A moda papal vintage e a simplicidade franciscana falam por Fátima Oliveira

AO INVÉS DE O CARNAVAL TER ACABADO, COMEÇOU OUTRO…
A moda papal vintage e a simplicidade franciscana falam

 

Em meio à overdose papal das últimas semanas e ao deslumbre midiático com a operação de cosmetologia que chega ao Vaticano, um misto de estilo jesuíta e do jeito franciscano de ser, reservo-me o direito de esperar a primeira encíclica do papa Francisco na certeza de que os temas palpitantes de direitos humanos não serão olhados com misericórdia, pois integram as chamadas “questões doutrinárias” católicas, e já foi dito, à exaustão, a respeito do louvor do papa a elas.

Ao contrário do que disse o papa, que “o Carnaval acabou”, é perceptível que apenas começou outro… “Minutos após o resultado da eleição no conclave ter sido declarado na Capela Sistina, o mestre de cerimônias do Vaticano ofereceu ao novo papa a tradicional capa vermelha decorada com pele, que Bento XVI usava com orgulho em cerimônias importantes. ‘Não, obrigado, monsenhor’, teria afirmado o papa Francisco. ‘Você pode vesti-la. O Carnaval acabou!”. (BBC, 16.3). Foi uma direta, ou indireta, à moda papal vintage de Bento XVI?

Publicações de moda eclesiástica ou clerical falam da fixação de Bento XVI em vasculhar vestes antigas de papas e reeditá-las em alto estilo: reabilitou o camauro, “o mais comum dos chapéus nos retratos papais históricos – do latim camelaucum (chapéu de pele de camelo), originalmente os chapéus dos imperadores bizantinos”; o chapéu Saturno; a mozetta, espécie de capa até a altura do cotovelo, em desuso desde Paulo VI.

Para a analista de moda Lola Galan: “Ratzinger deixou clara sua preferência pela pompa das roupas litúrgicas arcaicas, pré-conciliares”. Ele disse que “a magnificência das vestes serve para a Igreja comunicar-se com o mistério e a divindade”. Bento XVI é um ícone da moda eclesiástica e um papa ‘fashion’, que usava óculos escuros da Gucci e sapatilhas Prada (o Vaticano nega!).
As más línguas dizem que o luxo acintoso das roupas do papa tinham o dedo do seu secretário particular, desde 2003, o lindo arcebispo titular de Urbisaglia e prefeito da casa pontifícia, desde 2012, Georg Gänswein, o “George Clooney do Vaticano”, que inspirou Donatella Versace, que o vê como um “sex symbol”, a criar, em 2007, uma coleção com o nome dele; e, depois, a linha masculina Gänswein.

O papa Francisco usará os sapatos vermelhos? Talvez. “A tradição de os papas usarem sapatos vermelhos tem uma longa história… Eram feitos de simples couro vermelho de Marrocos e tinham uma cruz dourada. João XXVIII acrescentou fivelas douradas, eliminadas pelo seu sucessor, Paulo VI. Contudo, o antecessor de Bento XVI, o papa João Paulo II, preferiu os normais sapatos castanhos (…).

Em ‘Why Does the Pope Have Red Shoes?’, livro que responde a questões das crianças, Georg Gänswein explica o significado dos acessórios vermelhos: ‘vermelho é a cor do martírio, do amor ardente e da chama do Espírito’. Daí ser a cor preferida no vestuário de Bento XVI” (“Moda papal”, “Portugal Têxtil”, 2008).

Os jesuítas são especialistas em comunicação e mais que ninguém sabem o exato valor do ditado popular “o hábito faz o monge” – a confirmação de que a moda não apenas fala, mas como uma vestimenta pode afetar processos cognitivos. Com a moda clerical, particularmente a papal, não é diferente. E ela funciona como uma vitrine. De modo que a simplicidade franciscana do papa jesuíta tem de estar em correspondência com as vestes de suas aparições públicas. O que não é um pormenor… A moda papal também fala: “Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”.

Fonte: O Tempo

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