Bela Gil fala sobre bullying e diz como é ter crescido tímida em família de artistas: “Queria ser a Preta”

Aos 27 anos, um programa inovador de culinária e um livro bestseller de receitas, Bela Gil diz não temer as críticas e conta como venceu o fardo de ser a “garota certinha” numa família fora dos padrões

Com apenas 27 anos, um programa inovador de culinária natural e um livro de receitas, Bela Gil se tornou guru do estilo de vida saudável e virou bestseller. Também sofreu bullying por dar dicas improváveis, como churrasco de melancia e pó de cúrcuma para substituir a pasta de dente.

Sétima filha de Gilberto Gil, diz que, se o ativismo do pai é na música, o dela é na comida – e é assim que pretende “mudar o mundo”. Determinada como a mãe, a empresária Flora Gil, venceu a timidez e o fardo de ter sido a “garota certinha” em uma família fora dos padrões.

“Por ter pessoas com personalidades poderosas próximas a mim, a tendência era me fechar. Não me impunha, era tímida, insegura e me sentia desconfortável em ambientes estranhos”, conta em entrevista à Marie Claire.

“Nos almoços de família, a Preta era a mais engraçada e fazia todos rirem. Ficava olhando aquele jeito expansivo dela e pensava: ‘Queria tanto ser assim…’. Mas, no fundo, sabia que jamais seria aquela explosão toda. Não é da minha natureza.”

Foi por meio da irmã cantora que Bela conheceu o marido, João Paulo Demasi, 35, gerente de um estúdio de design e seu primeiro namorado, com quem está há 12 anos. “Nos conhecemos na época em que ele teve um caso com a Preta. Um tempo depois, terminaram e o reencontrei no Carnaval. Fiquei apaixonada…”, revela.

“Passei um tempão sofrendo de paixão platônica. Pensava: ‘Ele namorou minha irmã, é oito anos mais velho e deve me achar uma pirralha. Não tem a menor chance de rolar…’ Até que um dia resolvi parar de sofre e tomei uma atitude. No meio de uma conversa em uma festa, dei um beijo nele. Começamos a namorar logo depois. A Preta detestou! Mas aí fui conversando com ela e o mal-estar passou.”

A íntegra da entrevista com Bela Gil está na edição de outubro da Marie Claire, que chega às bancas nesta segunda (28).

MARIE CLAIRE – Em suas receitas não entram açúcar, laticínios, farináceos e produtos industrializados. Não acha muito radical?


BELA GIL –
Não. Na minha culinária pode tudo, mas são versões naturais de tudo. Posso usar um queijo maravilhoso nas minhas receitas, tipo o da Serra da Canastra, que não é feito com leite de caixinha. No lugar do açúcar, prefiro o melado de cana, que é um adoçante natural. Até carne vermelha faço eventualmente. Mas antes investigo bem a procedência. A carne tem que ter vindo de um boi criado solto no pasto, comendo capim. Minha culinária não pode ser chamada de vegetariana, nem de macrobiótica. Ela não se encaixa em rótulo algum.

MC – Já deu um nome próprio a ela?
BG –
Não gosto de dizer que é só culinária natural. Penso nos restaurantes com essa classificação e vejo que não têm nada a ver com o que faço. Neles, os pratos são à base de soja processada, o aspecto da comida não enche os olhos e não são lugares legais, daqueles para levar o namorado em um jantar romântico. Aliás, nem abrem à noite, geralmente só no almoço. Pode chamar o que faço de “culinária natural da Bela Gil”. Até porque as pessoas estão usando meu nome como adjetivo, tipo “essa receita é tão Bela Gil” [risos].

