“A Onda” investiga possibilidades de renascimento fascista

Fonte: Brasil de Fato-
Por Michelle Amaral da Silva última modificação

Película alemã mostra surgimento de um regime autárquico numa sociedade que enfrenta problemas econômicos e crise de auto-estima

Lançado no Brasil há um mês, o filme alemão “A Onda” dá uma ideia do perigo da difusão de ideias ultraconservadoras. Para os que não acreditam no renascimento de regimes fascistas, não poderia ser mais didático. A película seria apenas uma elaboração sociológica qualquer não fosse uma peculiaridade nada desprezível: a história se sustenta em fatos reais. Numa escola alemã, um professor carismático e despojado é escalado para ministrar a disciplina Autarquia. Especializado em Anarquia, o personagem protesta contra a direção da escola, sem resultado. Nas primeiras aulas, os alunos demonstram não acreditar na possibilidade de ressurgimento de regimes autárquicos, já que a democracia liberal estaria consolidada porque “as pessoas estão mais bem informadas”. O professor resolve, então, aplicar um exercício de criação de uma micro-sociedade autárquica, liderada por ele. Aos poucos, estudantes e instrutor se deixam seduzir pelo experimento, que ultrapassa os limites da sala de aula e sai completamente de controle.

O filme representa mais uma tentativa, comum na cinematografia alemã, de fazer autocrítica de sua história através do cinema. O país gerou a mais famosa experiência de autocracia: o nazismo. Entretanto, o curioso é que o caso real inspirador do filme ocorreu numa nação que se autoproclama a democracia mais estável do mundo, os Estados Unidos. Em 1967, na Califórnia, o professor Ron Jones criou o movimento A Terceira Onda, motivado pela dificuldade de seus alunos de compreender como o povo alemão foi conivente com o extermínio de judeus. Proclamando os benefícios da ordem e exaltando a busca de poder através da disciplina, criou um microcosmo fascista. Embora represente incontestável crítica à Autarquia, o filme não deixa de ser duro com diversos elementos da democracia liberal predominante no planeta. Antes do experimento, o individualismo e a alienação eram a tônica dos jovens alemães.

A Onda (Die Welle) – Alemanha, 2008. 1h41min. Roteiro de Peter Thorwarth e Dennis Gansel. Direção de Dennis Gansel.

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