“Avisem que estamos chegando”: a história do escravizado que fundou uma escola no Rio de Janeiro

FONTEPor Alexandra Lima da Silva, enviada para o Portal Geledés
(Foto: Imagem enviada por Alexandra Lima da Silva ao Portal Geledés)

Fragmentos. A luta da população negra por educação no Brasil é reconstituída a partir de recortes e rastros. Foi por meio de uma pequena notícia no jornal, intitulada “Escola fundada por escravo faz 100 anos” que fiquei sabendo da existência de Zózimo, escravizado que fundou uma escola para escravizados e libertos no Rio de Janeiro oitocentista. Acredito que o papel da pesquisa histórica seja também, dar visibilidade a sujeitos que não são lembrados nos livros dedicados à memória nacional. Enquanto em países como os Estados Unidos, é possível acessar diferentes materiais para saber mais sobre a luta da população negra pela educação, como pode ser visto no documentário Avisem que estamos chegando, por aqui, ainda há muito o que pesquisa e divulgar sobre essas tantas “figuras negras ocultas” e silenciadas.

Conhecido como “Zé índio”, Zózimo morava num casebre construído num terreno onde hoje fica a PUC/Rio (Pontifícia Universidade Católica). Ainda de acordo com a nota no jornal, Zózimo se alfabetizou rapidamente e “conheceu as letras, observou o amor à cultura e ao trabalho”.

Letrado, Zózimo acompanhou a família de Pedro Pereira da Silva em viagem à Europa e no retorno, sentiu que deveria fazer algo para melhorar a vida do povo e transmitir o conhecimento conquistado por ele.

Acreditava Zózimo que a educação era um fator mobilidade social?

“Ainda de acordo com a notícia publicada no Jornal Correio da Manhã datado de 1971, é possível saber que “A Escola Zé Índio nasceu em 1871, num alpendre na Rua Marquês de São Vicente, na esquina do Beco do Buraco” e que “os primeiros alunos eram filhos de escravos libertados mediante pagamento de meia pataca”.

Com o falecimento de Zé Índio, foi criada a Escola da Cartilha de Matemática para o Liberto, “que em 1885 foi entregue à Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Gávea, só para meninos” (Correio da Manhã, 26/08/1917, p.4). Ainda no século XIX, a escola foi apadrinhada por D. Pedro II, recebendo o título de Escola do Imperador (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, 2005, p.45). Atualmente, a antiga escola fundada por Zózimo recebe o nome de Escola Municipal Luiz Delfino e integra a rede municipal do Rio de Janeiro, no bairro da Gávea.

(Foto: Imagem enviada por Alexandra Lima da Silva ao Portal Geledés)

Referências
Jornal Correio da Manhã, 26/08/1917, p.4
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Escolas do Imperador. Rio de
Janeiro, 2005.
Avisem que estamos chegando. Documentário. Stanley Nelson, 2017.
Site da imagem:http://www0.rio.rj.gov.br/sme/crep/escolas/escolas_imperador/escimp_fregnsconcgavea.htm


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