A Saúde Mental e a Mulher Negra

FONTEPor Kelly Cristina Dias, enviado para o Portal Geledés
Nadia Snopek/Adobe

Compreender essa questão como uma aproximação e não algo intrínseco em si nos leva a enxergar esta relação como um processo. Logo contribuir para a evolução e reflexão deste, nos remete e nos coloca em contato com algumas indagações e percepções a cerca dessa relação, sim relação, entre a mulher negra e a saúde mental. Além de historicamente a psicologia ter se posicionado de uma forma extremamente elitista e se tornando inacessível a camada mais pobre da sociedade, lugar este onde a mulher preta se encontrava e ainda se encontra majoritariamente diga-se de passagem, compreendemos que na atualidade, o movimento de compreensão, estudos e pesquisas assim como a superação desse distanciamento da psicologia em relação às questões raciais nos abre uma porta de interação segurada as várias mãos para que não se feche.

Compreender as demandas da população negra, e seguindo um recorte para a mulher preta, vai para além do grau de dificuldade em faze-lo, e por diversas de vezes percebemos que a uma ausência total de vontade. Em nome de um status quo onde a sociedade se posiciona em uma relação de poder sobre o corpo da mulher preta, quando olhamos sob uma ótica mais aprofundada do que isso representa, descobrimos que além do corpo temos a tentativa de controle e manutenção também da subjetividade da mulher preta. Dentre as diversas possibilidades de opressão  versus e a saúde mental da mulher negra, o quanto essas práticas se mostram com o potencial de  retardar essa aproximação mulher negra/saúde mental, assim como também suas motivações podem paralisar ou  dificultar todo processo e avanços, urgentes e fundamentais para a vida da mulher negra.

 Observar que a objetificação da mulher negra, não se fez e se faz presente apenas em relação ao seu corpo, como também em relação as suas dores os levam a primeira idea de poder sobre a subjetividade. A sociedade ao mesmo passo que inflige a mulher preta, as piores experiências subjetivas de existência seja ela social, econômica, educacional, infere e culpabiliza a mesma em seu processo de adoecer, infligindo através da representação do papel da mulher preta que “não sofre”, ou que é forte pelo seu “não” sofrimento, pelo não reconhecimento e até mesmo pela negação da dor. Consequentemente esta identificação com a qual desumaniza, fragiliza e pode causar uma insegurança muito grande lidar com os próprios  sentimentos pelo simples fato de não lhe ser permitido vivencia-los em sua totalidade, sofrimento é uma manifestação legitima humana e a partir do momento em que não se respeita este direito está se desumanizando o sujeito a níveis de coisificação. 

A ideia de que sempre está ou deve estar acima de suas dores , sem “tempo” para sofrer, ou ainda, que sua força e sua “negritude” só será reconhecida a partir de que se cumpra uma  exigência social a qual te impele a se distanciar, não vivenciar e não elaborar a sua a próprias dores revela-se muito mais como um artifício que dificulta e que dependendo do impacto na construção subjetiva da mulher preta  impossibilitando-a o reconhecimento das variadas ferramentas de opressão a qual é submetida. logo “mulher preta é guerreira” pode ir muito além de um simples elogio quando entramos em contato com o que de fato significa simbolicamente “guerreira” para quem o disse.

Os impactos destas práticas na saúde mental e na subjetividade da mulher negra pode impedi-la de reconhecer as redes de apoio, justamente pelo não reconhecimento de que se precisa dele. Assim como na atualidade muitas discussões acerca das especificidades da população negra em relação a sua subjetividade permitindo que essas e outras discussões se façam presentes no campo da Psicologia, permitindo-se avançar no que diz respeito não só a compreensão, mas também o alcance da para a população. Assim faz-se necessário compreender as nuances e condicionantes que envolvem esta construção e desconstrução da mulher preta , no que diz respeito a apropriação subjetiva e o quanto estás práticas são uma relação de poder que pode comprometer  todo um processo de pertencimento e autonomia lhe impedindo de discriminar quando e onde procurar ajuda quando necessário.

Novamente então falamos de violação de direitos, apropriação dos corpos negros e da tentativa de manutenção e controle da subjetividade da mulher preta. Possibilitando uma aproximação consciente, além de necessária entre a saúde mental e a mulher negra.

Que a descoberta que a mulher preta tem os mesmos direitos ao acolhimento, tratamento e atenção, seja estimulada e compartilhada por todos envolvidos nas questões raciais neste país,  e que o entendimento dos múltiplos fatores individuais e ambientais envolvidos nessa construção, facilite a compreensão da necessidade de reflexão e trocas saudáveis de informação que estimulem e fortaleçam cada vez mais a ideia, de que a mulher preta pode e deve se sentir como quiser, e assim convertam-se enfim em a saúde mental DA mulher negra.

     

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. S.Paulo: Boitempo, 2016 [1981]

PERROT, Michelle. Os Excluídos da História: Operários, Mulheres e prisioneiros. Rio       de Janeiro: Paz e Terra, 2006.


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 

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