Abel Neto relata que é vítima de ofensas racistas em estádios brasileiros

Com a presença da atleta transgênero Isabelle Neris, jogadora do time de vôlei Voleiras, o programa Bem, Amigos! de segunda-feira (3) promoveu um debate sobre discriminação no esporte. Presente na atração, o repórter da TV Globo Abel Neto contou que já foi vítima de ofensas racistas em estádios de futebol.

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”Muitas vezes. Até hoje quando vou a algum estádio, dependendo do estádio tem alguns xingamentos. Em português claro: macaco. Na verdade, esse tipo de falta de educação, de intolerância, tem relação com todo mundo, independente de ser negro. Às vezes é por bairrismo, já vi mulheres repórteres, ofensas, xingamentos. São coisas que existem, infelizmente, não só no Brasil, mas em todas os países no mundo, mas que a gente tem que enfrentar”, disse Abel, quando questionado pelo apresentador Luis Roberto sobre o assunto.

”Acho que todo mundo é igual, mulher, negro, branco, japonês, índio. Enfim, se você tem a oportunidade e vai atrás, você consegue. Ainda bem que é minoria. A maioria é carinhosa, é respeitosa com o nosso trabalho. Em relação a entrar no mercado de trabalho, não (sofri), mas a gente ainda enfrenta esse tipo de coisa desagradável no dia-a-dia dependendo do ambiente”, relatou.

”Acho legal a gente refletir. Pode início de uma coisa que daqui a dez anos vai ser totalmente diferente e que hoje tem o preconceito, a discriminação, tem xingamento, gente que não aceita. Pode mudar muito e está sendo um pontapé inicial”, completou o repórter.

Ja Isabelle Neris contou um pouco de sua história no esporte e disse que se inspirou em Tiffany Abreu, outra transgênero brasileira que conseguiu liberação para jogar vôlei na Itália.

”Ela foi minha inspiração. Na semana que vi a notícia que ela conseguiu a liberação pela Federação Internacional de Vôlei, eu estava pensando em desistir já. Era como dar murro em ponta de faca. E ela mandou uma mensagem muito bacana pra mim. Falou: ‘Não desista. Se é o que realmente quer, vá atrás’. Ela conseguiu a liberação, eu aquilo me deu um boom de energia. Ela que me ajudou a não desistir e ir atrás dos meus sonhos”, contou.


Reprodução/Sportv

”Fui introduzida no vôlei pelo projeto do Bernardinho lá em Curitiba. Eu sou curitibana. Acabei conhecendo o vôlei, me apaixonei e desde então não parei de jogar mais. Faço tratamento hormonal já há oito anos e durante esse período vem baixando os níveis de testosterona. Fiz um exame, que é exigido pelo COI (Comitê Olímico Internacional), para apresentar na Federação Paranaense de Voleibol e que era um dos requisitos para competir com naipe feminino”, disse.

”Quando comecei nas categorias de base, era tudo misto”, prosseguiu. ”Quando quis dar continuidade, tentei fazer testes para jogar com naipe masculino, só que era nítido que meu nível técnico, a minha força, não era para o masculino. Gostava do vôlei e não queria parar e para continuar no masculino, não ia conseguir. Já estava querendo dar início ao processo de transformação, aí comecei a jogar e treinar com as meninas e ter um melhor desempenho.”

Isabelle ainda falou sobre preconceito que sofreu e que por pouco não a faz desistir do seu sonho no esporte: ”Várias vezes, inúmeras vezes cheguei para jogar e pessoas iam embora. Falavam: ‘Se ela vir jogar, não vou jogar’. Foram situações bem constrangedoras. Falavam: ‘Seu lugar não é aqui, o que você está fazendo aqui com a gente?’. Cansei de ouvir isso, só que pensava assim: ‘Por que que não posso estar aqui? Uma das funções do esporte é acolher, não é segregar’. Se é o que realmente amo, gosto e não estou prejudicando a terceiros, porque não posso estar aqui?. Então, com esse pensamento, continuei”, declarou no programa, que teve também a presença do Dr. Fabiano Nave, endocrinologista esportivo, bem como demais debatedores e Rogério Micale, técnico da seleção olímpica de futebol que foi medalha de ouro na Rio-2016.

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