MC – Mas você também é criticada. Consideram suas receitas difí ceis e até zombam de certas dicas, como o churrasco de melancia…

BG – Essas opiniões vêm dos haters das redes sociais e não me assustam. O que me afeta é ver que as pessoas não estão abertas para nada e se acham donas da verdade. Dizem: “Eca! Agora ela pegou pesado!”. Nunca mandei fazerem nada. Simplesmente dou alternativas para quem procura um estilo de vida mais saudável. Antes de xingarem, gostaria que ao menos  experimentassem minhas receitas. Já colocou a melancia na churrasqueira para grelhar e ver se é gostoso? Escovou os dentes com cúrcuma? Eles ficaram amarelados? Criticar só por criticar é hipocrisia.

MC – Os dentistas ficaram indignados com a dica da cúrcuma…

BG – Sim. Ouvi coisas do tipo: “Como ela pode dizer isso, se nem dentista é?”. Mas a maioria nunca tinha nem ouvido falar em cúrcuma. Foi mais um show de opiniões rasas. Por outro lado, vários profissionais da área me mandaram mensagens positivas.

Não me sinto presa a dar opiniões só sobre cozinha. Continuarei a falar sobre modos de escovar os dentes ou sobre um desodorante natural feito com água, leite de magnésia, lavanda e alecrim. Não é óbvio que essas alternativas geram um impacto muito menor ao meio ambiente que um creme dental ou um desodorante de farmácia? Compartilho experiências pessoais que podem deixar o mundo um lugar melhor.

MC – Gente engajada nesse lifestyle saudável a considera uma guru. Não é muita responsabilidade para alguém tão jovem?
BG –
Não, só vejo aspectos positivos. Fico feliz e não quero negar essa posição. Se cada vez mais pessoas quiserem ouvir o que tenho a dizer e me seguirem, será um pouco do meu objetivo de vida alcançado. Meu foco não é só cuidar de mim e de minha família. Quero ser uma inspiração! Alguns fazem política, arte, trabalho voluntário… Meu ativismo é na comida.

MC – Então será uma mudança que começará nas classes mais altas, porque os produtos naturais, em sua maioria, são mais caros.
BG –
Há motivos para que produtos como a farinha de coco, o melado de cana ou o arroz integral custem mais caro que suas versões convencionais e industrializadas. Consome-se menos, fabrica-se menos. De largada, já é menos lucrativo para o agricultor plantar verduras, legumes e frutas do que soja, milho e trigo.

Esses três grãos são comprados às toneladas pela indústria alimentícia, que os usa como base para fazer biscoitos recheados, salgadinhos e docinhos artificiais… Então, os fabricantes ganham mais dinheiro e fazem mais publicidade.

Nunca vi um comercial de maçã, de vegetais ou de qualquer alimento natural na televisão. Fica mais barato colocar uma bolacha na merenda do filho do que uma batata-doce, que é uma excelente opção de lanche. A criança come uma vez, é gostoso, viciante e a publicidade martela na cabeça. É um ciclo difícil de ser interrompido.

MC – As crianças adoram essas guloseimas artificiais. Como você convence sua filha a não comê-las?
BG –
Amamentei a Flor até os 2 anos e ela foi vegana até os 3, enquanto morávamos em Nova York. Quando voltamos a viver no Brasil, no primeiro churrasco com os tios, minha filha pegou uma costelinha de porco do prato de alguém e comeu inteira! Daí percebi que não era justo restringir tanto. Procuro respeitar sua individualidade, mas temos nossas regras.

Nas festas de
aniversário dos amiguinhos, por exemplo, a Flor tem autorização para comer um pedaço de bolo ou dois brigadeiros. Às vezes insiste, pede mais um e eu deixo. Mas sabe que não pode ir muito além disso ou passará mal. Algumas mães me julgam, dizem: “Coitadinha dessa menina!”. Mas toda criança segue regras em sua educação. Há mães que não deixam o filho dormir depois das 20h30 e ponto-final. Conosco não é diferente. Isso é estabelecer limites.

MC – Você também era assim obediente na idade da Flor?
BG –
Fui uma criança difícil. Minha mãe conta que eu era irritada, chorona e tinha dificuldade para dormir. Na adolescência não dei trabalho. Não gostava de boate e achava os jovens da minha idade uns chatos.

