A internet invisível

(Foto: Lucíola Pompeu)

Nos habituamos a chamar de nativo digital o pessoal que nasceu depois da internet. No Brasil, em escala comercial, o diálogo entre computadores surgiu em 1995. Com os smartphones e tablets, a partir de 2007, foi a vez dos nativos polegares: bebês que pressionam o polegar na tela enquanto sugam o peito da mãe. Mas, de certa maneira, todos somos nativos de alguma tecnologia. Minha geração, por exemplo, foi nativa da televisão – desembarcada no país em 1950. No disco rígido da memória, não retenho nenhuma sala de estar sem TV. É claro, elas eram de tubo, preto e branco, com BD – baixa definição. Mas a garotada se amarrava. Olhos vidrados no Nacional Kid, Vigilante Rodoviário, Almoço com as Estrelas. Do mesmo jeito que os pequenos de agora, queríamos ação, emoção, ilusão. Três palavrinhas que, desde a Idade da Pedra, têm os humanos como nativos.

Por Fernanda Pompeu  Do yahoo

Meus pais nascidos na década de 1930 foram nativos da energia elétrica. Cresceram acendendo interruptores e levando alguns choques ao enfiarem o indicador na tomada. Tenho certeza que eles se espantavam quando meus avós falavam de lampiões de gás e de querosene. Igualzinho ao espanto do adolescente de hoje, quando os mais velhos narram: “Na minha época não tinha internet. Nem se sonhava com celulares. Rede social era festa no apê”. Os nativos digitais fazem cara de dó ao saberem que as cartas eram escritas à mão, levadas ao correio, seladas, despachadas. Mas havia o outro lado da moeda: o coração disparado quando às vezes, meses depois, chegava a resposta. A canção dos cariocas Aldo Cabral e Cícero Nunes, gravada em 1946, canta isso melhor: Quando o carteiro chegou / E o meu nome gritou / Como uma carta na mão / Ante surpresa tão rude / Nem sei como pude / chegar ao portão/ (…) Tanta verdade risonha / Ou mentira tristonha, uma carta nos traz / Assim pensando rasguei sua carta / E queimei, para não sofrer mais.

O que existe de comum entre todos os nativos, independentemente das datas de nascimento, é a capacidade de desfrutar de uma tecnologia sem percebê-la. Eu assistia à TV sem me perguntar como equando ela havia sido inventada. Para mim ela era tão natural quanto o pé de mamão que havia no quintal da casa. Idem para o telefone – preto, pesado, de disco. Ele estava sobre a mesinha do corredor com igual naturalidade que o Wi-Fi está por toda minha casa hoje. Nem noto. Nem penso. A internet para a garotada tem a idade das formigas que zanzam e atazanam na pia da cozinha. Aliás, vale a pergunta: formigas são nativas do quê?

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