A Geni do Nobel da Paz atende pelo nome de Barack Obama

Foto: João Godinho

Fonte: O Tempo –

Por: Fátima Oliveira –

“De tudo que é nego torto/ Do mangue e do cais do porto/ Ela já foi namorada/ O seu corpo é dos errantes/ Dos cegos, dos retirantes/ É de quem não tem mais nada.”

 

São versos de qual música? E os seguintes: “Joga pedra na Geni/ Joga bosta na Geni/ Ela é feita pra apanhar/ Ela é boa de cuspir/ Ela dá pra qualquer um/ Maldita Geni.” Versos de “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque, 1978.

Perfeita para Obama! Ouvindo-a, entende-se porque ele virou a Geni do Nobel da Paz. Até parece que o Nobel da Paz emerge de uma eleição ou consenso mundial! Ou é um dado matemático?

É piração demais pra minha beleza e a mais completa tradução da rebimboca da parafuseta! Conforme a Fundação Nobel, “O prêmio Nobel da Paz é quase sempre atribuído a pessoas ou organizações que estejam envolvidas num processo de resolução de problemas, não necessariamente já alcançaram seus objetivos”.

Tenho a honra de ser uma das 52 brasileiras indicadas ao Nobel da Paz 2005, ao lado de mil mulheres do mundo, num esforço político internacional de divulgar o empenho cotidiano de inúmeras mulheres pela paz. Destacando que indicação é diferente de sugestão, a força política e moral da indicação ao Nobel da Paz em si é um dos reconhecimentos públicos de vidas marcadas pelo respeito à alteridade e a busca do bom e do melhor para o ser humano e a humanidade.

Através de “uma” visão do conceito de paz, que não é universal, o Nobel da Paz é uma premiação de base meritocrática, que inclui subjetividades, expressa a visão do comitê sobre a política hodierna e retrata a conjuntura política da escolha, considerando a história de vida, da pessoa ou da organização, no momento da avaliação, pois em nenhuma categoria o Nobel pode ser póstumo ou prospectivo.

De 1901 a 2009, das cerca de 120 pessoas (com meia dúzia de instituições) que receberam o Nobel da Paz, apenas sete eram negras, contando com Obama: Albert Lutuli (1960), presidente do Congresso Nacional Africano, primeiro negro agraciado com o Nobel da Paz, África do Sul; Martin Luther King (1964), pastor batista, Estados Unidos; Desmond Tutu (1984), bispo anglicano, África do Sul; Nelson Mandela (1993), ícone contra o apartheid e ex-presidente da África do Sul; Kofi Annan (2001), diplomata, eleito secretário-geral da ONU em 1997, Gana; e Wangari Maathai (2004), bióloga e ambientalista, Quênia – única mulher do pequeno grupo de negros laureados.

Obama é negro Nobel da Paz por mérito. É imoral dizer que ele não possui lastro suficiente para ser laureado. Diferentemente do que dizem alguns, não tem de provar ao mundo que o merece, já provou! Todavia, seus detratores e reticentes insistem em querer mudar as regras do jogo para ele! Os “contra” urram que não merecia; os do “fogo amigo”, declaram que foi prematuro, ou reduzem a uma aposta e, quando muito, a um investimento.

E haja útero para tergiversações que dizem uma só coisa: Obama, mais que a Geni do Nobel da Paz, é a Geni do mundo. O Comitê do Nobel da Paz não é um tribunal de santificação. Obama não foi indicado a santo, logo nada a ver com beatificações.

Motivos da gritaria de máscara “realpolitik” justiceira, que encobre um viés ideológico racista? É buscar descobrir quais os pontos em comum entre os negros e as genis (prostitutas) aos olhos da ideologia racista e da moralidade cristã. É por aí. Explica a visão de mundo que sataniza as genis e atribui a negros a sina de Geni.

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