Alunos de escola particular de SP fazem protesto no Shopping Pátio Higienópolis contra abordagem racista de segurança do local

Protesto ocorreu dentro do estabelecimento após dois alunos do Colégio Equipe sofrerem racismo no local. Mesmo no fim do protesto, uma professora negra relatou que, enquanto fazia um discurso, um segurança se aproximou de uma mulher branca e questionou se ela 'estava bem', como se a professora representasse uma ameaça.

Colégio Equipe - Foto: Alessandra Haro

Alunos do Colégio Equipe, em Higienópolis, fizeram uma manifestação nesta quarta-feira (23), após adolescentes negros – estudantes da escola – denunciarem uma abordagem racista por parte de um segurança do Shopping Pátio Higienópolis, ocorrida no dia 17 de abril.

O caso ocorreu na praça de alimentação do Shopping. Uma adolescente branca, também estudante da escola que estava no local, foi questionada pela segurança se uma garota e um garoto negros, que estavam perto dela, a estariam incomodando ou pedindo dinheiro.

Manifestantes fazem ato em resposta ao episódio de racismo sofrido por alunos do colégio Equipe no shopping Pátio Higienópolis. – Danilo Verpa/Folhapress

O ato começou por volta das 13h, em frente ao Colégio Equipe, também em Higienópolis, e seguiu em caminhada até o shopping. Com bandeiras e cartazes contra o racismo estrutural, o grupo era formado por dezenas de estudantes, pais e professores. Também se juntaram a eles manifestantes contrários à remoção de famílias da favela do Moinho, no Centro de São Paulo.

Ao longo do trajeto, o grupo cantava e entoava palavras de ordem, como “Racismo, não!”. Diziam ainda que as vítimas do episódio “não estão sozinhas”.

Os alunos também seguravam cartazes com frases de personalidades negras, como Bob Marley, e contra o racismo. Pais e professores usavam camisetas do coletivo Equipreta, do colégio.

Eles estavam sendo guiados por professores e os pais iam acompanhando a caminhada.

Segundo pais de alunos ouvidos pelo g1, o ato foi organizado pelos próprios estudantes, em apoio aos colegas, por meio de um coletivo negro da escola, o Equipreta.

Eles chegaram ao shopping por volta das 13h40. Em um primeiro momento, seguranças posicionaram-se em frente às portas, impedindo a passagem. O grupo começou a cantar e entoar palavras de ordem, até que a entrada foi liberada.



Os manifestantes entraram e seguiram para a parte central do local. Algumas lojas abaixaram as portas durante o protesto.

Lá dentro, eles se concentraram na parte central do estabelecimento e permaneceram por cerca de 30 minutos. Uma professora que acompanhava o ato discursou contra a atitude racista do shopping.

Manifestantes fazem ato em resposta ao episódio de racismo sofrido por alunos do colégio Equipe no shopping Pátio Higienópolis. – Instagram@colegio_equipesp

Alguns manifestantes também estenderam uma faixa contra desocupações na Favela do Moinho.

Sandra Regina Leite de Campos, de 59 anos, mãe de um aluno do Equipe, contou ao g1 que o próprio filho já havia sofrido racismo no mesmo local, quando tinha 12 anos.

“Ele e o amigo, que também é preto, foram seguidos por um segurança dentro de uma loja. Esse shopping é impermeável a qualquer movimento, porque eles acham que o que estão fazendo está certo. Por isso, a gente tem que ocupar o tempo todo para mostrar para eles que o erro deles é criminoso. Antes de qualquer coisa, o que é feito nesse shopping é crime. Não é um problema de preto, é um problema social”, disse.

Casius Marcelus, de 42 anos, pai de duas estudantes do Equipe, acredita que o ato, ao adentrar o ambiente onde ocorreu o crime, tem como objetivo mostrar aos consumidores o que aconteceu no shopping.

“Foi um ato pensado e desenvolvido pelos alunos. O colégio tem um coletivo preto — o Equipreta. Minhas filhas fazem parte, assim como os alunos que sofreram racismo. Era um coletivo pequeno e ficou enorme, e a gente está vendo essa coisa bonita que está acontecendo aqui, feita pelas crianças, com apoio dos alunos, claro. Elas escolheram estar aqui em apoio aos seus amigos que sofreram racismo. É para todo mundo que está aqui, consumindo e usando o ambiente do shopping, ver que este é um ambiente racista”, afirmou.

O grupo permaneceu no shopping até as 14h30. Durante a saída, a professora e capoeirista Su Helena relatou que, enquanto fazia um discurso, um segurança se aproximou de uma mulher branca e questionou se ela “estava bem”, como se a professora representasse uma ameaça.



“Eu estou com 72 anos, trabalho no colégio e, para mim, isso aqui é muito importante, porque sofri muito preconceito nesta vida — e ainda sofro. No ônibus, com quem me olha com cara feia, como se eu fosse um diabo. Eu estava ali discursando, e o segurança se encostou em uma mulher branca, como se eu fosse fazer alguma coisa contra ela. Eles não têm instrução. Não adianta colocá-lo ali e não dar instrução. Vai abordar só negro? É impressionante. Se for negro, entrou dentro de um shopping, vai ser seguido. Não adianta.”

Ela diz ainda que, apesar de o shopping ser um espaço para todos, os seguranças reagem quando uma pessoa negra — especialmente se estiver vestida de branco — entra no estabelecimento.

Abordagem de segurança contra crianças



A menina e o menino, de 11 e 12 anos, são colegas na mesma escola dela, que fica próxima ao shopping. O grupo tinha ido almoçar antes do início das aulas à tarde.

Na ocasião, a administração do shopping emitiu nota lamentando o ocorrido e pedindo desculpas. Afirmou ainda que estava em contato com a família e que oferece treinamento aos funcionários. (Leia mais abaixo.)

O professor Diego Penã Castellon, que também estava na praça ali na hora, disse ter ouvido parte da conversa.

“Percebo que uma segurança está conversando de maneira séria com algumas alunas minhas, entre elas, uma aluna negra do oitavo ano. Fiquei preocupado, larguei meu almoço e fui lá. Ouvi a segurança falando que não pode pedir dinheiro no shopping. E as alunas argumentavam: ‘mas, moço, ele está chorando. Ninguém pediu dinheiro. O que que está acontecendo?'”

O irmão mais velho de uma das crianças vítimas do racismo contou que ele está abalado por nunca ter vivido uma situação como essa. A família registrou um boletim de ocorrência.

Leni Pires das Mercês, mãe da outra criança negra, afirmou que recebeu a informação por meio da diretoria da escola e que a filha chorou muito.

Esta não é a primeira vez que alguém registra um crime de racismo dentro do Shopping Higienópolis. Em 2022, adolescentes denunciaram um episódio em uma loja de eletrodomésticos no estabelecimento. Na época, jovens gravaram o momento em que estavam sendo seguidos por um segurança.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que serão tomadas medidas cabíveis diante dos fatos.

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