A encíclica “Lumen Fidei” expressa as trevas do catolicismo romano – Por: Fátima Oliveira

Foto: João Godinho

Nas soleiras da Jornada Mundial da Juventude, de 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro, o papa Francisco lançou a encíclica “Lumen Fidei” (“A Luz da Fé”), a primeira escrita por dois papas: a primeira de Francisco e a última de Bento XVI, que consta de quatro capítulos em 85 páginas: o primeiro, “Acreditamos no amor”, sobre a escuta do chamado de Deus; o segundo, “Se não crerdes, não compreendereis”, aborda a relação entre a fé e a verdade; o terceiro, “Transmito o que recebi”, trata da nova evangelização; e o quarto, “Deus prepara uma cidade para eles”, sobre fé e o bem comum.

Por: Fátima Oliveira

O que é uma encíclica ou carta encíclica (“epistolae encyclicae”/”litterae encyclicae”)? É um documento pontifício, instituído por Bento XIV (1740-1758), dirigido aos bispos e, por tabela, aos fiéis. É através de uma encíclica que o papa exerce o seu magistério ordinário. Embora não seja definidora de um dogma, ela objetiva atualizar a posição da Igreja Católica Apostólica Romana sobre um tema.

A “Lumen Fidei”, que oficializa o ponto final das ideias ratzingerianas na Santa Sé, foi escrita por Bento XVI para completar a sua trilogia sobre as três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade – “Deus Caritas Est” (“Deus é amor”, 2005) e “Spe Salvi” (“Salvos na esperança”, 2007) –, mas, como ele renunciou (em 11 de fevereiro de 2013) antes de sua publicação, num gesto de solidariedade, o papa Francisco a concluiu.

O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, declarou que, nela, o papa explica “em linguagem acessível, o que é a fé… É uma encíclica que tem muito de Bento XVI e tudo do papa Francisco… É, ao mesmo tempo, um símbolo de unidade, pois, ao assumir e completar a obra iniciada pelo seu predecessor, o papa Francisco dá testemunho com ele da unidade da fé…”.
Circulam diferentes opiniões sobre a “Lumen Fidei”, das quais destaco a de Vittorio Bellavite, coordenador nacional de “Noi Siamo Chiesa”, e a de Leonardo Boff.

O primeiro, em nota à imprensa, disse que, “salvo uma melhor releitura, parece-me que a encíclica, sem dúvida rica em reflexões e sugestões, revela, até de maneira demasiado explícita, a mão ratzingeriana… A reflexão da encíclica “Lumen Fidei” poderia ser importante, se não estivessem ausentes questões de caráter mais pastoral ameaçando a vida dos crentes e da Igreja, e que são, me parece, ‘conditio sine qua non’ para uma nova evangelização do terceiro milênio”.

Boff, em “Primeiras impressões sobre a encíclica ‘Lumen Fidei'”, declara que “a encíclica não traz nenhuma novidade espetacular que chamasse a atenção da comunidade teológica, do conjunto dos fiéis e do grande público. É um texto de alta teologia… Vê-se claramente a mão de Bento XVI, especialmente, em discussões refinadas de difícil compreensão até para os teólogos, manejando expressões gregas e hebraicas, como soe fazer um doutor e mestre”.

Li a íntegra do documento. Não há novidade, apenas oficializa a condenação do casamento entre pessoas do mesmo sexo: “O primeiro âmbito da cidade dos homens iluminado pela fé é a família; penso, antes de mais nada, na união estável do homem e da mulher no matrimônio”. A “Lumen Fidei” é uma encíclica homofóbica, que se junta à encíclica “Evangelium Vitae” (João Paulo II, 1995), que considera o aborto crime abominável, para perseguir, além das mulheres em geral, lésbicas e gays, explicitando que o catolicismo romano é intolerante e arrogante: acha que pode ditar regras para a humanidade.

 

 

Fonte: O Tempo 

-+=
Sair da versão mobile