A política do possível foi pro brejo

Edson Lopes Cardoso

Os resultados pífios, algumas vezes  mesmo desmoralizadores, mostraram  em 2009 os limites da política do possível conduzida pela representação negra no Congresso e no Executivo de diferentes níveis de governo.

É sintomático, aliás, que não haja um relatório, um depoimento, uma avaliação que nos permita dimensionar quais os obstáculos encontrados por um punhado de gestores negros no exercício de funções de Estado.

Deixamos escapar, com os quase oito anos de governo Lula, algo real e possível? Este é o sentimento que predomina. Ou, como querem alguns, nada era mesmo real ou possível? A propósito, quais as atribuições e responsabilidades nesse processo  de entidades negras e de agrupamentos partidários  da base do governo?

Que interlocuções políticas não puderam ser estabelecidas no primeiro ou no segundo escalão? Predominou a inércia? A inserção negra, ainda que periférica, enfrentou alguma barreira institucional? Quais são os atores relevantes – quem impediu o quê? O silêncio implica a inexistência de problemas institucionais?

Por falar em silêncio, o que houve na Câmara dos Deputados? Sejamos francos, qual foi o papel da base do governo na construção do desastre do Estatuto da Igualdade Racial, cuja aprovação demandava amplo apoio? Quem definiu a curvatura, a renúncia diante das forças conservadoras? Quem avaliou positivamente o impacto daquela peça de sujeição no processo eleitoral?

Os países, inclusive o Brasil, que se recusaram a assinar o frágil acordo de Copenhague expuseram suas razões à mídia internacional, não é verdade? Então, é ou não é um caso  grave de patologia política se assinar um acordo francamente desfavorável e depois sair por aí cantando vitória?

O que falta? A meu ver teremos  ainda que aguardar( e muito) o desenvolvimento de formas de ação coletiva que permitam ir além dos pedidos de passagens, de apoio para a confecção de cartazes, etc., e façam valer a radicalidade da pressão política. Essas formas de ação política não deverão ser centralizadas por nenhum partido. E não o serão.

P.S. Assisti há pouco ao programa eleitoral do PSOL na tevê. Quero registrar que não há nenhum partido, conservador ou progressista, que abra mão hoje de um(a) apresentador(a) negro(a). É, ao que parece, uma daquelas normas não escritas de atualização do marketing político. De todo modo, uma alegoria de grande força expressiva. Simboliza a pouca efetividade de nossos direitos políticos. Parece dentro, mas está fora.

Fonte: Ìrohin

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