Analfabetismo: Sul e Sudeste têm vantagem histórica, mas o futuro aponta para resultados mais promissores no Nordeste

Estados das regiões mais ricas apresentam melhores taxas de letramento entre adultos, mas estão ficando para trás em relação na alfabetização de crianças

(foto: Freepik/Reprodução)

Num intervalo de 11 dias, duas importantes pesquisas sobre analfabetismo foram divulgadas. Há três semanas, o Censo de 2022 do IBGE revelou o retrato do analfabetismo adulto. Na semana passada, foi a vez de o Inep/MEC publicar estatísticas sobre a qualidade da alfabetização de crianças. Mesmo sendo metodologias e públicos distintos, a comparação entre os dois levantamentos diz muito sobre o passado e o futuro da educação brasileira. O olhar para o retrovisor reflete a vantagem histórica do Sul e Sudeste, mas o futuro aponta para resultados mais promissores no Nordeste.

O IBGE calcula a taxa de alfabetização de adultos perguntando para toda a população acima de 15 anos se sabe ler e escrever um simples bilhete. Como o problema é concentrado nas gerações mais idosas, é um indicador que reflete muito mais o passado do que o presente das políticas educacionais. Dos 100 municípios com melhores indicadores, 85 são do Sul e 15 do Sudeste. O maior destaque é o Rio Grande do Sul, com 56 das 100 melhores cidades. Já o Inep calcula a alfabetização adequada de crianças no 2º ano do fundamental a partir de testes padronizados. O mesmo exercício nas 100 melhores cidades traz quadro bastante distinto, pois são 63 do Nordeste, 17 do Sul, 15 do Sudeste, quatro do Centro Oeste e uma do Norte. O destaque aqui é o Ceará, com 38 cidades, seguido do Piauí (16).

Olhar apenas para o topo do ranking de cidades pode gerar distorções, por serem, em geral, municípios pequenos. Mas o quadro não se altera quando comparamos médias gerais nas 24 unidades da federação onde é possível fazer a comparação em ambos os levantamentos (não há dados para DF, AC e RR na pesquisa do Inep). Na alfabetização adulta, o Ceará figura entre os cinco piores, com 14% de iletrados acima de 15 anos. Quando o foco é na qualidade do letramento infantil, porém, as redes municipais cearenses lideram, com 85% de alunos com alfabetização adequada.

Em contrapartida, São Paulo apresenta apenas 3% de iletrados adultos, sendo a terceira melhor UF nesse quesito. Mas, com apenas 52% de crianças plenamente alfabetizadas no conjunto de suas redes municipais, o estado mais rico da federação fica apenas na 15ª posição no levantamento do Inep. O Rio de Janeiro, que aparece como quarta melhor UF na alfabetização de adultos, fica apenas em 14º no levantamento de crianças plenamente alfabetizadas (52%).

No caso do Rio, os piores resultados estão em redes municipais da Baixada, como Nova Iguaçu (33%), Belford Roxo (35%), São João de Meriti (38%), Mesquita (38%), Queimados (38%) e Japeri (39%). Na capital, o percentual é de 56%. Em São Paulo, a capital puxa para baixo a média estadual, com 38% de crianças plenamente alfabetizadas na rede municipal paulistana, bem atrás, por exemplo, de Fortaleza (74%), Curitiba (70%), Goiânia (67%), Vitória (66%) ou Recife (62%). Outra rica cidade paulista também deixa a desejar: Ribeirão Preto (39%).

Pode-se ponderar que os dados do Inep são apenas das redes municipais e que, em cidades com maior proporção de habitantes na classe média, parte significativa das crianças estão na rede privada. Mesmo assim, era de se esperar que Estados e municípios mais ricos, portanto com maior possibilidade de investimento por criança, não apresentassem em sua rede pública um abismo tão grande em relação a entes federativos com orçamentos mais modestos e de maior passivo histórico educacional.

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