A Deusa do Ébano é o título mais relevante do Carnaval de Salvador

Lorena Xavier Silveira Bispo, 22, eleita Deusa do Ébano 2025, a rainha do bloco Ilê Aiyê - Foto: Amanda Ercília/GOV-BA

A 44ª Noite da Beleza Negra, realizada no sábado (15), na Senzala do Barro Preto, no bairro do Curuzu, em Salvador, foi marcada pela celebração da cultura afro-brasileira e pela escolha da nova Deusa do Ébano.

Promovido pelo bloco afro Ilê Aiyê, o concurso coroou a dançarina e comunicadora Lorena Xavier Silveira Bispo, de 22 anos, como sua rainha para o Carnaval de 2025.

Lorena Bispo, moradora do bairro de Itapuã, já havia sido, em 2023, Rainha do Malê Debalê, bloco afro das margens da Lagoa do Abaeté, responsável por relevar talentos da dança afro da Bahia. Ela também conquistou o segundo lugar na edição de 2024 da Deusa do Ébano, sendo eleita princesa do Ilê Aiyê.

A seleção realizada pelo Ilê Aiyê há 44 anos reverteu a lógica dos concursos de beleza baseados exclusivamente em padrões eurocêntricos, ao valorizar os traços da negritude e afirmar a beleza das mulheres negras, maioria da população da cidade e também das visitantes que chegam a Salvador para curtir o Carnaval.

Assim, a Deusa do Ébano pode ser considerado o título mais importante do Carnaval de Salvador, superando em relevância, representatividade e impacto cultural a escolha do Rei Momo, da Rainha do Carnaval e até da música mais tocada da festa.

Isso se deve à relevância histórica do bloco Ilê Aiyê, que completou 50 anos em 2024, elevando a autoestima das pessoas negras e recontando a história da presença negra no Brasil e no mundo.

Todos os anos, a Noite da Beleza Negra é prestigiada por artistas, políticos e admiradores do bloco, além de provocar uma acirrada disputa entre as concorrentes. O evento reuniu 15 finalistas, de 19 e 35 anos. Com empenho no figurino e na dança, elas disputaram a coroa anteriormente ocupada pela dançarina e empresária Larissa Valéria Sá Sacramento, de 30 anos, Deusa do Ébano 2024.

A noite contou com performances de dança, música e poesia que destacaram momentos emblemáticos da história do Ilê Aiyê, ressaltando as ações de educação, combate ao racismo e luta por direitos.

A homenageada da edição foi a estilista Dete Lima, filha de Mãe Hilda Jitolu (1923-2009), yalorixá do terreiro onde o bloco foi fundado, no bairro do Curuzu, em 1974. Responsável pelos figurinos do bloco e pelas amarrações que adornam as cabeças das rainhas e princesas, Dete Lima teve seu trabalho reconhecido como essencial para a estética e a identidade do Ilê Aiyê.

O tema do desfile de 2025, “Kenya: Berço da Humanidade”, promete uma celebração ainda mais grandiosa da ancestralidade africana, reforçando o papel do bloco como guardião da história e da cultura negra no Brasil.

O Ilê Aiyê desfila nos dias 1º, 3 e 4 de março (sábado, segunda e terça de Carnaval), no circuito mais tradicional da folia, o Campo Grande. Antes de ocupar o centro da cidade, o bloco realiza um emblemático ritual de saída na cantada Ladeira do Curuzu, desfilando pelo bairro da Liberdade.

Ao longo dessas cinco décadas, os desfiles do Ilê Aiyê levaram para o centro do Carnaval a história das civilizações africanas, as lutas por independência, heróis e heroínas negras e pautas ainda reivindicadas pela população negra brasileira, como o acesso ao poder.

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