As presidenciáveis e seus problemas: deixa o trem arder

(Foto: João Godinho)

Por Fátima Oliveira

As disponíveis na praça são todas mulheres difíceis

O título é inspirado num livro que li em meu tempo de Colégio Colinense: “A Moça e seus Problemas” (Haroldo Shryock). Era leitura compulsória para “as meninas da Casa do Estudante”. Datado de 1954, é uma lavagem cerebral contra os prazeres do parque de diversão que é o nosso corpo. Odiei. Desde sempre, curto estados de paixão, ao contrário das moças de fino trato. Pula!

As presidenciáveis da praça são, todas, mulheres difíceis – que mandam em suas vidas. Gosto! “Pero”, estou de tocaia. Matutando. Há homens amigos das mulheres e mulheres inimigas das mulheres. É assuntar. Deixei de votar em quem criminaliza o aborto e em quem fica em cima do muro, tucanamente, como Lula, em quem sempre votei. Nada mais plumagem de tucano do que Lula no tema aborto. Dá uma no cravo e outra na ferradura. Enchi, mas é o melhor governo da República. Fecha!

Já disse: “Outros temas polêmicos para uns e malditos para outros, que considero relevantes para o debate eleitoral, são: questões pertinentes à plena cidadania de gays, lésbicas e travestis; políticas de ação afirmativa e nelas, as cotas étnicas; e a legalização do aborto, inserida numa perspectiva de justiça social e de ampliação da democracia num Estado laico”. (Contra a vida das mulheres, 4.9.2006). Vou por aí. Valorizo muito meu voto.

E os problemas das presidenciáveis? Todas no fundo do poço da falta de carisma (“dom da graça”). Nenhuma dotada de soft power, o mesmo que chamávamos de élan: aquele apelo de algo mais que enternece e convence as massas – que Lula e Obama têm de sobra. O ar de vestal não basta. Rapapé de Maria Bonita também não. E a honradez, embora indispensável, sozinha não carreia votos.

Heloísa Helena? Ignoro. Não gasto latim com quem desde sempre é contra as mulheres. Marina Silva? Desabrocha como a salvação da lavoura. Erro crasso. Vamos dar a Marina o que é de Marina. Ambientalista reconhecida; senadora mediana; ministra de conveniência (para o governo) e tão-somente inodora na queda de braço dos transgênicos. Deveria ter deixado o governo naquele momento. Por que ficou?

Para uma amiga comum, vê-la apenas criacionista e fundamentalista é pouco para quem “no ministério criou uma sala de oração (será?! Incredulidade minha). Mais um exemplo de misturar o público com o privado. Vai pegar na onda do Obama”. O mérito dela é ter sacudido o debate eleitoral, não pela esperada religiosidade ambientalista, e sim por ter assumido, enfim, que é negra! Obama explica. É o “se colar, colou”.

Dilma Rousseff? Ungida por Lula, em seu estilo arisco a la Maria Moura, agora amaciado pela doença (não há mal que não traga um bem!), cultiva o abominável hábito de “A” tesoura do mundo (apostila da Socila faz falta!), vem embalada no nacionalismo do pré-sal, na proa do discurso desenvolvimentista com os paetês do bem-estar social (Bolsa Família, que defendo) e uma tintura ecológica de último segundo (no horizonte um PAC ambiental – não há mal que não traga um bem!). Nada perto do “Pensar global e agir local”. Um mérito: não escorrega na defesa dos direitos das mulheres.

Minha maior dificuldade com ela: a postura imperial no episódio ministra Matilde Ribeiro. Num tribunal, igual à Santa Inquisição, crucificou a negra! Porém convive, sem dar um pio, com célebres correligionários sabidamente sociopatas e não ousou abater nenhum em voo. Qual é a dela? E haja PAC para sanear o mangue de mágoas. Deixa o trem arder… Quem sabe das cinzas emergirá uma fênix! Aguardo a fênix.

Matéria original

-+=
Sair da versão mobile