A resiliência semeando sonhos

Um menino negro retinto, pobre da periferia de São Paulo… 

Um desejo de perder a timidez, dançando… 

Um Reencontro com a dança…

Uma realização…

Uma carreira como um do principais bailarinos de duas grandes Cias de Dança do Brasil…

Um sonho,  de semear Sonhos…

Escola de Formação em Danças Preferencialmente para Pessoas Negras…

 

Nasceu em setembro de 1965, um menino negro de pele escura, o caçula de uma família com cinco irmãos, filho de Pai taxista e Mãe empregada doméstica.

Na primeira infância morou na periferia da Cidade Ademar, um bairro na Zona Sul de São Paulo, com a irmã do segundo casamento, e 3 irmãos do primeiro casamento do Pai.

Aos 12 anos mudou-se para Pedreira, bairro também na Zona Sul de São Paulo. No início era um quarto, cozinha e um banheiro sem chuveiro, tomavam banho em uma bacia, foram períodos bem difíceis, as circunstâncias não faziam sentido algum.

Com 15 anos ao compartilhar com o pai o desejo de fazer aula de dança, vivenciou na pele a falta de diálogo, a repressão, e o machismo. 

Mas a providência sempre providencia. Por coincidência, naquela rua para onde se mudou, as pessoas ali, em sua maioria eram de famílias negras. Aquele contexto se tornou o ambiente perfeito, as conexões começaram a se interligar, e tudo caminhou como deveria caminhar.

Com seus 16 anos, no auge da adolescência veio a fase das danceterias, a febre das discos, os grandes bailes da Black Music. Sextas, sábados e domingos eram os dias mais esperados por grande parte da comunidade Negra. Para o menino adolescente, o que ele mais sonhava e desejava era quando finalmente chegava o final de semana. Então o ritual acontecia: a melhor roupa, o tênis mais bonito, cabelo penteado estilo “Black Power”, perfumado. Saíamos em quatro ou cinco amigos, e lá no salão encontrávamos os demais.

Os bailes eram as grandes válvulas de escape para ele. Mas sem entender o por que, o momento mágico e sublime – que era dançar nas pistas de dança – não acontecia. A vergonha, timidez, introspecção, impotência, raiva, todos estes sentimentos o deixavam em um estado sólido sem movimento e expressão. Então, ele mais uma vez voltava para casa triste e decepcionado.

Com 17 anos, ao realizar sua primeira aula de dança, tudo começou a fazer sentido. Ele esqueceu do mundo, dos problemas, das angústias, dos sofrimentos, não tinha mais raiva, agressividade, ódio. Dissolvia essas amarguras dançando. A dança mudou a relação com o sonho, com o desejo. Descobriu o que gostava. 

Passou a lutar pelo seu sonho: dançar.

Seguindo alguns conselhos de pessoas queridas que compartilhavam com ele o mesmo amor de ser livre através do dançar, começou a frequentar, naquela época, algumas escolas de balé.

Sentia, mas não entendia ainda o Racismo estrutural.

Aos 18 anos realizou o alistamento obrigatório nas Forças Armadas, durante 1 ano e 6 meses cumpria o serviço Militar na Aeronáutica. Nem pensou em parar de dançar, intercalava o serviço militar com aulas de balé, chegou a ir na escola de balé fardado: ao chegar lá, trocava o uniforme militar pela malha de balé.

Dos 19 anos até os 22 anos, realizava uma média de quatro a cinco aulas de dança por dia, sendo que, dessas aulas, três eram dedicadas às técnicas de Balé Clássico. 

1985 – 1987: Academia Joyce Ballet (SP), sob a direção de Joyce Kherman.

 Cia de Dança Jazz Fusión de Roseli Fiorelli

A providência conduz….. e através de ações “ELA” providencia…

Em 1987, um convite inesperado: surge a oportunidade de fazer uma aula teste em uma das melhores companhias contemporâneas de dança do Brasil – o Balé da Cidade de São Paulo.

A convite do diretor artístico da época, Milton Kennedy passa a fazer parte do seleto elenco de bailarinas e bailarinos profissionais do Balé da Cidade de São Paulo.

Durante os dez anos seguintes, faz aulas com grandes mestras e mestres do balé e dança moderna e contemporânea como:

Balé Clássico: Alphonse Poulin, Alexander Alexandrov, Jair Moraes, Toshie Kobayashi, Addi Ador, Neyde Rossi, Ivonice Satie, Ismael Guiser, Renato Baroni, Liliane Benevento…

Dança contemporânea e moderna: Raymundo Costa, Holly Crawel, Sônia Mota, Denise Namura, Gícia Amorim, Miriam Druwe, Israel Villa, Daniela Stasi, Susana Yamaushi, João Maurício…

1997: Indicação ao Prêmio Mambembe de melhor bailarino.

