poder das federações nacionais.

Vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), o ex-jogador de 51 anos entende que a escassez de negros em posições de comando está associada à desigualdade social. “Por estar nas camadas mais pobres, o negro sai em desvantagem em relação à formação.” Ressalta, porém, que a capacitação deve sempre se sobrepor à vivência de campo tão exaltada por colegas que pararam de jogar e transitam para o campo administrativo, independentemente de cor e etnia. “Muitos jogadores cometem o erro de achar que só o conhecimento empírico, aquilo que viveu no campo, é suficiente para exercer outra atividade.”

Também campeão do mundo, formando a zaga titular ao lado de Lúcio na campanha do penta, Roque Júnior sabia que o empirismo não seria suficiente para dar continuidade a sua trajetória no futebol. Fez MBA em gestão e marketing esportivo, estágios na Europa e com Luiz Felipe Scolari, no Palmeiras. Tirou licenças do mais alto nível para poder comandar equipes brasileiras e europeias. No entanto, ao contrário de contemporâneos da seleção como Rogério Ceni e Juninho Paulista, ainda não recebeu oportunidades em cargos executivos ou de treinador nos grandes times.

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