A etnia luo: o povo de Barack Obama em estilosa celebração

(Foto: João Godinho)

ENFIM, A CASA BRANCA CONTINUA PRETA E LAICA

Por: Fátima Oliveira

 

Madrugada correndo, e eu acuada pelo “pinoquismo” midiático que, por meses, martelou um suposto empate técnico entre Obama e Mitt Romney. Um alívio sonolento a tuitada de Obama com sua foto abraçado a Michelle: “Quatro anos mais. Isso aconteceu por causa de vocês. Obrigado”.

Só dormi após o placar, que, hoje sabemos, dava vitória folgada, no voto popular e em delegados ao colégio eleitoral, com os resultados da Flórida: Obama, 332 delegados; e Mitt Romney, 206. Vitória suada, como disse Eliakim Araújo, em “Ricos contra pobres nos EUA”: “Obama é vidraça e Romney, atiradeira… Obama é o melhor, embora não seja nenhuma maravilha”.

Ao que adendo: um presidente dos Estados Unidos, seja quem for, jamais será uma maravilha, dada a natureza escorpiônica da prática imperialista, mas, para o mundo, é menos doentio quando quem preside os EUA é um democrata. Daí a torcida pró-Obama e contra o fundamentalismo do Tea Party (Partido do Chá).

Para as mulheres do mundo, uma perseguição a menos, pois “Romney se opõe à Roe v. Wade, decisão de 1973 da Suprema Corte que defende o direito da mulher ao aborto”, e é contra os subsídios federais para planejamento familiar. Obama mantém a opinião de que “as escolhas de uma mulher quanto à sua saúde são decisões pessoais, são tomadas da melhor forma com seu médico – sem a interferência de políticos”.

Quando acusado de baixo compromisso com a “questão racial”, tem uma frase pronta: “Não sou o presidente dos Estados Unidos dos Negros, sou o presidente dos Estados Unidos da América”. Tem de governar conforme a lei. Logo, nada de ilusões, além do dito em 2009 por sua filha Malia: “Ser o primeiro presidente negro vem com uma grande responsabilidade”. Para muitos, ele – que tem pai negro, um queniano da etnia luo; mãe branca, descendente de irlandeses da aldeia de Moneygall; e padrasto asiático – aprendeu a ser unificador, constatação implícita em célebre frase num programa de Oprah Winfrey ao falar que jantares de sua família “são sempre uma mini-ONU, com parentes de todas as etnias”.

De Kogelo, povoado nas proximidades do lago Vitória, no oeste do Quênia, Mama Sarah, 90 anos, avó de Obama, deu duas declarações. A primeira, antes das eleições: “Eu rezo por ele, para que Deus o ajude… É uma disputa dura. Se for a vez dele, Deus o deixará triunfar”. No dia seguinte à reeleição, ela, singela e altivamente, disse: “Venceu pela graça de Deus. E, também, porque sabe amar as pessoas, não gosta de divisões. Por isso ganhou”, e arrematou: “Tentou uma segunda vez e ganhou”. Ela expressou com fidelidade a filosofia do povo luo, o povo ancestral de Obama, que habita o Quênia há milhares de anos.

Para Mark Weisbrot, codiretor do Centro para Investigação Econômica e Política, a reeleição de Obama “estava prevista pelas pesquisas eleitorais do Princeton Electin Consortium e do Fivethirtyeight.com. Não foi uma surpresa, a não ser para a maioria dos meios de comunicação e os especialistas que fingiam que havia uma disputa acirrada” e que “a campanha democrata foi vitoriosa porque conseguiu convencer a maioria dos eleitores de que Romney e os republicanos se importam apenas com os ricos”. Leila Cordeiro, em “A vitória de Obama e o racismo explícito” (8.11.2012), declarou que, “depois da reeleição de Obama”, começa “a pensar se, além da rivalidade, não existiu, latente e implícito nas atitudes dos conservadores, o velho e enferrujado preconceito, que, por séculos, tomou conta do país de Tio Sam…”.

Enfim, a Casa Branca continua preta e laica.

 

Fonte: O Tempo

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