“A teledramaturgia brasileira precisa se inspirar nos seriados”, diz Lázaro Ramos

Em passagem pelo Recife, o ator Lázaro Ramos – que protagoniza o filme O Vendedor de passados, exibido no domingo no festival Cine PE – encorajou os debates sobre o formato da televisão no futuro. Para ele, a TV on demand (quando o telespectador escolhe os próprios horários) não pode ser ignorada, assim como os serviços de TV a cabo que concorrem com os canais abertos, mais tradicionais. “A teledramaturgia brasileira precisa se inspirar na inquietação dos seriados, transmitidos por canais pagos e por streaming, que às vezes narram uma novela de 200 capítulos em apenas 20”, explica.

Ele menciona séries como Scandal, How to get away with murder eBreaking Bad como exemplos de títulos que ousaram nos temas e abordagens. “As primeiras mostram o personagem negro livre de estigmas, como fizemos em O Vendedor de passados, enquanto a última usa o gancho da metanfetamina. Quem poderia imaginar que Breaking Bad daria tão certo? E quem planejaria essa trama, que envolve um mercado ilícito?”, questiona. Lázaro defende que a televisão brasileira deve ousar mais.

Para ganhar bagagem nos bastidores das telinhas e também do cinema, o ator tem investido em colaborar com a produção dos títulos nos quais também atua. Pretende, em breve, investir na carreira de diretor. “Os enredos e sua viabilização servem como escola, objeto de estudo. Eu me alimento deles”, diz. E destaca, entre os principais objetivos, responder à pergunta: “Como levar cada tipo de produção ao seu público-alvo?”. Para ele, essa é a chave para reestruturar a teledramaturgia e o cinema como os conhecemos.

>> ENTREVISTA: Lázaro Ramos
Como funciona sua contribuição na produção dos filmes?

Colaboro e também atuo. Funciona mais como um estudo pessoal. Indico o nome de um ator para o elenco, ajudo com pesquisas, dou opiniões. Precisamos entender que uma produção audiovisual não se encerra nas telas. Ela se prolonga nas reações do público. É isso que quero provocar, estudar, entender.

Você diz ter vivenciado uma fase de efervecência cultural no Recife, onde viveu durante algum tempo. Do que se recorda dessa época?
Vim ao Recife no início dos anos 2000, com o espetáculo A Máquina. Assisti a vários shows do Cordel do Fogo Encantado, bebi no Soparia Bar, visitei vários museus. Foi aqui que aprendi a vivenciar e valorizar a cultura popular.

Você diz preferir títulos menos comerciais. A que gêneros se refere?
Prefiro produções mais criativas, ousadas. Não significa que o comercial, como a comédia, não seja bom. E tem seu público. Mas há também o suspense, o drama, o romance, que não podemos esquecer. Devemos investir no diferente do óbvio.

 

 

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