Meu negócio era ficar em casa vendo filmes e lendo livros. Aos 14, fazia ioga e meditação. Meus pais me matricularam em um colégio de “patricinhas” e lá me sentia um peixe fora d’água. As meninas competiam para ver quem tinha a mochila mais cara
e o tênis mais irado.

Enquanto eu não estava nem aí… Passava meses usando uns sapatos velhos da minha mãe, porque eram confortáveis. Meus pais voltavam das viagens e das turnês com roupas e presentes legais, mas nunca era um pedido meu. Amadureci cedo e sempre fui certinha demais.

MC – Sendo certinha, foi difícil crescer em uma família de artistas?
BG –
Claro! Por ter pessoas com per sonalidades poderosas próximas a mim, a tendência era me fechar. Não me impunha, era tímida, insegura e me sentia desconfortável em ambientes estranhos. Só fui dormir na casa de uma amiguinha pela primeira vez aos 11.

Começar em uma escola nova era angustiante, uma pressão enorme para mim. Nos almoços de família, a Preta era a mais engraçada e fazia todos rirem. Ficava olhando aquele jeito expansivo dela e pensava: “Queria tanto ser assim…”. Mas, no fundo, sabia que jamais seria aquela explosão toda. Não é da minha natureza.

MC – Você está com seu marido há 12 anos. Conheceram-se jovens e…
BG –
O João foi meu primeiro namorado, eu tinha 15 anos. Nos conhecemos na época em que ele teve um caso com a Preta. Um tempo depois, terminaram e o reencontrei no Carnaval. Fiquei apaixonada… Ele era da turma do Caetano Veloso, nos encontrávamos sempre na casa dele, nas festas e no trio elétrico. Passei um tempão sofrendo de paixão platônica.

Pensava: “Ele namorou minha irmã, é oito anos mais velho e deve me achar uma pirralha. Não tem a menor chance de rolar…”. Até que um dia resolvi parar de sofrer e tomei uma atitude. No meio de uma conversa em uma festa, dei um beijo nele. Começamos a namorar logo depois. A Preta detestou! Mas aí fui conversando com ela e o mal-estar passou.

[Neste momento, o marido de Bela ouvia a entrevista na sala ao lado. Incomodou-se e interrompeu a conversa. “Você vai contar nossa história inteira para essa jornalista que acabou de conhecer? Não gosto disso. É tão íntimo, é tão deep…” Ela concordou e pediu para não falar mais do assunto.]

MC – Você é bem resolvida em relação à sua aparência? Sente-se uma mulher sedutora?
BG –
Gosto de quem sou, me sinto bonita e feliz com o que vejo no espelho. Tenho um nariz pontudo e fininho, enquanto as sobrancelhas, a boca e os dentes são grades, marcantes e me deixam expressiva. Tenho um sorrisão largo que é a minha marca.

Meu corpo é do tipo “violão”. A cintura é fininha e quase não tenho barriga. Mas tenho esse quadril grande que me incomoda um pouco… Aprendi a escolher roupas que me favorecem e acho que isso é a coisa
mais legal que a moda nos proporciona: obter o melhor de nós.

MC – É consumista?
BG –
Nem um pouco! O short com que faço ioga é o mesmo há dez anos, está até com o elástico frouxo [risos]… No meu guarda-roupa, tenho quatro calças jeans, cinco camisetas… Não tenho joias. Por causa do programa, recuperei um lado brejeiro que tive na adolescência e voltei a usar vestidos e saias coloridas. Tenho duas bolsas de grife que ganhei da minha mãe: uma Miu Miu e outra Louis Vuitton. Só tenho porque foram presentes, pois jamais pagaria R$ 15 mil em uma bolsa. Quer dizer… Quem sabe eu mude e passe a gostar desses caprichos? Não sou tão radical assim…

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