Autoritarismo verde e amarelo

KEINY ANDRADE/LATINCONTENT/GETTY IMAGES)

“Sobre o autoritarismo brasileiro” é um livro de Lilia Schwarcz a respeito da história de nosso país, bem como de alguns maus odores que persistem no ar que respiramos. Antropóloga, professora titular da Universidade de São Paulo, e visitante na Universidade Princeton, nos EUA, Schwarcz mostra nesse volume – publicado em 2019 – como práticas e ideias que remontam à formação brasileira mantêm-se grudadas aos dias de hoje: racismo, mandonismo, patrimonialismo, corrupção, desigualdade social, violência, intolerância.

Por FERNANDO BANDINI, do Jornal de Jundiaí 

 

KEINY ANDRADE/LATINCONTENT/GETTY IMAGES)

Com o conhecimento de quem escreveu, juntamente com Heloísa Starling, “Brasil, uma biografia” – catatau acerca de nossa história – e para o qual pesquisou vasta bibliografia, a professora Lilia discorre de maneira didática, em texto claro e acessível, a respeito de um país que insiste em negar a dignidade a tantos de seus cidadãos, e para o qual persiste o mito de uma “democracia racial”, lugar paradisíaco, de gente cordata e avessa a conflitos.

Um território gigante para o qual veio quase a metade dos africanos escravizados roubados de seu continente, um país dominado por castas intransigentes para as quais o Estado só existe para legitimar seu poder e seu arbítrio. E no qual sobrevivem narrativas de um “passado edênico”, de uma “escravidão menos cruel”, de ditaduras “menos agressivas porque necessárias”. Uau! Nada como fantasiar a respeito do sofrimento do outro.

Alicerçado em fatos, pesquisas e números, o trabalho de Schwarcz mostra como a contemporaneidade brasileira passa longe da cantilena de tranquilidade e harmonia. Mostra também como o mais longo e contínuo período democrático – os últimos 30 anos – corre riscos com os discursos e práticas de ódio e intolerância que atormentam nosso dia a dia. Em meio a ceticismo generalizado, agravado por tantos escândalos de corrupção e de crimes, cresce o risco de aceitação de “salvadores da pátria” – à esquerda e à direita – de gente rasteira, autoritária e populista.

A autora debruça-se sobre o presente, trata das manifestações de 2013 e de fatos e personagens recentes, do governo que caiu, do que o sucedeu e do atual. O capítulo “Intolerância”, bem como o que fecha o volume, sintetizam nosso momento. Trechos para reler, comentar e discutir. “O Brasil tem um enorme passado pela frente”, como definiu Millôr Fernandes: usada como epígrafe num capítulo do livro, a sentença é certeira.

FERNANDO BANDINI é professor de Literatura do Ensino Médio.

-+=
Sair da versão mobile