1998 – Estágio no Centro Internacional de Dança Tradicional Contemporânea Africana na cidade de Toubab-Dialaw (Senegal), a convite especial de Germaine Acogny, 

1999 – 2000: Déborah Colker Cia de Dança (Rio de Janeiro), sob a direção de Déborah Colker 

2000 – 2006: retorna ao Balé da Cidade de São Paulo, como bailarino

Foto: Silvia Machado

TOURNÉES 

Brasil, França, Portugal, Suíça, Áustria, Argentina, Alemanha, Turquia, Israel, Senegal, Canadá, Estados Unidos, Sérvia, Espanha.

 

PRINCIPAIS COREÓGRAFOS

Déborah Colker, Germaine Acogny, Gagik Ismailian, Ivonice Satie, Henrique Rodovalho, Ohad Naharin, Sandro Borelli, Susana Yamauchi e João Maurício, Vasco Wellenkamp, Angelin Preljocaj, Rami Levy, Luis Arrieta, Oscar Araiz, Rodrigo Perdeneiras, Victor Navarro, Hans Kresnik, George Garcia,…

2005: Coordenou dois Workshops de Dança Contemporânea na cidade de Murcia (Espanha), durante os dias 8 a 12 de novembro na Escola de Dança Groetsch e na Escola Superior de Arte Dramática de Murcia.

Desde 2005 até presente data, ministra aulas de balé clássico para crianças e adolescentes, na ONG Projeto Gerações 

De 2006 até 2017 atuou como mestre de balé do Balé da Cidade de São Paulo.

2010: Ministrou aulas de balé clássico para o grupo Ivaldo Bertazzo. 

2010 – Formado em Bacharel e Licenciatura em Educação Física, pela Faculdade F.M.U.

2011, 2012, 2013 atuou como preparador corporal para  Cia Antônio Nobrega de dança. 

Desde 2016 é convidado pelo Festival de Joinville para ministrar aulas de Barra-à-Terre e Preparação Física para Bailarinos.

2018 –  Centro de Referência da Dança (CRD) São Paulo, com aulas de balé clássico para bailarinas e bailarinos negros 

Atualmente é professor de técnica clássica e Preparação Corporal, da Escola de dança de São Paulo.

Especialização em Barra Solo (Técnica de Chão)

Conclusão do Programa de Certificação em Pilates pelo The Pilates Studio Brasil

Foto: Silvia Machado

Semeando sonhos 

Em 2019 – Idealizou e dirige a Ayodele Balé Escola de Formação em Danças, preferencialmente para pessoas negras (crianças e adolescentes) e as não negras de baixa renda.

Ayodele Balé Escola de Formação em Danças, surgiu como instrumento de transformação, com o propósito de “SEMEAR SONHOS” da população negra de todas as regiões da grande São Paulo. 

Visando diminuir o impacto da desigualdade social entre as pessoas negras e as não negras. 

Uma resposta interna aos estímulos externos desta sociedade onde o preconceito e a discriminação ainda se encontram presentes no consciente e no subconsciente de todas e todos.

Uma movimentação de tomada de consciência da auto afirmação, auto valorização, auto reconhecimento e auto conhecimento das nossas diversas capacidades e potencialidades.

É uma escola profissionalizante em diversas danças, destinada predominantemente ao público de pessoas negras ou não negras de baixa de renda. Contempla quatro pilares principais: danças de matrizes africanas – danças brasileiras – dança contemporânea e ballet clássico – tendo como filosofia proporcionar direitos iguais e condições de qualidade em ensino de cultura e arte. 

Sendo assim, no final da formação, a/o bailarina/o estudante poderá estar em condições de dar aulas das diversas modalidades de dança, prestar audições em companhias profissionais (tanto no Brasil quanto no exterior), musicais e pequenos grupos e seguir carreira solo.

 

Tendo como missão:

Evoluir, Progredir, Desenvolver, Transformar, Atualizar, Caminhar, Melhorar, Crescer, Expandir, Aperfeiçoar, Fortalecer, Educar, Ensinar, Aprender, Ouvir, Ver, Pesquisar, Orientar, Conduzir, resgatar, Trazer, Deixar, Desapegar, Fortalecer e Empoderar.

Foto: Silvia Machado

Tem uma proposta Artística, Física, Pedagógica e Política.

 

Resgatando a nossa Cultura e ancestralidade.

 

Por Reparação, Justiça, Visibilidade e Desenvolvimento.

Para que juntas e juntos possamos semear sonhos, das crianças e adolescentes. 

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 

 

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