Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco postou, em suas redes sociais, sobre o episódio envolvendo o universitário Igor Melo de Carvalho, de 31 anos. Ele foi baleado na madrugada da última segunda-feira, na Penha, Zona Norte do Rio, após pegar uma moto de aplicativo. A esposa de um policial militar reformado teria reconhecido o condutor do veículo como o homem que roubara seu celular. O militar, então, teria atirado. Uma dos disparos atingiu Igor, que está internado em estado grave no Hospital estadual Getúlio Vargas. Anielle afirma solicitou à sua equipe que oficie o Governo do Estado.

“Estou acompanhando o caso de Igor Melo, jovem negro baleado nas costas no RJ após ser ‘confundido’ como um criminoso por alguém que tentou fazer justiça pelas próprias mãos. Igor está em custódia no hospital, com saúde frágil e sendo privado de ter acesso a sua família. Já solicitei à equipe do @igualracial_gov que oficie o governo de estado do RJ e as autoridades de justiça sobre a situação de Igor. Queremos os nossos jovens negros vivos, em liberdade, não sendo alvos de injustiças e violências raciais”, escreveu Anielle.
De acordo com Pamela Carvalho, comunicadora e prima de Igor, o estudante tem um filho pequeno e trabalha no bar Batuq à noite para complementar a renda da sua família — parentes afirmam que o universitário havia deixado o local e ia para casa quando foi atingido. Pâmela contou que mesmo depois de passar por cirurgias e perder um rim, o primo está sendo mantido sob custódia da polícia no hospital:
— Meu primo perdeu um rim e está com estômago e intestinos ainda bastante afetado. Todo esse caso aconteceu porque uma senhora foi assaltada, e ela, junto ao seu marido, um policial da reserva, resolveram fazer justiça com as próprias mãos. Eles viram o meu primo, que no horário do assalto estava trabalhando, um homem negro em cima de uma moto, e acharam que meu primo poderiam ter algum envolvimento com o assalto. O Igor sequer tem passagem pela policia, mas está sendo tratado como um criminoso.
Esposa de Igor, Marina Moura teve acesso ao celular do marido que mostra a corrida de moto solicitada por aplicativo.
— As filmagens de câmeras de segurança da rua do trabalho dele também mostram quando ele sobe na moto. O que sabemos até agora é que o motorista teria feito assaltos antes e uma mulher, que teria sido roubada por esse homem, era casada com um policial, que foi atrás dele. Quando o encontrou e atirou, o Igor já estava na garupa. Depois que eles foram baleados, ela só reconheceu o homem acusado de ser o assaltante. O meu marido, não — diz Marina.
CDDHC acompanha
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa (Alerj) também acompanha o caso de Igor. A Comissão já presta atendimento à esposa de Igor e afirma que tomará providências para garantir que o caso seja investigado com transparência e justiça.
A deputada estadual Dani Monteiro, titular da CDDHC, disse que “repudia com veemência mais um episódio de violência policial desmedida e racismo estrutural”, que coloca em risco a vida de jovens negros nos subúrbios do Rio:
“É uma vergonha que um trabalhador negro, voltando para casa, seja brutalmente atacado com um tiro nas costas por quem deveria proteger a população. Esse caso escancara o racismo que permeia nossas instituições e demonstra o despreparo de agentes que fazem da cor da pele um critério de suspeição e execução. Quantas vezes mais vamos ter episódios de atirar primeiro e perguntar depois?”.
Caso foi encaminhado para Corregedoria da PM
A Polícia Militar informou que o PM da reserva foi à 22ª DP (Penha) e se apresentou como autor dos disparos contra a moto na qual Igor estava. De acordo com a corporação, o caso foi encaminhado para a Corregedoria Geral. A nota da PM na íntegra:
“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Polícia Militar informa que, de acordo com o comando do 16º BPM (Olaria), policiais militares foram à Avenida Lobo Júnior, na Penha, para verificar uma ocorrência de invasão a domicílio. No local, os agentes foram informados que dois homens, que trafegavam em uma motocicleta, foram alvo de disparos de arma de fogo provenientes de um veículo desconhecido. Um deles se feriu e foi socorrido por populares ao Hospital Estadual Getúlio Vargas. O condutor da motocicleta foi encaminhado a delegacia para esclarecer os fatos.
O caso foi registrado na 22ª DP, onde um policial militar da reserva se apresentou como autor dos disparos. Sua esposa teria reconhecido o condutor da moto como um dos responsáveis pelo roubo de seu aparelho celular. Um dos homens foi preso, enquanto o ferido permaneceu sob custódia no referido hospital.
A Corporação colabora integralmente com o trabalho de investigação da Polícia Civil e o caso foi encaminhado à Corregedoria da Geral da Polícia Militar”.